sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sistemas de Participação social no Conexões Globais 2.0. dia 28/01

"""No primeiro painel do evento, que aconteceu nesta quinta-feira (26) das 14 às 16 horas, os participantes discutiram a importância da criação de "Sistemas de Participação" social. Franco Bartolacci, professor de Ciência Política da Universidad Nacional de Rosario, na Argentina, afirmou que a democracia é algo em construção permanente e que a iniciativa de abertura de canais de diálogo deve partir tanto dos governos quanto da população. "A democracia é um território de conquista que exige uma cidadania informada, uma cidadania ativa". Para o Bartolacci, a criação de mecanismos de participação "é um processo do Estado, que deve abrir portas, mas é também um processo da sociedade civil, que deve tomá-lo como seu". """ ver link completo #fstematico

Franco Bartolacci também afirma que a política tem que mudar mas o que mais custa a mudar é a política. é preciso ainda pensar os movimentos, os tipos de movimento, maneiras de pensar diferenças, articulação entre agendas das pessoas, grupos, populações e governo.
Democracia exige outro tipo de compromisso como observa o texto do site do #FST2012: cidadania informada e ativa. Participação na deliberação, na decisão e no controle faz o povo governar. Bartolacci questiona: como construir a polis contemporânea??

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Da Primavera Árabe à internet na construção da Democracia 2.0: Antônio Martins

Da Primavera Árabe à internet na construção da Democracia 2.0 no Conexões Globais 2.0, no dia 25 de janeiro, na Casa de Cultura Mário Quintana parte do Fórum Social Temático

Antônio Martins, jornalista por um mundo pós-jornais. Ativista por uma democracia que torne a representação supérflua. Criador do Le Monde Diplomatique Brasil e do Outras Palavras. Antônio Martins explica que um pós-jornalista oferece elementos para a atransformação da realidade. Aponta sinais de miséria da democracia, de sua descontrução, delineada pela destruição do Estado do Bem Estar Social sem o menor debate com a sociedade. Diz que este é um período ruim para a cidadania. Mas Antônio Martins lista uma série de projetos coletivos que excluem mediações, intermediações. Neste contexto, aparecem indícios para construção renovada da democracia.
Antônio Martins recusa a idéia de representação no exercício da democracia, política não se faz de dois em dois anos mediante representação, política é ação concreta! Levanta que pontos de atrito, pontos de contato devem ser compreendidos para solução de problemas, por exemplo, como incidir no Estado?
Novas relações, novas relações com a natureza, reformas que passem por mobilizações, que as decisões sobre assuntos públicos sejam ampliadas à maneira de plebiscitos.
Neste ponto Marcelo Branco, mediador desta mesa, intervém: “As desintermediações chegaram a política, fruto da revolução digital”. Levanta a questão de delinear uma agenda da desintermediação e os mecanismos da pós-revolta.


A internet como direito humano no Conexões Globais 2.0, 25 de janeiro

A internet como direito humano no Conexões Globais 2.0, no dia 22 de janeiro, na Casa de Cultura Mário Quintana parte do Fórum Social Temático.
Webconferencista:Javier de la Cueva -advogado espanhol, especialista em direitos digitais.
Debatedores: Maria do Rosário -Professora, ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Rogério Santanna - Engenheiro Mecânico especialista em Gerência em Engenharia de Software. Foi Secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão e presidente da Telebrás. Giuseppe Cocco – professor de UFRJ. Cientista político, participa da Rede Universidade Nômade.

