quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Socialista Morena » Qual era a onda da Libelu?

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Apresentação de Guifi.net, a maior rede sem fio autogerenciada do mundo | MediaLab UFRJ

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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

CRISTOVAM BUARQUE (PDT/DF) via facebook


CRISTOVAM BUARQUE (PDT/DF) FALA, NA TRIBUNA DO SENADO, EM 06-09-2013, ÀS VÉSPERAS DAS MANIFESTAÇÕES DO DIA DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, SOBRE A CRISE DE REPRESENTATIVIDADE E DA CRIMINALIZAÇÃO DOS PROTESTOS POPULARES, ADVERTINDO SOBRE O RISCO DE AUMENTAR A DISTÂNCIA ENTRE OS ANSEIOS DO POVO E A DEMOCRACIA REPRESENTATIVA.

“(...) Uma notícia hoje de manhã me chamou a atenção: um grupo de jovens sentados em cima do carro da polícia, em forma de rebeldia e de deboche, impedindo o carro de avançar, até que algumas ações foram tomadas... E agiram assim porque não estão encontrando coisas positivas de nossa parte. Eles estão se manifestando por descontentamento, estão chegando ao ponto de mostrar que o Brasil vive uma guerrilha cibernética, porque convocada pela internet... O Estado e o povo na rua estão em conflito... Não se trata mais da guerra civil que vivemos, por 20 ou 30 anos, dos desesperados... Trata-se, agora, de uma guerrilha dos desiludidos... O povo enfrentando o Estado pelo descontentamento, pela desesperança... O que estamos fazendo?... Nós [representantes federais] estamos dando as costas para o que está acontecendo no Brasil... Eu creio que nós não estamos à altura do momento histórico em que estamos vivendo...”

“O povo cansou da impunidade..., das prioridades equivocadas..., do voto secreto no legislativo..., da tolerância do legislativo federal com a corrupção..., da ineficiência econômica..., do descaso dos serviços públicos..., da improvisação no tratamento de assuntos essenciais de interesse público..., da violência urbana..., do desprestígio do Congresso e de todos os partidos, sem nenhuma exceção... O povo percebeu que ter um carro não basta para ter um transporte satisfatório... E nós temos tido ‘governos do jeitinho’...” Quando se quebra a relação de confiança entre representantes e representados, “acaba o pacto social que nos une” e “partidos e sindicatos ficam renegados”... Assim, testemunhamos “revoluções sem líderes”...

Essas manifestações têm alterado a rotina das cidades, da economia... Em relação a elas, “devemos encontrar um caminho... E este caminho não é a repressão. Não tenho simpatia por manifestantes mascarados, mas me preocupa muito que comecemos proibindo os mascarados e..., no final, estaremos proibindo todos de irem para as ruas... Nós não estamos à altura de entender a gravidade desses dois fatos: a falência do acordo social e o surgimento de uma arma poderosa para manifestações que é a internet... Esta casa deveria construir um novo acordo social para o Brasil, um novo pacto social...”

“Estamos falando do futuro do Brasil que vocês [reporta-se, agora, aos estudantes de Brasilândia que estavam na plenária do Senado Federal] deveriam ter, que vocês merecem ter... Nós [representantes federais] não estamos fazendo como deveríamos, nós não estamos construindo... Por que não retomamos os trabalhos, nessa casa, em caráter permanente, fazendo um pacto social que recupere o casamento da sociedade com seu Congresso... Não falo somente de um pacto por pequenas medidas, de mudanças na forma de eleição...”

“Que tipo de economia nós queremos?... Ter apenas crianças matriculadas nas escolas não basta, mas sim escolas públicas da mais alta qualidade, para termos jovens construtores do Brasil e construtores deles mesmos... O que podemos fazer para que as pessoas não precisem de ir às ruas, num dia de festa e comemoração, para se manifestarem contra seus líderes?... Não estamos percebendo a gravidade do que nós vivemos... A tragédia está dando seus sinais... Os jovens, mascarados ou não, estão dando os sinais...de que as coisas não estão bem...”

“Devemos acabar com este famigerado voto secreto. É uma vergonha para cada político votar sem que seu eleitor saiba como ele votou... Não podemos tolerar o constrangimento de votar secretamente... Se nós mantivermos qualquer forma de voto secreto, estaremos jogando gasolina no fogo das manifestações, nessa guerrilha cibernética que acontece hoje no Brasil... Não é para jogar água na guerrilha cibernética, mas para dialogar..., oferecer respostas, propostas, novos rumos..., para que o Brasil possa ter de volta o seu povo em casa ou nas ruas festejando o 7 de setembro... Lamento este profundo divórcio que estamos vivendo entre o povo e as suas lideranças... Vou dar a minha contribuição, trazendo ideias, não apenas sobre Educação... Precisamos refazer este grande acordo nacional chamado Brasil...”
*
Link de acesso ao discurso, na íntegra, de Cristovam Buarque: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=BRhXYwOAv5E#t=85


*
Esta importante ‘jeremiada’ do Senador Cristovam Buarque mostra a sua profunda preocupação com a crise da democracia representativa no Brasil. No entanto, o tom central ainda é resgatar apenas a democracia representativa, para que o ‘povo’ fique em casa (se seus representantes se tornarem, de fato, ‘meritosos’ e representativos, pois os conflitos de ideias, interesses e projetos deveriam se traduzir apenas entre os representantes) e somente saia às ruas para festas. Nesse sentido, o discurso não colabora com o tema da democracia participativa, que é outra importante agenda que as manifestações têm trazido. Em alguma medida, há no discurso do senador um esvaziamento desta questão.

Assim, fiquei com a impressão de que a experiência das manifestações no Brasil, tal como significada pelo senador, não estaria cumprindo a sua expectativa de ‘povo pacífico’, que forma o seu olhar sobre “povo”. Por isso, parece-me que a sua ‘jeremiada’ tem um fundo de crítica contra os representantes que, por seu mau exemplo de corrupção e divórcio com os representados, são os efetivos responsáveis por o ‘povo’ estar perdendo a sua “essência pacífica”, não cumprindo sequer – se considerarmos a lógica liberal-democrática de mérito – as expectativas do sistema representativo democrático, que exige que sejam lideranças competentes com projetos consistentes para o país.

Resumidamente, a ‘jeremiada’ do Senador Cristovam Buarque adverte contra o risco de a democracia representativa estar colaborando, em função das suas lideranças atuais, para a sua autodestruição, mas não alça nada que aponte para uma valorização da democracia participativa. No final das contas, o seu discurso é isso, uma ‘jeremiada’: “Políticos, sejam bons representantes para o ‘povo’ voltar para casa e somente ir às ruas para festas, como ‘sempre foi’. Amém...”.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