Javier de la Cueva coloca que toda internet é propriedade intelectual coletiva, Constrói sua argumentação com base no desenvolvimento do direito à liberdade: Direito à liberdade de expressão e de informação; o direito à igualdade. A validade liberdade de consciência se afirma na partilha das idéias e esta “comunicação” só pode ser exercida num contexto de liberdade e de segurança jurídica. Javier em outros textos já colocava que “os direitos humanos constituem um domínio negado ao poder, uma área em que a política não entra porque os direitos são invioláveis, inalienáveis e e indisponíveis”. Ressalta no quadro das tecnologias da informação e da comunicação a oportunidade, a necessidade e o exercício da influência, da partilha e cooperação pra o logro de objetivos comuns.
Uma das questões que Javier de la Cueva  levanta entretanto é que grande parte dos ativismos digitais se localizam em plataformas privatistas vinculadas aos Estados Unidos.
Giuseppe Cocco afirma que os direitos não devem ser pensados como concessão mas como produção e ainda para além da oposição entre o privado e o público. Será uma esfera que ainda teremos que criar. Segundo Giuseppe Cocco a atual crise é uma crise de direitos.
Rogério Santanna destaca sobre a dedicação dos oligopólios a captura das política públicas, afirmando a despeito do público seus próprios interesses. Aponta elementos de contradição entre forças políticas e interesses dentro dos governos.
Maria do Rosário além de discutir os direitos nas redes e a postura de abertura ao direito de informação sobre o governo, segundo ela não há mais governo privado, que tem que prestar contas sobre suas ações. Ressaltando os ativismos nas redes diz que desmentem a morte dos movimentos sociais.
Provocada sobre os eventos relativos ao despejo dos moradores do assentamento #Pinheirinho em São José dos Campos dia 22 de janeiro Maria do Rosário manifestou sua indignação pelo absurdo da situação, pois, haviam soluções pactuadas entre os envolvidos pelo Ministério das Cidades que foram rompidos pela justiça do estado de São Paulo. Para ela o evento do dia 22 é uma vergonha num país que é uma grande economia, onde se devem buscar soluções que assegurem os direitos humanos. Maria de Rosário diz que rejeita a solução violenta utilizada, protesta contra as bombas de gás, contra as balas de borracha, contra a demolição das casas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Da Primavera Árabe à internet na construção da Democracia 2.0: comentário a fala de Gilberto Gil

Da Primavera Árabe à internet na construção da Democracia 2.0

Olga Rodriguez, jornalista especializada em Oriente Médio e escritora, é a webconferencista no Diálogo do dia 25 de janeiro no Conexões Globais 2.0 que acontece no Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre. A mesa denominada: "Da Primavera Árabe à Internet na Construção da Democracia 2.0", tem como debatedores o compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, o jornalista Antônio Martins e Vinicius Wu, coodenador do Gabinete Digital do Governo do Rio Grande do Sul.

Olga Rodrigues relata fatos e dados sobre a Primavera Árabe #Tahir #25Jan. Sobretudo como foi possível uma revolução num país cujo rendimento de um médico é de 100 dólares por mês, onde apenas 20% da população tem internet e um percentual expressivo da população sequer sabe ler

Gilberto Gil, músico e ministro da Cultura na gestão do Presidente Lula, coloca que a Primavera Árabe não é mais árabe, pois concomitantemente, tem componentes dos mundos árabes e ocidental.

Gilberto Gil explora campos comuns de mobilidade entre esses dois mundos e além disso, o deslocamento do horizonte utópico, com a formação de campos “próprios” com gente que escolhe seu lado. Gil propõe o termo futurível: futuros possíveis que abranjam a política, a economia, a gestão, a planificação.

Gilberto Gil certamente recorre ao significado da palavra possível – aquilo que pode ser, existir, acontecer; aquilo que é praticável; verossímil, provável. Neste sentido remetendo ao desgaste da palavra utopia no Século XX, coloca o horizonte do pós utópico e do proto utópico (uma nova utopia, novinha). Gil relaciona esta defasagem, essa passagem ao termo clarão, clareira heideggeriano.

[Clareira aquilo que se dá como o livre. Numa floresta a luz penetra onde o espaço encontra-se de antemão liberado pela clareira. Do mesmo modo, o homem projeta-se e se abre para os fatos do mundo.]

[Verbete Utopia em Nicola Abbagnano (Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins fontes, 1998) diz que “utopia representa a correção ou a integração ideal de uma situação política, social ou religiosa existente. Como muitas vezes aconteceu, essa correção pode ficar no estágio de simples aspiração ou sonho genérico, resolvendo-se numa espécie de evasão da realidade vivida”. No entanto Gil tem razão sobre o desgaste do termo utopia Sobretudo na literatura e na arte, contata-se a recorrente emergência do “pós-utópico”, em que o futuro perde sua ‘posição’ de ‘terra prometida’, que pode gerar o mundo perfeito, o melhor dos mundos.]

Assim Gil reitera: a Primavera Árabe não é só árabe como o parlamento americano não é mais tão ocidental quanto se pressupunha (sobretudo com os episódios que protagoniza neste novo milênio).

Por outro lado na construção da democracia pela internet, Gil adverte, não se deve esperar apenas escadas, mas também subidas íngremes, não apenas trilhos (geometricamente e seguramente paralelos) mas também trilhas tortuosas...
#ConexoesGlobais

Diálogos Globais no Conexões Globais 2.0 - programação dia 25/01


16h - Diálogos Globais

A ideia do Conexões Globais 2.0 é transformar o vão central da Casa de Cultura Mário Quintana num verdadeiro palco de Diálogos Globais. Essa espaço - multimídia e multifuncional  - conectará o público via webconferência com ativistas que participaram das grandes mobilizações que questionaram os limites da democracia e chacoalharam o mundo em 2011.

16h às 17h15 – A internet como direito humano

Webconferencista: Javier de la Cueva - advogado espanhol, especialista em direitos digitais.  

Debatedores:
Maria do Rosário - Professora, deputada federal e atualmente ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República - @_mariadorosario
Rogério Santanna  - Engenheiro Mecânico especialista em Gerência em Engenharia de Software, Gestão Empresarial pela UFRGS e em Marketing pela FGV. Foi diretor presidente da Procempa, Secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão e presidente da Telebrás. @santannarogerio
Giuseppe Cocco – professor de UFRJ. Cientista político, participa da Rede Universidade Nômade. Escreveu, com Antonio Negri, GlobAL: Biopoder e Luta em uma América Latina Globalizada e MundoBraz: o devir Brasil do mundo e o devir-mundo do Brasil.

18h15 - Diálogo Global

18h15 às 19h30 – Da Primavera Árabe à Internet na Construção da Democracia 2.0


2011 ficou marcado pelas mobilizações por maior participação. Foi o ano dos manifestantes e indignados 2.0. Nos países árabes, a população se insurgiu e as ditaduras começaram a ruir. A onda se espalhou por todo mundo: milhões de pessoas foram às ruas questionar os limites da democracia representativa. Como estas experiências podem influenciar na construção de uma nova democracia tendo a internet como plataforma de apoio? #globalrevolution #gabinetedigital #primaveraarabe #globalchange
Webconferencista: Olga Rodriguez@olgarodriguezfr
Jornalista especializada em Oriente Médio e escritora. Colabora com o jornal Publico e com o jornal online Periodismo Humano. Atualmente finaliza um livro sobre as revoltas árabes, que será lançado em maio, com o título “Yo muero hoy” [Eu morro hoje] (Debate). É autora dos livros “El hombre mojado no teme la lluvia: Voces de Oriente Medio” (Debate, 2009), “Aquí Bagdad” (2004) e do livro coletivo “José Couso, la mirada incómoda” (2004). Trabalhou no Afeganistão, Egito, Iraque,  Israel, Territórios Ocupados Palestinos, Jordânia, Kosovo, Líbano, México, Siria, Iêmen e Estados Unidos, entre outros países. Durante dez anos trabalhou na cadeia SER, Cuatro e CNN+.
Debatedores:
Gilberto Gil -
Músico, compositor. Ex-ministro da Cultura do Brasil. @gilbertogil
Antônio Martins - Jornalista por um mundo pós-jornais. Ativista por uma democracia que torne a representação supérflua. Criador do Le Monde Diplomatique Brasil e do Outras Palavras - @antoniomartins
Vinicius Wu - Secretário Chefe de Gabinete do Governador e Coordenador Geral do Gabinete Digital do Governo do Rio Grande do Sul - @vinicius_wu

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Tecedora: Castells debate os dilemas da internet

Tecedora: Castells debate os dilemas da internet

Do Outras Palavras tbm:

Entrevista concedida pelo sociólogo Manuel Castells ao programa
Europa Abierta, da rádio e TV pública espanhola, uma entrevista de enorme importância para o debate destes temas.

"Está surgindo uma era de “autocomunicação de massas”: Em suas análises anteriores, e nas de outros autores, já se falava numa “era de comunicação compartilhada”, que substituiria, a “comunicação de massas”. Castells acrescenta, agora, um outro dado. Além de dispensar o conteúdo dos grandes meios, estabelecendo trocas conteúdos em pequenos grupos, os cidadãos estão se tornando capazes de falar às massas. As redes sociais permitem multiplicar mesmos mensagens transmitidas por pequenos grupos, quando estes são capazes de sensibilizar as sociedades. É o que ocorreu, por exemplo, nas revoluções tunisiana e egípcia."