As sementes do fascismo, no século 21

As sementes do fascismo, no século 21
Para retomar acumulação, em tempos de crise, capital ensaia estratégia particular. Inclui guerras, especulação financeira máxima e criminalização das “populações excedentes”  
Por William I. Robinson | Tradução: Taís Gonzalez
Em Policing the Crisis, clássico estudo conduzido, em 1978, pelo famoso socialista e teórico cultural Stuart Hall e alguns colegas, os autores mostram que a reestruturação do capitalismo, uma resposta à crise da década de 1970 – a última grande crise mundial do capitalismo até a de 2008 –, produziu, no Reino Unido e em todo o mundo, um “estado excepcional”. Significava um processo de ruptura com os mecanismos de controle social, então consensuais, e um autoritarismo crescente. Eles escreveram:
“Este é um momento extremamente importante. Esgotado o repertório da hegemonia por meio do consentimento, destaca-se cada vez mais a tendência ao uso rotineiro das características mais repressivas do Estado. Aqui, o pêndulo no exercício da hegemonia inclina-se, de forma decisiva. De um período em que consentimento suplantava a coerção, passa-se a outro em que a coerção volta a ser a forma natural e rotineira de assegurar o consentimento. Esse deslocamento interno do pêndulo da hegemonia – de consentimento para coerção – é uma resposta do Estado à crescente polarização (real e imaginária) das forças de classes. É, exatamente assim, que uma “crise de hegemonia” se expressa… O lento desenvolvimento de um estado de coerção legítimo, o nascimento de uma sociedade de “lei e ordem”… Todo teor da vida social e política é transformado (neste momento). Um novo ambiente ideológico, claramente distinto, é urdido. (Policing the Crisis, pp. 320-321).”
Esta é também uma descrição exata da atual conjuntura. Estamos testemunhando a transição de um estado de bem-estar social para um estado de controle social, em todo o mundo. Estamos diante de uma crise global sem precedentes, dada sua magnitude, seu alcance global, a extensão da degradação ambiental e da deterioração social e a escala dos meios de violência. Nós realmente estamos enfrentando uma crise da humanidade, entramos em um período de grandes agitações, de mudanças e incertezas. E esta crise é distinta dos episódios anteriores de crises mundiais – a de 1930 ou a de 1970 – precisamente porque o capitalismo mundial é fundamentalmente distinto, no início do século 21.
Entre as transformações qualitativas que ocorreram no sistema capitalista, em face da globalização das últimas décadas, há quatro que quero destacar. A primeira é a ascensão do capital transnacional e a integração de todos os países dentro de um novo sistema financeiro de produção globalizada. A segunda é o surgimento de uma nova Classe Capitalista Transnacional (TCC, sigla em inglês para Transnational Capitalist Class). Este grupo apoia-se em novos circuitos globais de acumulação, ao invés dos velhos circuitos nacionais; A terceira transformação é a ascensão da que eu chamo de aparatos estatais transnacionais. A quarta, o aparecimento de novas relações de desigualdade e dominação na sociedade global, incluindo a crescente importância das desigualdades sociais e de classe, relacionadas aos desequilíbrios Norte-Sul.
A atual crise
A crise atual combina aspectos estruturais similares aos das crises anteriores (dos anos 1970 e 1930) com características únicas, a saber:
- O sistema está atingindo rapidamente os limites ecológicos de sua produção. Já temos vários cientistas ambientais que fazem referência ao “ponto de inflexão”. Esta dimensão não pode ser subestimada;
- O magnitude brutal da violência e do controle social, bem como a extensão do controle sobre os meios de comunicação globais e de produção e circulação de símbolos e imagens. Neste sentido, nós somos testemunhas de novos e assustadores sistemas de controle social e repressão que precisamos analisar e aos quais devemos resistir;
- Estamos chegando ao limite da expansão do capitalismo – ou seja, não há mais novos territórios significativos a serem integrados ao sistema. A desruralização já é bem avançada; a mercantilização do campo e dos espaços pré e não-capitalista são intensas;
- O surgimento de uma população “excedente” que habita um “planeta de favelas“, afastada da economia produtiva, jogada às margens e sujeita a sofisticados sistemas de controle social e à destruição – a um ciclo mortal de expropriação, exploração e exclusão.
- O descolamento entre economia globalizada e um sistema de estados-nações baseado em uma política autoritária. Os aparatos estatais transnacionais são incipientes. Eles não foram capazes de desempenhar o papel que os estudiosos do sistema capitalista mundial designam por “hegemon”, ou um estado-nação líder com poder e autoridade suficientes para organizar e estabilizar o sistema.
Neste contexto, vamos rever como a atual crise se desenvolveu. O capital transnacional emergente passou por uma grande expansão nas décadas de 1980 e 1990. Isto envolveu o que poderíamos chamar de hiper-acumulação, alcançada por meio de uma série de fatores. Envolve a introdução de novas tecnologias, sobretudo da informatização e da utilização da internet; políticas neoliberais que abriram o mundo para o capital transnacional; novas modalidades de mobilização e exploração da força de trabalho global, com novo ciclo de “acumulação primitiva” maciça – a expulsão e deslocamento de centenas de milhões de pessoas, especialmente das áreas rurais do terceiro mundo, que se tornaram migrantes nacionais e transnacionais.
Mas no final da década de 1990, a estagnação instalou-se na economia global. O sistema enfrentava novamente uma crise. A nítida polarização social global e as desigualdades crescentes em todo o mundo alimentavam o problema crônico da “sobre-acumulação”. Muito simples, as desigualdades globais e o empobrecimento de uma ampla parcela da sociedade significam que o capital transnacional não pode encontrar saídas produtivas para descarregar as enormes quantidades de excedentes que acumulou. No início do século 21, a Classe Capitalista Transnacional procurou enfrentar a estagnação e a sobre-acumulação por meio de diversos mecanismos.
Um desses mecanismos é o que chamo de acumulação militarizada. Trata-se de fazer guerras e realizar intervenções que desencadeiam ciclos de destruição e reconstrução, além de gerar enormes lucros para um, cada vez maior, “complexo financeiro-militar-prisional-industrial-de energia-e-segurança”. Estamos vivendo agora em uma economia global de guerra, que vai além de “guerras quentes” como a do Iraque, do Afeganistão ou da Síria. Outro mecanismo é a invasão e saque dos orçamentos públicos. A Classe Capitalista Transnacional usa seu poder financeiro para assumir o controle das finanças do Estado e impor mais “austeridade” à maioria dos trabalhadores. Emprega seu poder estrutural (por controlar a economia global) para acelerar o desmantelamento do que ainda resta do salário social e do estado de bem-estar. E o terceiro mecanismo é a frenética especulação financeira em todo mundo – transformando a economia global em um gigantesco cassino. A TCC descarregou trilhões de dólares em especulação imobiliária, em alimentos, energia, mercados dos commodities globais, em mercados de títulos em todo o mundo (ou seja, nos orçamentos públicos e nas finanças estatais), e em outros tantos setores e seus derivados.
A ameaça do “fascismo do século 21″
Como as forças políticas e sociais em todo o mundo estão respondendo à crise? Ela resultou em uma rápida polarização na sociedade global. Forças de direita e de esquerda estão em ascensão. Entre outros, quero destacar três respostas para a crise que parecem estar em disputa.
Uma delas é o que poderíamos chamar de “reformismo de cima”. Este reformismo tem como finalidade estabilizar o sistema, salvando-o de si mesmo e de alternativas mais radicais, vindas de baixo. No entanto, nos anos que se seguiram ao colapso do sistema financeiro global de 2008, parece que esses reformadores não tiveram a capacidade (ou a vontade), de prevalecer sobre o poder do capital financeiro transnacional. Uma segunda resposta é a resistência popular e de esquerda, a partir de baixo. À medida em que conflitos sociais e políticos eclodem em todo o mundo, parece surgir uma revolta global organizada. Embora essa resistência pareça insurgir-se após 2008, ela ocorre de modo bastante desigual, nos distintos países e regiões e enfrenta muitos problemas e desafios.
A última resposta é a que eu chamo de fascismo do século 21. A ultra-direita é uma força emergente em muitos países. Em linhas gerais, busca-se fundir o poder político reacionário com o capital transnacional e organizar uma base de massas entre os setores historicamente privilegiados da classe trabalhadora mundial – como os trabalhadores brancos, no Norte do planeta e as velhas classes médias do Sul. Elas vivem hoje sensação de insegurança agravada, temerosas de mobilidade social decrescente, ou mudança de status. São tentadas ao militarismo, masculinização extrema, homofobia, racismo e uma mobilização racista contra bodes expiatórios — o que inclui a própria busca de bodes expiatórios, como os imigrantes e, no Ocidente, os muçulmanos. O fascismo do século 21 evoca ideologias mistificadoras, muitas vezes envolvendo supremacia racial e ou cultural e xenofobia. Abraçam um passado idealizado e mítico. A cultura neofascista banaliza e exalta a guerra e a violência social. Procura gerar fascínio pela dominação, ao retratá-la como heroica.
É importante salientar que a necessidade dos grupos dominantes em todo o mundo, para garantir segurança e organizar o controle social em massa sobre a população excedente e as forças rebeldes, dá um impulso poderoso a projetos de fascismo neste século. Simplificando, as imensas desigualdades estruturais da economia política global não podem ser facilmente contidas por meio de mecanismos consensuais de controle social – ou seja, por meio de dominação hegemônica. Com isto em mente, vamos concluir com cinco pontos para o debate futuro sobre sobre o capitalismo global policiante.
Um estado policial global
Primeiro, um capitalismo global policiante, por meio de novas modalidades de controle social globalizado e repressão não é apenas um projeto desse fascismo do século 21. Na verdade, ele está sendo antecipado pelas elites e Estados liberais e reformistas. É um imperativo estrutural do capitalismo globalizado, ligado aos imperativos de manutenção do sistema.
Segundo, ao pensamento sobre o capitalismo global policiante, devemos nos perguntar quem precisa ser policiado, no sistema. Aqui, quero chamar a atenção para a crescente onda de mão de obra excedente. Ao invés de incorporar os marginalizados, o sistema tenta isolar e neutralizar suas reais ou potenciais rebeliões, criminalizando o pobre e despossuído – com tendências, em certos casos, para o genocídio. Os mecanismos de exclusão coerciva incluem a detenção maciça em complexos industriais-prisionais (Prison-Industrial Complex ou PIC, o termo em inglês é usado para atribuir a rápida expansão da população carcerária dos EUA que influência as políticas das empresas de privatização de cárceres e empresas que fornecem bens e serviços para agências de prisão do governo); o policiamento generalizado, leis repressivas anti-imigrantes; novas formas de manipulação de espaços, para que tanto os condomínios murados quanto guetos sejam controlados por verdadeiros exércitos de segurança privada e vigilância de alta tecnologia; campanhas ideológicas voltadas à sedução; passividade por meio do consumo e da fantasia.
Novas formas de controle social e modalidades de dominação ideológicas cruzam barreiras. Por isso, pode haver um neo-fascismo constitucional e normalizado, com instituições de representação, partidos políticos e eleições formais, enquanto o sistema político é rigidamente controlado pelo capital transnacional e seus representantes. Qualquer divergência que ameace o sistema é neutralizada, quando não liquidada.
Em terceiro lugar, devemos reconhecer que a criminalização e o controle militarizado de estruturas marginalizadas, como mecanismo de contenção preventiva, são altamente racializados. Isso nos traz de volta para Stuart Hall e seus colegas. Os autores de Policing the Crisis destacaram a natureza altamente racializada do policiamento e da criminalização de comunidades negras e imigrantes no Reino Unido. Eles desconstruíram o processo ideológico complexo de fabricar a criminalização dos oprimidos como uma função do controle social, em momentos de crises de hegemonia.
Aqui vemos fortes paralelos entre o embrionário “Estado excepcional” na década de 1970 e a atual deriva para tais Estados, nos EUA e em outros países. O deslocamento das ansiedades sociais para o crime e populações racialmente criminalizadas origina-se na crise dos 1970. Nos EUA, após as rebeliões de massa da década anterior, os grupos dominantes promoveram campanhas culturais e ideológicas sistemáticas de “lei e ordem” para legitimar a mudança de um Estado de bem-estar social para um Estado de controle e a ascensão de um complexo industrial-prisional.
“Lei e ordem” passou a significar a reconstrução e reforço das hierarquias raciais, sociais e da ordem hegemônica, após as rebeliões de 1960. Isso coincidiu com a reestruturação econômica global, o neoliberalismo e a globalização capitalista da década de 70 e anos posteriores. Agora, a criminalização ajuda a deslocar as ansiedades sociais, decorrentes da crise estrutural da estabilidade, segurança e organização social, geradas pela crise atual. Em seu chocante livro, The New Jim Crow, a jurista Michelle Alexander revela que o encarceramento em massa, nos EUA, é “como um sistema incrivelmente abrangente e bem disfarçado de controle social racializado”.
De fato, a natureza racializada das “guerras contra as drogas” hipócritas, dos encarceramentos em massa e das sentenças de morte social proferidas é tão cruel que choca os sentidos. Em uma abstração analítica, os encarceramentos em massa tomam lugar dos campos de concentração. O sistema submete uma população excedente de milhões, potencialmente rebeldes, a um aprisionamento sob violência estatal. As chamadas (e declaradas) “guerra contra as drogas” e “guerra contra o terrorismo”, bem como as não declaradas “guerra contra a juventude pobre” e a “guerra contra os imigrantes”, precisam ser colocadas neste contexto.
Em quarto lugar, em seu brilhante e ainda assustador estudo “Cities under Siege: The New Military Urbanism” ["Cidadas sitiadas: o novo Urbanismo Militar], Stephen Graham mostra como estruturas e processos de controle controle social militarizado constituem um projeto glogal que é, por definição, transnacional. É importante notar que cada país enredou-se no policiamento da crise global, assim como da economia global torna-se cada vez mais imbricada com o negócio da guerra, violência social e coerção e repressão estatal organizadas.
Quinto e último ponto: a militarização e a violência organizada tonaram-se estratégias de acumulação, independente de qualquer objetivo político, e aparecem como características estruturais do novo capitalismo global. Guerras, sistemas de encarceramento em massa, militarização das fronteiras, detenção de imigrantes, desenvolvimento de sistemas de vigilância globais – e assim por diante – são imensamente rentáveis para a economia corporativa global, para as multinacionais, os banqueiros transnacionais, investidores e especuladores. As forças populares de base devem estar conscientes da ameaça enfrentam, mas há necessidade de uma mudança fundamental no poder e nas relações de propriedades do capitalismo global, se queremos atingir a paz e a justiça.
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As ideias deste ensaio serão desenvolvidas em detalhe no livro Global Capitalism, Global Crisis, a ser publicado em 2014 pela Cambridge University Press. Este texto baseia-se numa fala à Conferẽncia sobre Poder e Justiça, em Nova York