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Planeta Dívida

Planeta Dívida
de Bruno Cava

A dívida que nos devora


Na última década, a dívida dos estados mais que dobrou. Foi de 18 trilhões, em 2001, para 45 trilhões de dólares, em 2011. Os países desenvolvidos são os mais endividados: devem mais de 150% do PIB. Fala-se em “dívida soberana” do país, mas hoje vários estados europeus foram subjugados exatamente por causa dela. A chantagem da dívida submete os governos e, em tempos de crise global, desmascara a farsa democrática. Fica exposto quem verdadeiramente comanda a máquina representativa, triplamente mistificada por estado, partidos e grande imprensa — um único saco de farinha. A ponto de, na Itália, os plutocratas resolverem assumir o governo eles mesmos, na figura de Mário Monti. O financista insider é o novo primeiro-ministro. Jamais um golpe de banqueiros e rentistas (mercados…) tomou um governo de modo tão escancarado. It´s business, stupid! Nos países emergentes, é verdade que a dívida pública relativa ao PIB caiu sensivelmente, de 49% para 45%, no mesmo período. O que se deve, em boa parte, ao crescimento do PIB desses países, e não à redução do débito bruto. A dívida interna brasileira, por exemplo, pela primeira vez ultrapassou 1,0 trilhão de dólares, em 2011, cerca de 40% de seu PIB ascendente.


Além dos gigantescos débitos públicos, também vem se disseminando o endividamento privado. No hemisfério norte, contingentes inteiros da população devem na forma de faturas de cartão de crédito, financiamentos, hipotecas e bolsas de estudo. Nos EUA e Canadá, a dívida doméstica excedeu 100% da massa de renda. Isto significa que o cidadão deve mais do que ganha. Em alguns países europeus, a relação passa dos 150%.

No Brasil, segundo o IPEA, o endividamento doméstico é menor. Porque antes simplesmente não havia crédito para a maioria. Durante o governo Lula, as políticas de financeirização alcançaram a sociedade como um todo. Muito mais pessoas passaram a usar cartão de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, crédito para compra de veículos etc. Hoje, 44% das famílias brasileiras possuem dívidas, que, no cômputo total, correspondem a 40% da massa de renda. O endividamento médio oscila ao redor de R$ 5 mil por família. Em comparação ao volume da dívida pública interna, é pouco. Basta um rápido exercício: dividam-se seus R$ 1,8 trilhões pelas 60 milhões de famílias brasileiras, resulta um quociente de R$ 30 mil para cada família. Isto é, a dívida pública socializada equivale a seis vezes o valor do endividamento privado médio. Mesmo os muito pobres sem conta no banco pagam a dívida nos atos mais prosaicos, como comprar o pãozinho da padaria, cujo preço embute impostos.

Como pode haver tantos endividados, tantos trilhões em dívidas públicas e privadas? como isso aconteceu? onde está o outro lado da equação? quem são os credores desse bolão trilhardário? Parece haver muito mais dívida do que crédito. E o pior é que pouco se fala disso nas mídias. O mundo das finanças é colocado como esotérico, como um discurso competente para o club: sempre os mesmos engravatados aspirantes a profeta que aparecem na TV e nos jornais. Os cidadãos ficam distantes, movimentos sociais idem. As velhinhas de Taubaté juram de pé junto que a ekipeconômica sabe o que está fazendo com o dinheiro de todos. Enquanto policarpos repetem a mensagem do grande líder: trabalhem, trabalhem, trabalhem, e deixem o governo trabalhar.


De fato, a conta débito/crédito não fecha. Não é pra fechar. Contra o senso comum, tem muito, mas muito mais débito do que crédito na praça. E isso não é um defeito nem distorção especulativa: precisamente assim, com uma dívida loucamente maior, a economia global pode funcionar. As finanças e o endividamento não constituem um acidente de percurso, mas o motor do capitalismo. O sistema financeiro organiza e distribui uma dívida perpétua e impagável, renovada sem parar com a emissão de novos títulos e promissórias. Uma dívida infinita que nem Deus paga. A cada promessa/dívida contraída com bancos e fundos, é criado ex nihilo um novo papel, que por sua vez monetiza a economia, alimenta-a de liquidez, ou seja, de fluidez e poder de ação. É que os títulos derivados do crédito podem circular quase do mesmo modo que o papel-moeda. Eles são dinheiro.


Acredita-se que os governos controlem a emissão de dinheiro, mas não. Ele é emitido por bancos privados e mesmo os bancos centrais estão vinculados às demandas de liquidez elaboradas pelos “mercados”. A mãe de todas as privatizações foi a privatização da moeda. E as pessoas acreditam; quem não iria acreditar na efígie santa do dólar americano ou do marco alemão? No euro, nem tanto. Em qualquer caso, a moeda busca reproduzir e perpetuar as relações de poder. Quem controla a moeda não precisa fazer as leis, já dizia Rothschild. Injetar liquidez (mais dinheiro) na economia é um modo de injetar fluxos de poder, para fortalecer atores-chave e conter as revoltas e insatisfações. Não à toa exija-se desses atores-chave o comportamento desejado pelo establishment financeiro, antes da injeção das divisas. É um ciclo vicioso entre moeda, dívida e propriedade, que o sistema financeiro metrifica e comanda. Os bancos centrais, como o malabarista chinês, ficam com a função de de equilibrar os muitos pratos que os grandes players põem a girar.


Nesse processo, a base monetária inflaciona na medida do crescimento, aprofundamento e intensificação das dívidas. E dos seguros sobre dívidas, e da titularização e circulação disso tudo. No fundo, é como uma cebola, você vai descascando as camadas até encontrar… o nada. Através dessa dívida em várias camadas, a plutocracia financista controla os governos, forja a governabilidade, assegura a concentração de rendas e lucros e, — não poderia faltar, — conserva o regime desigual da propriedade. E não pára por aí: a dívida generalizada pelo mundo opera no nível subjetivo, moldando uma espécie bastante específica de sujeito social: o homem endividado.


É a tese central do novo livro do sociólogo Maurizio Lazzarato, da universidade de Paris I, A fábrica do homem endividado: ensaio sobre a condição neoliberal (ed. Amsterdam, 2011).


Dívida como governança


Nas últimas décadas, os ganhos vêm sendo privatizados nas mãos de uma faixa mínima, cada vez mais seleta de privilegiados. É o 1%, a minoria contra quem se insurge o movimento Occupy pelo mundo. Enquanto isso, as perdas são socializadas aos 99% restantes, endividados até o pescoço. O novo proletário é o homem endividado, empreendedor de si mesmo, constrangido a planejar a vida em função de débitos, compromissos, riscos e oportunidades. Os lucros do sistema expandem, mas a desigualdade se reproduz e se aprofunda. Trata-se de assegurar o paraíso de fortunas incalculáveis à minoria, e sustentar o purgatório da austeridade à maioria.


A dívida geral assume uma função política, produtiva e distributiva. O nó górdio do modo de produção capitalista não é a mercadoria, mas o crédito. A governança neoliberal instaurada a partir dos anos 1970 precarizou os trabalhadores. O cidadão, dizem, tinha direitos e deveres. Mas sobrou apenas o dever, na acepção de dívida. O estado se desencarrega de saúde, educação, previdência, bem estar, e assim força o indivíduo a econometrizar-se. Ou seja, a calcular para si custos, perdas, ganhos e riscos, num horizonte de longo prazo. Os direitos sociais se converteram em dívidas sociais. Nessa lógica, o estado foi mínimo quanto ao desmonte das garantias sociais. Mas máximo na proteção da classe credora e proprietária, e máximo no quesito controle social. O estado máximo do neoliberalismo submeteu populações a mecanismos violentos de gestão da pobreza, imigração e resistência política.


Paradoxalmente, a globalização fortaleceu os estados nacionais, na medida em que estão integrados à ordem financeira supranacional e a operam como atravessadores de políticas. O estado se fortaleceu no norte e no sul, em ambos os casos na direção do socialismo tecnocrático. Lá, de onde escoa o dinheiro, para socializar as perdas financeiras e planificar integralmente a economia. Aqui, para onde escoa o dinheiro, para socializar os custos do desenvolvimento e igualmente planificar integralmente a economia. Burocratas no comando para fazer o que tem de ser feito, numa política coletivista, a mando de quem possui a propriedade sobre o capital. A culminância do capitalismo deve ser mesmo o socialismo: uma racionalidade férrea que impõe o progresso do capital e proletariza a todos. Vence a planificação central, a dívida pública, a tecnocracia das soluções científicas, no melhor socialismo do capital que cresce a taxas chinesas. Concordam os filósofos: o futuro será socialista ou comunista.


A consciência endividada


Para Lazzarato, a dívida não é só uma condição objetiva, mas subjetiva de nosso mundo. Mais que condição econômica, uma subjetividade, com sua moral e sua culpa. Se a economia é a ciência dos comportamentos, como se comporta o cidadão moderno que vive em dívida? Estamos devendo. A dívida, como promessa, guarda uma memória. Quem está em dívida não consegue esquecer. Lembra-se a todo momento de seu fardo, de sua obrigação condoída, e isso entristece, atrapalha o sono, tira a fome. A relação da dívida afeta-o como culpado por sua condição. É como uma marca. O sistema bancário opera como a máquina de torturas da Colônia Penal. Como nos morros cariocas, a gente abre crédito pra você, mas, se não pagar, seu nome vai pro prego.