▶ conversa com Giuseppe Cocco by Radio Comum

▶ conversa com Giuseppe Cocco by Radio Comum

domingo, 8 de setembro de 2013

Toni Negri: América Latina deixou de ser periferia

Toni Negri: América Latina deixou de ser periferia
Dinamismo das lutas sociais na região seria contraponto ao declínio da esquerda europeia e abriria caminho para política dos “comuns”
Entrevista a Verónica Gago e Diego Sztuwark, no Página 12 | Tradução: Hugo Albuquerque | Imagem: MZK,sem título 
Prestes a completar oitenta anos, o pensador italiano Antonio Negri, autor, ao lado de Michael Hardt, da trilogia “Império-Multidão-Commonwealth” (a última parte ainda sem tradução para o português) e de clássicos como “Poder Constituinte: ensaio sobre as alternativas da modernidade”, participou do IX Colóquio Internacional Spinoza, na Universidade Nacional de Córdoba, Argentina. Negri centra o foco de suas análises na transformação radical pela qual passou o capitalismo, a partir dos anos 70, com o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, fato que alterou a forma de produção — agora imaterial e cognitiva — e a maneira como o capital controla o trabalho.
A saída de cena da linha de montagem fabril e a ascensão dos grandes salões de telemarketing — enquanto o sistema financeiro termina por se afirmar como o “elemento que unifica o complexo social, de um modo abstrato, porém efetivo” — é o que interessa a Negri, na sua leitura inovadora de Marx, firmemente assentada no imanentismo de Spinoza — que se volta para a defesa do comunismo no horizonte do capitalismo cognitivo e, por tabela, globalizado. Não existem, dentro do sistema negriano, concessões para o sistema do capital como também não há saída que não seja global para um capitalismo globalizado, no qual os Estados-nações estão postos em função do funcionamento do sistema.
Diante do Império capitalista global, é necessário mais do que indignação e velhas táticas, a compreensão do fenômeno e a produção de novas formas de atuação, baseadas na multidão como classe emergente global e na reapropriação da riqueza comum. É essa preocupação que fez de Negri um observador atento, e visitante recorrente, da América Latina: ele enxerga nas experiências dos movimentos sociais do continente, e sua relativa “chegada ao poder” nos últimos anos, fatos dignos de atenção no que concerne à constituição de uma nova práxis revolucionária global, objeto central de sua obra militante.
Lutas como as do novo sindicalismo e dos sem-terra no Brasil, dos movimentos indígenas na América Andina — sobretudo na Bolívia e Peru — e de movimentos democráticos antineoliberais por todo o continente, sua ascensão na forma dos governos Lula, Kirchner, Chávez ou Morales (entre tantos outros) e o consequente atravessamento que passou a existir entre Estado e movimentos animam o pensamento de Negri — em contraste com a constatação da paralisia da esquerda europeia, burocratizada e elitizada.
É certo que o ciclo de mais de uma década desses governos apenas aprofundou certas contradições já existentes nos seus planos iniciais, sobretudo no que toca ao fortalecimento do extrativismo. Como agir diante disso? Quais ganhos e quais projetos merecem mais atenção? Quais ainda merecem atenção? São questões como estas que Negri buscou responder em uma entrevista ao periódico argentino Pagina 12. (Hugo Albuquerque.)
Há alguns anos, você propôs uma hipótese para entender a situação política na América do Sul: disse que havia um atravessamento do Estado por parte dos movimentos sociais. Desta maneira, o poder constituinte dos movimentos podia desenvolver-se, ainda que de modo conflitivo, no interior do poder constituído. Agora fala em estar “dentro e contra” o Estado. Como você lê atualmente esta relação entre potência popular e Estado?
Eu penso que quando se diz “dentro e contra”, se faz uma afirmação metodológica que sempre deve ser confrontada com as determinações do concreto. Não é que “dentro e contra” signifique sempre o mesmo, mas sim que se trata de adotar uma perspectiva da qual se enxergam as coisas. Tenho a impressão de que tanto do ponto de vista da gestão econômica como da política houve, nos últimos anos, um relativo declive a partir da situação inicial formada na última década, depois de 2001, quando havia um quadro efetivamente revolucionário. Houve um primeiro deslocamento do ponto de vista econômico a partir do governo de Néstor Kirchner: a partir de uma recuperação produtiva, que tomou como base a produção social em um sentido amplo, se produziu uma confrontação com os ditadores dos mercados, sustentada pela experiência de resistência do período anterior. Aquele primeiro momento foi efetivamente muito importante, na medida em que ganharam força os movimentos piqueteiros, as ocupações de fábrica, a organização das vizinhanças como base de ampliação do terreno da produção social, sem fechar essas experiências em uma interpretação puramente ideológica. Este elemento novo da produtividade social insurgente é a força que consegue se fazer representar em um processo institucional efetivo, que tem a nação como espaço definido. Nesse sentido, o poder político nacional consolidou a efetiva necessidade de ter um ponto de referência central para enfrentar os mercados e suas manobras monetárias. Por exemplo, deste ponto de vista, a renegociação do pagamento da dívida e as tratativas com o Clube de Paris têm sido um momento de requalificação da trama institucional da democracia argentina em relação aos esquemas herdados do peronismo tradicional, levando em conta as mutações no tecido social.
E qual sua impressão sobre o que aconteceu depois?
Do ponto de vista econômico, parece que foi dado um impulso ao extrativismo, empurrado pelo agronegócio da soja, consolidando a estrutura de relações com as grandes empresas multinacionais. Seguramente, a disputa com o campo teve a ver com isso. Desse ponto de vista, parece ter havido uma paralisação e uma forte intenção de centralizar o poder por parte do governo. O extrativismo não é apenas um fato econômico. Não se trata somente de discutir que pode ser útil concentrar a produção em certos produtos, mas sim ter em conta que isso funciona como negação efetiva de uma democratização econômica, no sentido de que nega uma produtividade generalizada. Agora, a pergunta é como faz o modelo atual para garantir um regime efetivo de bem-estar na Argentina. Tenho a impressão de que as políticas sociais — tal como acontece, por exemplo, na Venezuela — adotam cada vez mais a aparência de concessões ao povo e, por tabela, cada vez menos parecem ser consequência de uma mobilização geral produtiva, à qual corresponde um welfare efetivo.
E como funciona então o “dentro e contra” o Estado nesse 
Consiste na utilização do Estado, por assim dizer, no interior do espaço global dos mercados, colocando no centro esse problema fundamental da democracia, que não é tanto o problema da liberdade, mas sim o da produção. Quero dizer que é no nível das condições materiais de produção que se desempenham, em essência, o devir democrático e a conquista de novas liberdades.
Como você acredita que outros países da América Latina manejam a relação entre welfare e extrativismo? Pensemos nas experiências importantíssimas de Venezuela e Brasil.
Já mencionei o que se passa na Venezuela. Não sei se podemos chamar de welfare, mas há ali, sem dúvida, uma difusão de serviços às comunidades com significativo salto político e tecnológico com o apoio cubano (médicos, professores etc). Foi algo muito importante, na medida em que houve um constante crescimento no nível de expectativa de vida. Sem dúvida, uma verdadeira democratização da sociedade supõe enfrentar muitas dificuldades. Por exemplo, os problemas que se abateram sobre as missões, ao mesmo tempo em que se forma uma nova burguesia, tão ativa quanto espoliadora. Tenho uma avaliação mais positiva do processo brasileiro, que conta com condições excepcionais do ponto de vista dos recursos naturais e sociais. Há, de fato, uma situação muito afortunada, mas não há dúvida de que a política de Lula foi capaz, efetivamente, de permitir que todos participassem do desenvolvimento, configurando uma sociedade aberta, em termos democráticos e produtivos. Lula desencadeou uma luta de classes contínua, contra uma burguesia e um setor capitalista fortes e com grande capacidade, o que supõe problemas enormes.
O Brasil lhe parece um modelo?