Homem bom é Shylock: honra seus compromissos e poupa para administrar suas dívidas, — sempre reconhecidas. O que importa é fazer a sua parte e manter-se solvável. Autoexploração. Ars debitorium, a arte de viver achacado de dívidas. Psicanalistas lacanianos talvez estejam certos, o capitalismo ordena gozem! consumam! vivam ao extremo!, mas é impossível e a culpa é sua. A moral do capitalismo hodierno não se baseia somente na lógica esforço-recompensa, mas sobretudo da promessa-culpa.


O homem endividado é imagem da miséria. Um regime onde uma enorme riqueza, por todos produzida todos juntos, existe apenas para a fruição de uma faixa minúscula da população: os credores. Os demais assistem deslumbrados às fantasias plastificadas da TV: que se contentem com as migalhas. Num contexto de crise, magras migalhas. Esse contentamento fariseu. Como pombos, acreditam ser livres. Esforçam-se, e vão deprimindo-se nesse esforço, para serem todos proprietários, todos empreendedores, todos acionistas da riqueza social. “Todos serão proprietários”, promete Sarkozy. Queremos uma “sociedade de proprietários”, promete Bush. Não era esse o idílio de justiça de John Rawls, todos proprietários? O emblema maior dessa promessa só pode ser a casa própria. O signo supremo do comercial de margarina, signo do cidadão de bem, com um compromisso suficientemente sério e que atesta a consistência de um projeto de vida. Mas quando os subprimes desmentem as promessas fajutas de moradia universal, só resta mesmo descrer em toda essa lógica viciada e ocupar Wall Street. Nunca nos representaram. A crítica à democracia representativa não pode prescindir da análise econômica e financeira.


Lutar contra o futuro


Muitos comparam o mundo das finanças a um cassino. Jogam muito alto com o dinheiro alheio, sem nenhum mandato. Mas é pior do que isso. Jogam com o nosso futuro. Eis aí a acumulação originária do século 21: desapossamento do futuro. Marx descreveu como a ordem capitalista precisou desapossar os camponeses e cercar as terras comuns, a fim de coagi-los a trabalhar na cidade, a proletarizar-se nas fábricas. O capitalismo financeirizado desapossa o futuro das pessoas. Codifica-os dentro de planos de investimento, do endividamento a longo prazo que, prometem, permitirá acesso à moradia, estudos, viagens, filhos, à felicidade da novela das 8. Ganham importância as estatísticas, projeções, seguros, aulas sobre crédito e corretores bem intencionados. Eles lêem a fortuna, calculam, prevêem. Afinal, é preciso ser previdente que o futuro é incerto. O problema marxista da realização do valor está resolvido. Cada um investe o seu futuro, seu panorama de escolhas e decisões, sua subjetividade. Pequenas concessões no presente versus grandes implicações no futuro. Nesse ato, endivida-se, e essa dívida é abstraída num papel circulante que representa valor, i.e., vira dinheiro. Eis a fábrica de crenças, de confiança (faites-moi confiance).


Então, como resistir?


Em primeiro lugar, reconhecer que a crise global não se resume a fracasso de uma racionalidade econômica ou financeira. É uma crise social e política. Uma crise dos dispositivos e mecanismos de fabricar consensos e governar as populações a partir da dívida. Nesse contexto, em vez de aguardar a catástrofe que não virá ou refugiar-se em utopias de cátedra (com as quais o poder convive bem), é caso de trabalhar para que a crise não seja torcida ainda mais contra a classe devedora. É fazer política contra as tecnocracias bancárias e as receitas desenvolvimentistas, à direita ou à esquerda. O tempo da crise clama por ocupações, greves, sabotagens, pela obstrução dos mecanismos da representatividade; mas também pela construção do novo mundo: nova mídia, política e direito, uma nova economia política, uma nova moeda. A parte da destruição, a parte da construção.


Por outro lado, aquilo que nos devora também pode ser devorado. Se a moeda é instância privilegiada da dominação, também aí se descortina um campo de batalha. Reapropriar-se da riqueza social ocupando o mundo das finanças, esse poder líquido que capitaliza o futuro. Trata-se de libertar o futuro, de livrar a moeda de seu papel homogeneizador e codificador do homem e sua consciência. Há marxistas que se apressam em buscar programas nas primeiras páginas de O Capital, e acabam demonizando o trabalho abstrato, o valor de troca e o dinheiro. Mas a repropriação da riqueza não dispensa retomar o que de mais abstrato se produziu: o processo do dinheiro. Retomar o dinheiro, comunalizar a moeda e comprovar que a Grande Dívida, na realidade, não existe.