Não sei se essas lutas podem se dar de modo igual em diferentes lugares. Não creio que sua política seja um modelo. Mas, esses dias eu me perguntava sobre a ênfase do discurso oficial argentino a respeito da batalha contra o grupo Clarín. Lula precisou enfrentar o enorme poder da televisão brasileira e não fundou um só diário, preferindo apoiar-se na capacidade de intervir sobre outros setores, sustentado em uma politização das bases por meio dos grandes movimentos, como o MST e os movimentos de favelados que foram extremamente importantes. A situação argentina não parece contar hoje com uma capacidade de recriar movimentos sociais dessa magnitude, ainda que eu tenha muitas dúvidas a esse respeito. De toda a maneira, me parece que o problema da democracia se mostra com toda clareza na América Latina, isto é, que ela já não pode ser pensada como um território periférico, pois em muitos aspectos constitui um cenário central para todos nós.
O extrativismo convive em boa parte da América Latina com uma retórica contrária ao neoliberalismo, mesmo que não haja uma série de práticas sociais que funcionam segundo lógicas de apropriação neoliberais. Como avalia essa defasagem?
A mim parece que quando o Estado se pronuncia contra o neoliberalismo, ele mente. Existe toda uma série de acordos específicos com multinacionais. É um pouco o que aconteceu aqui (na Argentina) no momento da crise do campo. Dentro do marco no qual surgem esses acordos, atuam as empresas nacionais e os empreendimentos cooperativos imersos na lógica capitalista. Esses governos estão contra o neoliberalismo? Talvez seja melhor dizer: estão contra as extremas consequências do neoliberalismo, que são aquelas que buscam anular o welfare. Mas essas são apenas as consequências extremas.
Podemos pensar que é o capital financeiro, enquanto tal, que funciona de um modo parasitário em relação à produção de valor do conjunto da sociedade?
Tenho a impressão que há uma identidade completa entre capital financeiro e extrativismo. Mesmo que os governos progressistas da América do Sul tenham construído novas relações de força em relação aos mercados financeiros, o certo é que esses capitais seguem funcionando a partir da expropriação do valor produzido pela cooperação social. É certo que o capital financeiro continua sendo o elemento que unifica o complexo social, de um modo abstrato, é verdade, porém efetivo. E não se trata de uma intervenção que venha de fora, de um modo imperialista: ao contrário, trata-se de uma intervenção que condiciona a máquina social inteira, e busca prefigurá-la. Por isso é insuficiente toda tentativa de lhe opor meramente uma estrutura de regulação vertical. O problema político que se impõe é, na verdade, como articular contra isso as pluralidades produtivas. Eu não vejo uma proposta diferente.
Não lhe parece também um problema o modo como se fixa uma certa imagem do movimento social, incapaz de dar conta de novos modos mais difusos de organização?
Creio que isso se trata, efetivamente, de um verdadeiro problema. Vejo que, por esses dias, fala-se muito [na Argentina] dos panelaços. Para além do sentido político que possui o movimento — pelo que escuto aqui, é um movimento basicamente de direita –, trata-se de fenômenos que não se expressam no nível institucional, mas no das multidões. Coloca-se a pergunta: como se pode dizer que uma multidão é “boa” ou “má”? Creio ter uma resposta, embora ela seja abstrata: o que distingue uma boa multidão da má é o que chamo de comum. Trata-se de uma hipótese teórica que abarca também uma noção de democracia substancial, não como algo meramente formal. Eu me refiro à democracia enquanto capacidade de organizar um conjunto de relações, e extrair delas uma consciência política. O comunismo não é algo que pode brotar do comum de modo direto. Por isso, há de se criar formas políticas capazes de pôr as singularidades em relação, e de dar-lhes uma forma institucional no decorrer do processo.
Como você pensa essa forma institucional sem que se termine atado ao Estado nacional?
Creio que depois da grande polêmica contra o Estado-nação, e também frente ao poder de inovação capitalista, devemos refletir sobre os termos nos quais se considera a questão hoje, a partir de uma visão de esquerda. Na Europa, o fracasso da esquerda consiste em não ter conseguido ir além do Estado-nação e de não chegar a imaginar uma gestão do poder por fora e para além dele. O defeito da esquerda europeia é ter identificado a própria ideia de governo como uma única instância. Ao identificar a ideia de governo à de Estado nacional, a capacidade de imaginar formas de governo sobre os mercados ficou bloqueada, uma vez que eles possuem poderes que excedem as fronteiras dos países. E então, acontece que os mercados criam por eles mesmos suas instância de governo. Assim, o Banco Central atua como representante da rede europeia: é disso que se trata o comunismo do capital. Na América Latina, as coisas se dão de outro modo, embora também aqui se trate de superar visões que se fecham nos limites dos projetos nacionais-extrativistas. E me parece que a possibilidade de articular uma espacialidade mais ampla passa pela compreensão do papel desempenhado pelo Brasil.
Em que sentido?
Porque o Brasil produz mais do que produzem os demais países da América Latina, e tem uma enorme capacidade de atração no nível internacional, fato que o coloca necessariamente em posição hegemônica. Esse problema se situa fora do conceito de hegemonia que propõe Laclau, referido exclusivamente ao nível nacional, e que exclui a necessidade de levar a sério o nível regional. Creio que teríamos de pensar em um equilíbrio da relação entre espaços nacionais e regionais a partir de uma colaboração real. Porque se os países se fecham na exportação de seus recursos naturais, é muito fácil que passem a competir uns com os outros, ao estilo do Oriente Médio, mas sem xeique.
Você fala de uma série de paradoxos em torno do que chama biocapitalismo e o sujeito atual “homem-máquina” como parte da dinâmica de valorização. De que se trata?
Seria importante voltar a trabalhar sobre as noções de Marx, tais como capital constante e capital variável, além de capital fixo e capital circulante, para ver como essas categorias se modificam a partir da hegemonia do capital financeiro. O paradoxo é que, ao mesmo tempo que as finanças constituem atualmente o próprio poder do capital, a força de trabalho está determinada por novas formas de existência em virtude de sua mobilidade, da incorporação do conhecimento e do fato de que sua cooperação tornou-se autônoma. Neste sentido, pode-se dizer que o trabalho vivo sofreu uma mudança antropológica: o homem-máquina, tomando aqui como exemplo a imagem de Deleuze e Guattari, se apropriou de elementos do que Marx tradicionalmente chamou de capital fixo, isto é, as máquinas. Essa mutação supõe que o capital já não dirige o trabalho de modo direto, mas sim à distância, capturando o trabalho a partir de dispositivos financeiros. Trata-se de um capital que capta o resultado do trabalho em rede. Esta é uma grande diferença, que implica uma série de consequências políticas.
Por exemplo?
Por exemplo, a respeito da questão da propriedade, que concerne cada vez menos à posse imediata de um bem e mais à apropriação de uma série de serviços. A propriedade depende cada vez mais do conjunto do trabalho que se organiza em torno da posse. A composição desse trabalho se dá como uma realidade inteiramente bipolítica, que implica um movimento de subjetivação fundamental. Me parece que a reconstrução de um pensamento revolucionário deve se desenvolver sobre este terreno, no sentido de ligar a análise dessas transformações à utopia: nisso, Maquiavel, Lenin e Gramsci continuam sendo muito atuais.
Você fala também de uma moeda do comum, a que se refere?
Creio que hoje se coloca o problema da reapropriação da riqueza comum, processo que só poderá se dar por meio da moeda do comum, de modo a torná-la o mais extensa possível, aceitando sempre a abstração da relação, já que isso não pode ser revertido. Logo, nesse território, só uma luta comum em nível global é que resolve o problema. Não vejo outras soluções. Pode haver soluções particulares de ruptura, expulsar uma multinacional, repetir operações com a de 2001, não pagar, declarar a insolvência: são momentos de luta, mas não de solução. Esses são problemas que se colocam politicamente de maneira muito forte, por isso este é um momento maquiavélico puro.
de: outras palavras blog