À socialização da dívida, uma socialização do crédito, aberto a todos. À dívida da existência, uma renda da existência. Como nos antigos jubileus papais, que, de 50 em 50 anos, remitiam os pecados, perdoavam as dívidas e libertavam os escravos. É atirar ao chão o fardo de Sísifo endividado, ascender à segunda inocência de que falava Nietzsche, citado por Lazzarato. A ironia maior: subverter o dinheiro para acabar com a propriedade. Isso implica desde o direito à insolvência à organização de calotes coletivos (de estudantes, hipotecados, consumidores etc). Quando o dinheiro passa a encarnar o homem, ele também pode reconquistá-lo, e assim se liberta.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Ocupar Wall Street e o poder constituinte da multidão

Ocupar Wall Street e o poder constituinte da multidão
Idelber Avelar é colunista da Revista Fórum outro mundo em debate.
“A primeira verdade é que a liberdade da democracia não estará a salvo se o povo tolerar o crescimento do poder privado até o ponto em que ele se torne mais forte que o próprio estado democrático. Isso é, em essência, o fascismo — a posse do governo por um indivíduo, um grupo ou qualquer outro poder privado que o controle”. Enunciadas nos EUA em qualquer momento das últimas três décadas, estas frases pareceriam de autoria de algum perigoso comunista. Se perguntássemos a um estadunidense médio ou a algum comentarista de mídia quem foi o seu signatário, o mais provável é que ouvíssemos menção a Marx, Stalin, Chomsky ou outro “extremista”. O fato é que essas frases são de autoria de ninguém menos que o mais bem sucedido presidente dos EUA no século XX, Franklin Delano Roosevelt, em mensagem ao Congresso apresentada no dia 29 de abril de 1938. O fato de elas soarem tão subversivas e esquerdistas nos EUA de hoje nos mostra o grau do mergulho do país no neoconservadorismo – e derruba, por si só, outro grande mito dos EUA (e do Ocidente), o progresso humano rumo a uma razão cada vez mais ilustrada. Ocupar Wall Street é, acima de tudo, isto: a primeira revelação em muito tempo, para amplas massas de trabalhadores estadunidenses, de que a História não anda para frente, de que as coisas não melhoram progressivamente.
O momento mais notável do discurso da pensadora e ativista Naomi Klein aos ocupantes de Wall Street foi o contraste feito por ela entre os comentários sobre a ocupação na mídia dos EUA (quando esta não pôde mais ignorá-la) e a reação do resto do mundo ao movimento: “’Por que eles estão protestando?’, perguntam-se os confusos comentaristas da TV. Enquanto isso, o mundo pergunta: ‘por que vocês demoraram tanto? A gente estava querendo saber quando vocês iam aparecer.’ E, acima de tudo, o mundo diz: ‘bem-vindos’”. Não há contraste mais nítido entre a bolha em que vive a mídia dos EUA e a realidade vivida por milhões de trabalhadores no mundo todo. Fora dos EUA, a pergunta mais recorrente era: “como é possível que eles não se revoltem?”. Dentro dos EUA, permanecia a estupefação: “o que querem realmente os manifestantes de Wall Street?”.