Folha de S.Paulo - Mercado - Austeridade não funciona e só protege os ricos, diz autor - 07/09/2013

Folha de S.Paulo - Mercado - Austeridade não funciona e só protege os ricos, diz autor - 07/09/2013

SOPRO 43 - Janeiro/2011

SOPRO 43 - Janeiro/2011

A revolução acabou.
Começa a idade da revolta
por Marco Belpoliti
(Publicado originalmente no La Stampa em 16 de fevereiro de 2010. Disponível em http://www3.lastampa.it/politica/sezioni/articolo/lstp/380235/ - Tradução de Eduardo Sterzi)

Adeus, revolução? Sim, o seu lugar foi tomado pela revolta. De Clichy-sous-Bois, na periferia parisiense, em 2005, até Atenas em 2008, até o ataque dos estudantes londrinos em 2010, ou até a passeata dos estudantes ganhar as ruas de Roma anteontem, a revolta parece ter tomado o lugar das forças revolucionárias. A revolta não tem projeto, não se projeta no tempo futuro. Como sustentou um dos seus teóricos, o germanista e mitólogo Furio Jesi, morto justo há trinta anos, em Spartakus. Simbologia della rivolta, texto de publicação póstuma, «antes da revolta e depois dela se estendem a terra de ninguém e a duração da vida de cada um, nas quais se perfazem ininterruptas batalhas individuais». Evocando Rimbaud e a Comuna de Paris, Jesi afirmava: «Só na revolta a cidade é sentida como o haut-lieu e ao mesmo tempo como a própria cidade»; na hora da revolta não se está mais sozinho, mas se está no fluxo cambiante do Nós, entidade provisória e lábil, extática e violenta.
Depois do fim das ideologias, depois da queda do Muro de Berlim e do triunfo do pensamento único, no Ocidente como no Oriente, em Nova York como em Xangai, a revolta suspende o tempo histórico e cria o instantâneo; é o triunfo do presente contraposto ao futuro. Não se espera mais o dia da conclusão do longo processo revolucionário. A revolta instaura um tempo extático, escreve Pierandrea Amato, um dos teóricos das novas revoltas metropolitanas, o aqui e agora. Walter Benjamin relata como, no decurso da Comuna de Paris, os revoltosos dispararam contra os relógios, símbolo do tempo escandido pelo progresso, pela disciplina do trabalho. A revolta não prevê, mas vive no repentino; não pressupõe nem mesmo uma classe social que tomará o poder, mas só indivíduos atomizados, que no curso das insurreições espontâneas, não preparadas e contagiosas, se tornam uma força provisória. Se as revoluções cultivavam o sonho do ataque ao Palácio de Inverno, conquista do centro simbólico do poder, a revolta advém de modo molecular com o intento de condicionar materialmente o andamento normal das coisas.
Depois da revolta nada é mais como antes. Para os seus teóricos – Paolo Virno, um dos filósofos italianos hoje mais citados no mundo, mas também os franceses Alain Badiou e Jacques Rancière – a revolta é o análogo da catástrofe, do colapso a que nos habituou o novo capitalismo financeiro, a única resposta possível a uma sociedade que não parece mais ter nenhum fundamento certo, nenhuma teoria com a qual justificar o próprio domínio, a não ser a coerção, o uso da força ou a sedução do consumo. Vivemos na época do desastre, como havia intuído na metade dos anos sessenta Susan Sontag.
A revolta é filha da crise da democracia representativa que no Ocidente, por causas complexas, parece ter perdido a própria função histórica. Os revoltosos, movidos por razões freqüentemente diferentes, mostram, nas periferias urbanas francesas como no centro de Roma, nas ruas de Atenas como nas localidades ao redor de Nápoles, o emergir de uma política que se põe para além do sistema que hoje a representa: são a expressão de uma caótica e espontânea vontade de viver, oposta e simétrica àquela que na Itália domina a cena política maior. Pierandrea Amato, em La rivolta, publicado recentemente, escreve que a revolta é um vento que traz consigo a própria auto-desintegração.
Os garotos que correm com os capacetes e escudos pelas ruas, que sobem nos monumentos, que aparecem e desaparecem nas banlieues, tocando fogo nos automóveis e nas latas de lixo, mostram a existência de um campo de forças que escapa às categorias políticas tradicionais, ao marxismo e ao pós-marxismo tanto quanto às teorias neoliberais. A revolta acontece, do mesmo modo que um evento artístico, uma manifestação momentânea, uma performance. Não se pode representá-la nem de forma política nem espetacular; é um acontecimento extático, mais próximo das formas religiosas, da festa, do que das estruturas da representação política, tais como um partido ou um parlamento: vive, não se representa. A sociedade do espetáculo que dominou nos últimos vinte anos, realizando a profecia de Guy Debord, agora tem diante de si uma série de acontecimentos não capturáveis nas formas do espetáculo midiático.
Aquilo que, em definitivo, a revolta desestrutura é a idéia mesma da identidade política. O Nós aparece e desaparece, e suspende o tempo histórico em favor daquele que os gregos chamavam Kairos: o justo instante, o golpe de vista, aquele em que o atleta perfaz o movimento justo, supera o adversário, cruza a linha de chegada. Devemos preparar-nos para viver num tempo diverso daquele que marcou as vidas dos nossos pais e avós, um tempo que não tem uma única direção, ou uma destinação predeterminada, mas que acontece e ao mesmo tempo colapsa, que se mostra e se subtrai. O Homo seditiosus é o campeão de uma humanidade que sai às ruas hoje, mas também amanhã e depois de amanhã, para realizar «uma arte sem obra».

Sopro -
é um panfleto político-cultural, publicado pela editora Cultura e Barbárie: http://www.culturaebarbarie.org
De periodicidade quinzenal, está na rede desde janeiro de 2009.
Editores: Alexandre Nodari e Flávia Cera.

sábado, 7 de setembro de 2013

IQUID DEMOCRACY, OCCUPY MOVEMENT & COMMUNITY CURRENCY

http://urbanohumano.org/social-innovation/liquid-democracy-occupy-movement-community-currency/http://urbanohumano.org/social-innovation/liquid-democracy-occupy-movement-community-currency/

Folha de S.Paulo - Mercado - Austeridade não funciona e só protege os ricos, diz autor - 07/09/2013

Folha de S.Paulo - Mercado - Austeridade não funciona e só protege os ricos, diz autor - 07/09/2013

A austeridade é uma ideologia fracassada que é esgrimida pelos ricos para repassar o custo das crises para os pobres. Historicamente tem provocado desemprego, conflitos sociais, guerras.
Esse é o cerne de "Austerity, the History of a Dangerous Idea" [Austeridade, a história de uma ideia perigosa], de Mark Blyth. Professor de política econômica internacional na Universidade Brown, ele é doutor em ciência política pela Universidade Columbia, as duas nos EUA.
Filho de açougueiro, Blyth nasceu em 1967, na Escócia. Houve tempo em que ia para a escola com furos nos sapatos. O Estado do bem-estar social europeu lhe proporcionou ensino de qualidade e ele ascendeu socialmente --hoje, integra instituições de alto prestígio.
Agora, esse arcabouço que viabilizou seu avanço está colocado em xeque pelas políticas de austeridade que se estabelecem por todo lugar. O acadêmico teme que as próximas gerações não tenham as chances que ele teve e que o futuro esteja garantido apenas aos já privilegiados. Por isso decidiu escrever o livro, conta no prefácio.
Dedicado ao estudo da política das ideias, Blyth navega pela história, pela filosofia, pela economia. Vasculha as origens da ideologia da austeridade nos escritos de John Locke (1632-1704), David Hume (1711-1776) e Adam Smith (1723-1790), feitos num tempo em que a noção de deficit público estava associada a gastos de reis e suas cortes.
Mesmo assim, lembra que no clássico "A Riqueza das Nações" Smith reconhece que o mercado não pode existir sem o Estado --essencial para a defesa externa, segurança da propriedade privada, estabelecimento de um sistema judiciário, policial, educacional etc.
DEPRESSÕES
Na análise dos séculos 20 e 21, Blyth ressalta que as lições dos erros cometidos em torno da Grande Depressão advinda do crash de 1929 foram esquecidas. Didaticamente, explora os casos da Alemanha, do Japão, dos EUA e da França após a Primeira Guerra Mundial. Em todas essas situações, as políticas austeras fracassaram em recuperar as economias, levando os países ao desastre.
Nos EUA, as medidas de aperto e de corte nos gastos públicos fizeram o desemprego saltar de 8%, em 1930, para 23%, em 1932. No Japão, a austeridade criou a pior depressão da sua história, fez eclodir assassinatos políticos e deu poder à elite que encaminhou o país à guerra.
Na Alemanha, o autor descreve as sucessivas políticas de arrocho que, com o acréscimo de erros dos social-democratas de então, ajudaram a trazer Hitler ao comando do país. Na França, modelo semelhante também provocou uma hecatombe, pavimentando o caminho para a perda de soberania nacional.
Blyth mostra como o Banco da França atuava em defesa dos interesses das 200 famílias mais ricas do país, beneficiando rentistas e prejudicando a maioria da população.
Entre 1932 e 1936, os gastos governamentais foram cortados em 20% (derrubando despesas militares), a produção industrial encolheu e os salários afundaram.
"As elites francesas estavam tão preocupadas com a inflação e tão determinadas a manter o valor do franco que paralisaram a capacidade militar da França de se mobilizar contra Hitler. A austeridade não apenas falhou --ela ajudou a explodir o mundo. Essa é a definição de uma ideia muito perigosa", afirma o autor.
Blyth vê semelhanças entre a França dos anos 1920 e a crise atual. "A alternativa a cortar é taxar", defende. Para ele, a crise foi gerada pelo setor privado e está sendo paga pelo setor público.
"Os bancos prometeram crescimento, entregaram perdas, passaram o custo para o Estado e depois culparam o Estado pelo deficit", ataca. "Os de baixo estão ouvindo o discurso de apertar os seus cintos feito por aqueles que estão vestindo calças muito largas", diz.
Na sua visão, há risco de as políticas de austeridade, como no passado, produzirem crises políticas e sociais. Desconstruindo a cantilena oficial das "crises soberanas", o professor argumenta que talvez os bancos não devessem ter sido resgatados pelos governos. Compara casos como o da Irlanda e da Islândia.
Em linguagem aguda e clara, o livro ajuda a entender o momento para além dos números.
"Austerity, the History of a Dangerous Idea"
AUTOR Mark Blyth
EDITORA Oxford University Press

Pots, Pans and Other Solutions_Islandia revolution

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Crianças criam mapas de comunidade que não vem no Google Maps

Crianças criam mapas de comunidade que não vem no Google Maps

(1) Rodrigo Guéron para Marilena Chauí

(1) Rodrigo Guéron
Marilena Chauí: quando a história da filosofia é usada contra o pensamento.
Rodrigo Guéron

Tenho notado que Marilena Chauí, cujo ótimo curso recente sobre “Espinosa e a Política” na PUC assisti de caneta e caderninho em punho, há algum tempo tem usado a história da filosofia contra a filosofia e o pensamento em geral.
Estive, estes dias, reunindo anotações para responder a forma como ela desautoriza o uso de alguns conceitos (como o conceito de “multidão” originalmente de Espinosa, mas redefinido por Antonio Negri), ou a articulação e aproximação entre conceitos (como “trabalho vivo” em Marx e “produção de subjetividade” em Deleuze e Guattari) às vezes em nome de uma fidelidade ao sentido puro e imaculado que estes conceitos teriam nos filósofos que os pensaram, às vezes em nome de uma fidelidade historicista à história da filosofia que limitaria a possibilidade de aproximação dos conceitos e seus sentidos numa divisão lógica de contextos e classificações históricas fechadas, e linhagens filosóficas determinadas.
Além disso, a maneira reativa como Chauí tem se referido aos movimentos que tomaram as ruas do país a partir de junho, nos dá a impressão que a professora despreza os acontecimentos nas suas singularidades o que, convenhamos, não é nada materialista. Marilena parece não suportar o incompreensível, o que não é absolutamente enquadrável pelos seus aparatos conceituais prontos, ou seja, o que ela evita é exatamente um dos princípios, um dos agentes provocadores do pensamento: aquilo que nos tira do nosso lugar habitual, do nosso conforto intelectual, que é também físico, demandando novas criações, sejam conceituais, sejam artísticas.
Não é possível reduzir os acontecimentos aos esquemas de pensamento previamente dados. Na filosofia, e antes na política e na vida de uma maneira geral, são os conceitos que devem dizer os acontecimentos, ou seja, os conceitos devem ser criados e recriados a partir dos acontecimentos. E, uma vez criados, os conceitos tornam-se espécies curiosas de ferramentas que materialmente se constituem mais ou menos na forma como Simondon compreendia a matéria: não “matéria e forma”, mas sim “matéria e força”. Ao que eu acrescentaria: os conceitos são ferramentas que se alteram – tornam-se outras – no seu uso, vivas e vitais como os comandos de games que o cineasta David Cronemberg nos mostra no seu “Existenz”.
Pois é, como eu ia dizendo, eu estava aqui reunindo anotações para abrir este bom debate, tentando mostrar que o valor do estudo da história de filosofia é que ela nos permite um “pensar com”, como pudemos fazer nas aulas da professora quando ela explicava de maneira esplêndida os sentidos e os caminhos dos pensamentos de Espinosa. Mas a história da filosofia não pode ser uma espécie de espada sobre o pensamento, nem um distintivo de autoridade acadêmica contra a criação de sentido.
Tudo isso era o que eu iria desenvolver em meu texto, passando pela crítica à maneira determinista como acho que Chauí usa a teoria marxista de classe, quase como um transcendente, uma “lei da história” que enquadra as dimensões políticas dos conflitos e da inventividade da produção social de fora para dentro. E aqui eu apontaria os problemas trazidos pela desconsideração que quase todo o marxismo tem pelo ponto mais fundamental e radicalmente materialista do pensamento de Marx: o conceito de “trabalho vivo”. É neste momento que o barbudo identifica o homem como “parte da natureza como força produtiva”, afirmando a nossa dimensão autopoiética: auto inventiva e auto produtiva. Não compreender as possibilidades desta reflexão de Marx, não compreendendo que o “trabalho” nesse caso passa a ser a própria condição do ser como criador e reinventor de si e do mundo – tudo o que se produz, o que se faz, o que se inventa, é trabalho – é uma limitação dos marxistas que faz com que eles reduzam a compreensão da política a uma disputa pelo Estado. Marx nos mostra, no entanto, uma dimensão política que existe potencial e imediatamente no trabalho, na sua inventividade quando ele é livre, isto é, quando ele consegue escapar às maneiras como o capitalismo organiza a produção e, consequentemente, define as relações sociais e impõe formas de vida. É próprio do capital, no entanto, querer dizer o que é e o que não é trabalho e produção, mudando suas axiomáticas de acordo com suas conveniências. Assim samba, rock-punk, ou funk podem ser coisas de malandros, vagabundos e bandidos, mas, contas refeitas, podem virar um ótimo ativo da indústria musical. No final das contas (literalmente) o capital gosta de dizer que toda a produção só existe graças a ele, tomando-se como um “pressuposto natural e divino” de todo o processo de reinvenção do mundo e da vida.
Há, no entanto, um desejo produtivo, gerador e gerado pela abundância dos meios de produção, tecnologias e bens do capitalismo, que nos impulsiona para muito além da forma mercadoria e de suas mensurações de valor quantificadoras e redutoras. O “trabalho vivo” é a própria operação da vida, a sua ação produtiva que se dá como uma mobilização social e que é por isso política, e que tem a sua dimensão anticapitalista quando produz formas de vida múltiplas para além das limitadas formas de vida dos “padrões de mercado”. E aqui sim “trabalho vivo” pode ser articulado com “produção de subjetividade”, para além de qualquer cânone filosófico. O erro recorrente nas análises políticas de Marilena Chauí e da maioria dos marxistas brasileiros (embora Chauí esteja num nível muito mais alto do que uma vulgata marxista que parece que simplesmente parou de estudar e pensar) é o de não entender a dimensão política do trabalho vivo – da produção de subjetividade – nas últimas décadas, e de como o capitalismo se reestruturou, como forma de poder e de extração de mais valia, partir destas; ou seja, o próprio processo do neoliberalismo. Ao excluir de suas análises políticas toda esta vitalidade, os marxistas são sistematicamente derrotados pelo capitalismo que se apresenta falaciosamente como a única forma de organização produtiva capaz de responder aos desejos. O capitalismo aprendeu muito melhor que as esquerdas que toda a operação produtiva pode ser considerado trabalho e disseminou as formas de exploração a partir das resistências e das linhas de fuga construídas a ele mesmo, como se tivesse entendido de acordo com seus interesses a tal sociedade onde o homem poderia “pescar de manhã e ler à tarde” descrita por Marx, descobrindo que daí poderia extrair mais valia à vontade.
Sim, eu sei, este seria o trecho do texto mais difícil e que mereceria mais desenvolvimento. Mas isso é o que eu iria tentar fazer até que a professora fez uma fala na academia da PM chamando os black blocs de fascistas. Foi algo que me deixou tão triste, tão decepcionado e perplexo, que comecei a achar que qualquer debate mais aprofundado, neste caso, seria inútil. Senti, de fato, uma sensação de impotência, como se tivesse levado uma rasteira de alguém que sempre tive, politicamente falando, como uma aliada e uma referência: uma “companheira”, com o perdão do jargão. E é por isso que meu texto a partir daqui muda de tom e torna-se quase outro.
Na verdade, já em meio às suas ótimas aulas, algumas das vezes que a Professora Marilena saia do esclarecimento dos pensamentos de Espinosa para comentar algum fato recente, todo o seu rigor histórico desaparecia. Ela chegou a falar, por exemplo, que o fenômeno eleitoral do comediante Beppe Grillo na Itália não tinha importância nenhuma e era a mesma coisa que o caso de Tiririca no Brasil. Demonstrou assim um desconhecimento completo do “movimento cinco estrelas” que Beppe liderou e que, com todas as contradições que pode ter, levou ao parlamento italiano dezenas de lideranças de novos movimentos sociais, arrombando a porta dos esquemas de poder que fecham cada vez mais as estruturas da representação política para a democracia.
Tudo bem, todos nós professores falamos de vez em quando as nossas besteiras em meio as nossas aulas: não é possível estar bem informado sobre tudo o tempo todo. Mas ao acusar os “blocs” de fascistas na academia da PM a professora Marilena chegou não só a um ponto de irresponsabilidade política como de cumplicidade com a violência sistemática da PM do Rio, não só na repressão às manifestações, como no trato da população em geral.
Eu deveria começar aqui todo um grande trecho explicando quem são os blocs e esclarecendo que as manifestações e os movimentos em curso hoje no Rio vão muito além desse grupo político. Poderia dizer que muitos dos militantes blocs são da periferia, que o máximo de violência a que chegam é quebrar as vidraças de símbolos da opressão, como os bancos, virar algumas lixeiras e coisas do tipo. Deveria contar para a professora Marilena Chauí toda a estratégia de infiltração dos policiais militares nas manifestações do Rio, que foram muitas vezes policiais infiltrados que lançaram molotovs, que pessoas foram feridas com balas de borracha, manifestantes imobilizados no chão tomaram choques elétricos, que bombas de gás foram lançadas dentro de bares e restaurantes e até de hospitais. Poderia contar para ela que os blocs protegeram, numa luta defensiva, os manifestantes diante da repressão e permitiram, com sua resistência, que eles se retirassem com alguma segurança na manifestação dos 300 mil onde a ação da polícia quase provocou uma tragédia. Deveria lembrar à professora que o governo Cabral criou por decreto uma comissão inconstitucional para investigar as pessoas e que muitos cidadãos estão sendo processados no Rio de Janeiro apenas por participarem de manifestações. E sobre a polêmica das máscaras, bastaria eu dizer uma coisa: os black blocs andam mascarados, entre outros motivos, porque a polícia do Rio tortura e mata; é simples assim.
Mas como uma tão rigorosa guardiã do cânone da história da filosofia não se deu a um mínimo rigor de pesquisar tudo isso? Marilena Chauí de fato não sabia de nada quando aceitou dar uma palestra na PM e dizer nesta que os blocs são fascistas? Ela desconhece o que está em sendo colocado em questão pelos movimentos onde os blocs aparecem de forma importante? Não sabe que vivemos numa cidade, e num estado, totalmente privatizados pelo poder que deveria ser público, onde uma política arbitrária e violenta de remoções se proliferou, onde a especulação imobiliária aumentou o preço dos imóveis em até quinhentos por cento, onde um empresário, um grupo empresarial e um cartel dominam os ônibus, os metrôs, os trens e as barcas, recebem licenças, e até dinheiro público, para construir prédios imensos sem qualquer critério, controlando e elitizando até mesmo um dos maiores símbolos da cultura popular da cidade: o seu estádio de futebol, o Maracanã? Ela não sabe quanto ganham os professores da cidade e, pior, os do estado, em greve e mobilizados nas ruas no exato momento em que ela proferia sua palestra na PM?
A professora Marilena Chauí deve desculpas aos cidadãos do Rio de Janeiro, ela precisa retirar o que disse visto que isso pode custar ataques ainda maiores aos manifestantes em geral, inclusive aos corajosos e criativos meninos dos black blocs. Eu teria até críticas a fazer a eles eventualmente. Eu me preocupo, por exemplo, que os movimentos de uma forma geral não se isolem e não caiam numa lógica de auto-martirização. Não digo que isso esteja necessariamente acontecendo, mas às vezes acho que se insinua esta tendência. Mas a fala da Professora Marilena Chauí fez com que eu me sentisse impelido a escrever em defesa dos blocs e dos movimentos que tem acontecido no Rio sobre os quais, insisto, vão bem além desse original grupo político.
Se a professora não quer nos prestar solidariedade porque nossos atos não seguem as “leis” que imagina que a história deveria ter, se ela insiste em se apresentar como a guardiã da doutrina espinosista e da doutrina marxista, esta última, aliás, negada pelo historicismo que tem professado, que nos deixe lutar e pensar em paz, isto é, sem medo.
Nem da PM, nem da USP.