A recorrente alusão a um suposto caráter “vago” das reivindicações do Ocupar Wall Street se tornou uma espécie de mantra, de senso comum universal em todas as referências da mídia dos EUA ao movimento. Na verdade, poucos movimentos são tão claros em seu protesto como o Ocupar Wall Street: o saqueio do bem público pelo capital financeiro; a desapropriação de enormes massas de trabalhadores para que o socorro aos bancos pudesse ser pago com dinheiro público; a precarização das condições de trabalho para que o capital pudesse maximizar seus ganhos; a terceirização como alavanca para multiplicar lucros e evitar o pagamento de benefícios trabalhistas; os bônus exorbitantes a executivos de Wall Street pagos com dinheiro que não foi usado para gerar empregos; o saqueio completo do sistema de saúde pelas empresas de seguros, que mobilizam exércitos de advogados até mesmo para evitar pagar o que devem segundo os contratos que elas próprias escreveram e assinaram; a enorme quantidade de dinheiro doada pelas corporações a políticos cuja tarefa é, esperar-se-ia, a regulação dessas mesmas corporações; a perpetuação da tortura, do assassinato e da produção armamentista como mecanismo gerador de lucro e destrutor do meio ambiente. O que é tão difícil de entender aqui? Até mesmo um garoto de nove anos de idade, Sam Kesler, acampava na recém-nomeada Praça Liberdade com total clareza de seus motivos para estar ali: “o nosso sistema está montado para tirar dos pobres e dar aos ricos. É o contrário de Robin Hood. Não faz nenhum sentido!”.
O garoto de nove anos explicou o movimento com clareza cristalina, mas ABC, CBS, NBC, FOX, CNN e até mesmo o canal “progressista” de notícias, a MSNBC, não conseguem entender: “o que querem os manifestantes de Wall Street? Qual a solução que eles propõem?” O fato de que a mídia americana não “entenda” o Ocupar Wall Street não deve ser debitado simplesmente à hipocrisia ou à má fé. Seria um erro ler a situação nesses termos. Ela não entende o Ocupar Wall Street porque, para o senso comum estadunidense, esse movimento extrapola o imaginável. A mídia americana não entende a ocupação porque já não lhe resta língua para entendê-la. A crítica radical ao capitalismo já não habita a esfera do dizível.
O crítico literário marxista Fredric Jameson resumiu a coisa de forma lapidar: hoje, é mais fácil imaginar a extinção, o fim da espécie humana, que imaginar o fim do capitalismo. É essa completa atrofia no nosso poder imaginativo que o Ocupar Wall Street vem questionar. Confirmação disso é a fúria repressiva com que o movimento foi recebido não só em Nova Iorque, mas em praticamente todas as cidades para as quais se espraiou. A revista Alternet fez a lista das doze leis mais absurdas ou anacrônicas que foram desenterradas para justificar as prisões aos manifestantes. Ela inclui desde a proibição de dormir em público à proibição de que se sente ou se deite nas calçadas de San Francisco, e até mesmo a proibição de que mais de duas pessoas mascaradas se reúnam em lugar público em Nova York, lei que tem mais de 150 anos de idade. A brutal repressão, que tem incluído ataques não provocados aos ocupantes, com prisões em massa realizadas, em geral, de madrugada, enterrou de vez qualquer ilusão de que os EUA seriam um país caracterizado pela liberdade de expressão e manifestação em praça pública.
Como sempre é o caso nas distorções ideológicas, a confusão da mídia americana não é totalmente despropositada. Ela tem o seu fundo de verdade. Ocupar Wall Street é realmente um movimento que aponta para algo que ainda não tem nome, algo da ordem do inimaginável. A sua única aposta é o poder criativo, constituinte da multidão, mas a única possibilidade de sucesso completo seria uma derrubada total do capitalismo financeiro dos EUA, objetivo que ainda não está no horizonte imediato. No entanto, é justamente isso que faz do dito marxiano, no Manifesto Comunista, algo ainda mais relevante e urgente para os dias de hoje: não há nada a perder, a não ser os grilhões.

Este artigo é parte da edição 104 da Revista Fórum.
Moradores do acampamento do Pinheirinho, localizado na zona sul de São José dos Campos, aguardam com cães e armas improvisadas a reintegração de posse do local. Segundo a prefeitura são pelo menos 1.600 famílias em situação irregular e que já foram avisadas pela Justiça para deixar a área invadida do Pinheirinho. Algumas barreiras foram montadas pelo terreno. A ordem da juíza da 6ª Vara Cível da cidade revoltou os moradore.fonte UOL —via Lucas Cruz (facebook)

#Charge: Solidariedade à Ocupação Pinheirinho, ameaçada de despejo iminente Carlos Latuff (S. J. dos Campos)

25 best Occupy photos of 2011 | News | National Post

25 best Occupy photos of 2011 | News | National Post
Protesters affiliated with the Occupy Wall Street movement lift a chainlink fence while storming into Duarte Square in New York, December 17, 2011.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Coletivo Catarse: Oficinas de tecnologia pra seguir ocupando as ruas do mundo

Coletivo Catarse: Oficinas de tecnologia pra seguir ocupando as ruas do mundo

O corpo, a palavra e o gesto de cada uma e cada um ocupando as ruas em 2011 foram as armas das novas revoluções, que derrubaram governos e abalaram estruturas do sistema em muitos lugares. E pras pessoas estarem juntas nas praças do mundo, resistindo e provocando transformações, as novas tecnologias e a internet têm sido instrumentos fundamentais.

Durante o Fórum Social Temático, de 25 a 28 de janeiro, a Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, vai receber o Conexões Globais 2.0, encontro que pretende debater os rumos da mobilização social na era da internet.

Desconferências, conexões culturais, diálogos globais, comunicação colaborativa e o Terceiro Fórum de Mídia Livre. E oficinas gratuitas pra aprender muitas coisas sobre tecnologia e melhor fazer circular ideias, ações, projetos e denúncias. Estes conhecimentos podem ser muito úteis para as mobilizações populares.