Politica y Común

Politica y Común
Por la construcción de una coalición multitudinaria en Europa.

di Toni Negri

 

 

Disculpen si arranco desde muy atrás. Quisiera preguntarme antes que nada, ¿qué quiere decir "hacer política hoy" para abordar luego el tema de Europa. Hacer política sobre el terreno de la autonomía, es decir asumiendo el punto de vista del sujeto subversivo y analizando en consecuencia las figuras y los modos de actuar del proletariado precario cognitivo. Recupero de hecho las necesidades y los deseos de este sujeto como dispositivo central, virtualmente hegemónico, en el análisis de los movimientos de la multitud dominada y explotada en su lucha contra el orden capitalista.

Hay dos argumentos, mejor dicho, dos topoi que deben ser asumidos abordando este tema. El primero es objetivo:  es preciso preguntarse qué significa colocarse dentro del desarrollo capitalista en la fase crítica de la hegemonía neoliberal. Podríamos también, probablemente, comenzar a interrogarnos sobre los "límites del capitalismo", dejando de lado  sin embargo  previamente cualquier previsión catastrófica, como quiera que esta se presente, y toda nostalgia de una tradición que testimonia desde hace bastante tiempo esta ilusión. El contexto capitalista está hoy caracterizado por el dominio del capital financiero que está consolidando su acción después de una larga transición, que se remonta al menos a la segunda mitad de los años 70. Hemos seguido ampliamente  esta evolución, y a menudo anticipado en nuestro trabajo colectivo: veamos pues simplemente las conclusiones. El capital financiero es hegemónico y no se lo puede definir más como lo hacían Marx y Hilferding, ya que se ha hecho capital directamente productivo: busca hoy su estabilización ejerciendo actividades extractivas sea con respecto a la naturaleza y  sus riquezas, como con respecto a lo biopolitico-social (es decir, el welfare). Cuando hablamos de la consolidación del poder del capital financiero lo decimos suponiendo (y es una hipótesis que se aproxima ya a una verificación final) que la transformación del capitalismo ha provocado (entre otras cosas, aunque mi comentario está limitado al  análisis, cuanto lo importante para concentrar este  último en lo que nos interesa) – decimos, ha provocado una muy profunda transformación de las formas territoriales y de las estructuras institucionales de la organización global de los Estados y de las naciones en el  "siglo breve".

Esta transformación empieza al interior de cada uno de los mercados nacionales donde, en cada uno de ellos, la estructura productiva capitalista se reorganizó después de la primera gran guerra (respondiendo al triunfo de la Revolución bolchevique), según módulos contractuales keynesianos. En el segundo período de posguerra y después de las "reconstrucción", este módulo de organización social y de comando capitalista empieza a ser debilitado y, a veces, hecho saltar bajo la presión obrera: es entonces que comienza la revolución neoliberal a partir de finales de los años 70 con una extraordinaria aceleración a principios del siglo XXI. Ella reorganiza, en primer lugar el Estado según normas fiscales para la gestión de la crisis y según la governance de la deuda pública. El proceder de la mundialización que interviene en ese período y la afirmación global de los "mercados financieros" desplazan el control de las posibilidades deudoras del Estado del poder público a las estructuras que organizan lo privado; del equilibrio  de la administración interna del Estado al equilibrio construido bajo el dominio de los "mercados" globales.

Es en este punto que se da una definitiva fractura entre el nuevo orden capitalista global y  los sujetos que vivían en el anterior ordenamiento capitalista de cada uno de los Estados-nación – en aquel ordenamiento "reformista" del capital, es decir, donde después de haber introducido keynesianamente al movimiento obrero en el contrato social, disciplinaba su comportamientos según normas llamadas "democráticas".  Si en el Estado fiscal, que pronto alcanzó la crisis, la deuda estatal había asumido ese papel de anticipación del gasto que antes había tenido la inflación (en sentido opuesto, en este caso, como instrumento de desvalorización del gasto) y si pronto la fiscalidad no fue ya suficiente para sostener la deuda promovida por el Estado; si por lo tanto la estructura de la deuda mudó y el neoliberalismo, haciendo del mercado la regla del desarrollo y de los "mercados" la justicia del planeta, impuso la privatización global del debito…. dado todo esto entonces, la crisis capitalista se presenta hoy como la imposibilidad de hacer actuar dentro de su propio desarrollo todo elemento de mediación, cualquier estructura contractual, en definitiva el keynesianismo bajo las diferentes acciones reformistas que éste pudiera asumir. Por otra parte, este desarrollo (en lo concerniente al punto de vista de las luchas del sujeto subversivo) nos devuelve un módulo muy consistente de lucha de clase. En efecto, por un lado todos aquellos que pueden participar del  "interés" (es decir, del beneficio monetario– tras la participación de la práctica global de la usura de los mercados privados y/o semipúblicos) construido en el mercado financiero; de otro lado, todos aquellos que consideran el ejercicio de su fuerza-trabajo, vuelta hoy socialmente útil desde su "estar juntos" y, por lo tanto, la exigencia (necesidad y deseo) de tener garantías durante el curso de su vida, no de la perduración de la barbarie de la posesión privada, sino del posible disfrute del acceso al común. Y no hay "ninguna clase media" entre estas dos realidades éticas.

El segundo presupuesto es subjetivo. Hemos mencionado las características éticas; ahora se trata de estudiar (también en este caso reasumiendo un trabajo colectivamente consumado) la ontologia de la producción. En ella se recomponen pues las modificaciones introducidas en la composición de clase trabajadora. Ella (la composición de clase) no es más (como desde hace mucho tiempo se sabe) "obrera" en sentido exclusivo;  tanto menos puede ser calificada como central en los procesos de valorización: la dimensión inmaterial, intelectual, cooperativa y la red (como tejido de cualquier actividad productiva) se han convertido en los elementos centrales de la valorización productiva. La fuerza de trabajo se ha visto radicalmente modificada. Ninguna nostalgia sobre la vieja clase obrera se debe tener. Compromiso, en cambio, para reconocer el estigma en el continuo de la "desindustrialización", determinada (no tanto por el capital financiero) cuanto por la automatización industrial y por su expansión a todo el sistema de servicios productivos (por consiguiente también el obrero industrial es hoy el trabajador inmaterial).  La radicalidad de esta modificación es extrema. En otros momentos hemos definido al conjunto de la fuerza de trabajo, bajo su dimensión de sujeto explotado en el desarrollo del capital financiero, como compuesto por individuos "endeudados, mediatizados, securitizados, representados". En este marco la explotación asume a la sociedad como totalidad, inviste y subsume a toda la sociedad. Es una explotación extractiva. La calidad extractiva de la explotación significa que la analítica "temporal" (la marxiana, por ejemplo) de las figuras y de las cantidades de plustrabajo y de plusvalía, deben ser revisadas y analizadas según nuevos criterios.

Es aquí donde el capital financiero se establece como potente agente de una "extorsión" compacta y masificada de plusvalía, como mistificador de todo ensamblaje de trabajo cooperativo y por último –de este modo –como fuerza extractiva del común. En el concepto de "extracción" se modifica pues el de "explotación". "Extracción" significa apropiación de plusvalía mediante un continuo descremado de la actividad social, la reducción de las singularidades que cooperan en la producción social (y que por lo tanto expresan común) a una masa que ha perdido todo control de sí misma y toda autodeterminación, la transformación de la gestión empresarial capitalista en una función ahora incapaz de organizar el trabajo, inmersa en el juego financiero y sólo atenta a los bonos bursátiles. El concepto marxiano de explotación parece así patéticamente lejano, en su insistencia sobre la temporalidad de la jornada laboral y la explotación individual que en ella se mide. Si no fuera que la masa sólo existe bajo la lógica del capital financiero (como el pueblo en aquella de los soberanos). Mientras que la vida explotada es singular. Desde este punto de vista, pues, las subjetividades implicadas en este desarrollo del capitalismo, expropiadas como masa, explotadas como singularidad, advierten que la fractura social, mejor dicho, la escisión del concepto de capital se ha dado ahora de forma plena. Al estado que el desarrollo capitalista ha sido llevado por la acción neoliberal, cualquier mediación interna en el desarrollo capitalista (aunque impuesta por la multitud de trabajadores necesitados, en definitiva cualquiera sea la forma en que ella se presente, cualquiera que sea la forma en que las singularidad sean encerradas como masa de expropiados), toda mediación, pues, ha sido rota. Asistimos a la puesta a cero de lo político, mejor dicho, del valor de la composición política del sujeto antagónico: en esta perspectiva "la política" es sólo considerada una mediación –y esta no podrá ser ejercida sino a través de los "excluidos".

Por tanto, ¿debemos concluir que la dialéctica obrerista que siempre tuvo presente una relación antagónica entre desarrollo capitalista y lucha de clase obrera y que imputaba a ella todo desarrollo, está terminada? Es posible, con toda probabilidad que ello haya ocurrido. En efecto, la relación de singularidad que constituye la multitud ha devenido del todo intransitiva en la relación del capital. El neoliberalismo nos impone esta verdad. La valorización capitalista nace en efecto por el hecho de que la multitud de singularidades es reducida a masa– se ha vuelto "transitiva" en tanto capital variable pero no puede expresarse como clase – ni siquiera dentro del capital, como la dialéctica "socialista" exigía. Afirmar esto no significa que la concepción marxiana del desarrollo sea obsoleta o que la metodología obrerista se haya vuelto residual; sólo significa que el método debe innovarse, que las "armas de la crítica" deben adaptarse a la nueva situación global y que "hacer política hoy" es un concepto que no puede estar legitimado, por ejemplo, simplemente por el recurso de la investigación obrera – modulada sobre el par composición técnica y composición política –sino que el tema del poder y del contrapoder, de la guerra y de la paz, del poder constituyente y de la insurrección, en definitiva, del programa comunista, deben ser propuestos en primera línea.

Repito. Desde hace ya tiempo que hemos teorizado sobre el hecho que el "uno se ha dividido en dos". Esto significa que no hay más medida entre capital y sujeto explotado, antagonico, que no hay más mediación posible.  Puede sólo haber mediación forzosa. Esto implica crisis, ineficiencias, límites de la forma política del capitalismo hoy dominante, de la "democrática" en particular, cada vez más evidentes. Si la acción política más elevada del primer movimiento obrero (entre el siglo XIX y comienzos XX) intentó alternativamente por su acción un modelo reformista y/o uno insurreccional; si la segunda gran época del movimiento obrero –la del obrero fordista- consolidó bajo la forma contractual (y reformista) su proyecto, hoy no hay nada más de esto que pueda ser nuevamente recorrido. Algunos autores, con gran inteligencia, han subrayado que el capitalismo neoliberal ha perdido toda característica democrática por cuanto las instituciones de la democracia no consiguen tratar ni influir sobre las cuestiones económicas– han permitido por tanto al neoliberalismo despegarlo de las reglas de la democracia. Es otro modo de decir que el "uno se ha dividido en dos". La soberanía ha sido entonces quitada de los Estados-nación para ser transferida hacia el poder global de los "mercados". Pero esta conclusión no concluye nada, está ella misma implicada en el proceso de crisis y la extremiza, antes que resolverla. Es ahora  banalmente repetido por muchos, y termina por mistificar la impotencia de los sujetos y por volver vanas las luchas contra el capital financiero.

Hasta ahora hemos visto como el concepto de composición política de clase obrera se ha venido a menos, como se ha reducido a cero la nueva figura de los movimientos financieros y políticos del capital – y en todo caso como éste no puede funcionar (la decimos de manera gruesa) "ontológicamente",  es decir en una realidad histórica determinada: porque está ahora privado de toda transitividad. "Como hacer política, hoy", no significa, por tanto jugar entre composición política y composición técnica, sino redefinir radicalmente qué es "política". Más adelante veremos cuál es la fragilidad del mismo concepto de composición técnica. La metodología clásica del obrerismo no funciona más, por lo tanto. Es necesario modificarla. Y hacerlo teniendo presente que nuestra autocrítica no significa que no nos podemos llamar marxistas; quizás significa que no nos llamaremos más post-obreristas; probablemente nos diremos sólo comunistas –a nuestra manera, haciendo del marxismo un dispositivo viviente para adaptarlo a la crítica de nuestro mundo. Para empezar, es decir, para salir de la condición de puesta a cero de la política. Sobre la cuestión del presupuesto subjetivo por ello debemos volver ahora, armándonos de una nueva metodología que trabaje esencialmente sobre las maneras de hacer crecer, independientemente de la relación de capital (no-transitivamente pues), la nueva subjetividad social explotada. En ella no serán más reconocibles composición técnica o composición política, consecuentes la una de la otra, sino más bien una composición simplificada y una consistencia real que intentaremos ahora aquí de definir, describiendo la acción que es posible, que esta subjetividad, produzca. En primer lugar, debemos tener presente que ese sujeto separado, reducido a cero desde el punto de vista político, es un sujeto que se ha reapropiado del capital fijo, en toda la fase de transformación del capitalismo, entre la crisis del Estado fiscal y la consolidación del Estado del capital financiero. ¿En qué consiste precisamente esta reapropiación? Consiste específicamente en hacer propios, en el aferrar , en hacer prótesis corpóreas y mentales, lingüísticas y/o afectivas, es decir, en reconducir a la propia singularidad, algunas capacidades que antes eran solo reconocidas como propias de las máquinas con las que se trabajaba, y en el integrar estas características maquínicas, convertirlas en aptitudes y comportamientos primarios de la actividad de los sujetos trabajadores. En la separación histórica que se había dicho entre objetividad del comando (y del capital constante) y subjetividad de la fuerza de trabajo (sujeta al capital variable) – se da, por parte de las singularidades, una reconquista del capital fijo, una adquisición irreversible de elementos maquínicos sustraídos a la capacidad valorizante del capital – para decirlo brutalmente, un robo continuado de los elementos maquínicos que enriquecen de capacidad técnica el sujeto, o mejor, como se ha dicho, que el sujeto trabajador incorpora. Con esto se demuestra cómo el trabajo intelectual es corpóreo, referido a su capacidad de absorber con rapidez y virtud estímulos y potencias maquínicas.

Ahora bien, toda reapropiación es destitución del comando capitalista. Este proceso de apropiación por parte de los trabajadores inmateriales es muy fuerte, eficaz en su desarrollo – determinará la crisis. Pero no se daría la crisis si considerásemos que ella nace espontáneamente de los procesos de reapropiación y de destitución. No es así. La crisis necesita de un enfrentamiento, de una realidad política que se mueva para la destrucción no simplemente ya de la relación de explotación sino de la condición forzosa que la sostiene. . En realidad, cuando se habla de reapropiación por parte del sujeto antagónico, no se habla simplemente de la modificación de la calidad de la fuerza de trabajo (que deriva de la absorción de porciones de capital fijo), se habla fundamentalmente de la reapropiación de aquella cooperación que en la reestructuración capitalista de la producción había sido fomentada y luego expropiada –y que representa el drama esencial de esta fase crítica.

 

Cuando se dice recuperación del capital fijo, reapropiación – lejos de expresarse en términos manchados de economicismo –el análisis entra más bien en aquel terreno de la cooperación que es hoy regulado en términos biopoliticos por el capital: destituir el capital de esta función significa recuperar para la fuerza de trabajo autónoma su capacidad de cooperación. Pero dado que la sociedad civil y la cooperación productiva son hoy dominadas por las funciones monetarias – y las funciones monetarias forman la cabeza directamente del capital financiero –reapropiación del capital fijo y destitución del comando capitalista sobre la cooperación nos llevan inmediatamente dentro de lo que es hoy más decisivo en la estructura del comando capitalista: la esfera monetaria. Si aquí se dieran significantes, serían significantes que revelan el común. La moneda se encuentra y se enfrenta con las características comunes de la cooperación. Y entonces la resistencia, la lucha y la autodeterminación del sujeto trabajador aquí asumen inmediatamente características políticas, ya que se enfrentan con las dimensiones financieras (monetarias) del control social. El welfare es el terreno privilegiado de este enfrentamiento.

En segundo lugar, además de destituir al comando sobre la cooperación e incorporarse como parte  del capital fijo, la nueva fuerza de trabajo, es decir, la clase política antagónica, socialmente recompuesta en cooperación, se encuentra en construir lugares comunes. Más que  desearlos, en todo caso quiere construirlos. Lugar común: ¿qué significa esto? Inmediatamente, un sentido de orientación en el contexto propio de la movilidad y de la flexibilidad incorporadas a la fuerza de trabajo (cooperante). Y, en segundo lugar, ¿qué son pues los lugares comunes, mejor dicho, los conjuntos institucionales dentro de los que el sujeto antagónico quiere reconocerse? Se trata esencialmente de niveles estructurales de la organización del estar juntos, a menudo el contexto social de la ciudad, mejor dicho de la metrópoli –como lugar de encuentro y de construcción común de lenguajes y de afectos, como plena virtualidad de las asociaciones productivas. La metrópoli está en efecto convirtiendose, cada vez más, en el lugar donde la resistencia a la extracción capitalista del plustrabajo de la actividad común y a la explotación de la singularidad multitudinaria, se ha vuelto posible –quizás un lugar de deseo. La metrópolis se ha convertido ciertamente central en la acumulación capitalista porque allí, en la metrópoli, la intransitividad de la relación capitalista ha alcanzado el más alto nivel de realización y de expresión, y, como tal, debe ser gobernada por el capital. Pero, por otra parte, la metrópoli se ha vuelto eminentemente lugar de enfrentamiento y de reapropiación proletaria. Toda instancia de contra-poder no puede prescindir de los lugares, espacios en los cuales desarrollarse, afirmarse, apoyarse. Si en el primer momento que hemos considerado (aquel de la reapropiación del capital fijo) la singularidad se reconocía al mismo tiempo en el común –y el común (en el caso, en el conjunto de los servicios del welfare) devenía el objeto de sus instancias de reapropiación –si esto ocurre en la metrópoli, es decir, a partir de las multitudes que se recomponen y toman forma en lugares comunes, el enfrentamiento entonces se define inmediatamente como lucha de un proletariado multitudinario contra el capital financiero. Aquí la acción multitudinaria, destinada a defender, a reconstruir, a apropiarse del welfare, se funde con el  redescubrimiento de la subjetividad activa, de aquellas singularidades que constituyen la multitud – por eso se expresa en la solicitud del derecho de ciudadanía –que es políticamente "derecho a la ciudad".

Derecho es garantía de disfrute de la ciudad, de cooperación en la ciudad, de gobierno de la ciudad, de trabajo en la ciudad. La cuestión del ingreso garantizado de todo ciudadano pasa a ser aquí un elemento que integra esta construcción de lo político. Y si la petición de ingreso reconoce la función productiva de cada ciudadano, no es sin embargo ésta el aspecto fundamental: fundamental es más bien que cada singularidad (es decir, cada trabajador y cada ciudadano) encuentre y fije en su pretensión subjetiva del ingreso, una solicitud de poder político adecuada a la construcción de la multitud. Ingreso garantizado y derecho a la ciudad son un solo objetivo político. Si en el primer lugar común que hemos construido, la singularidad multitudinaria se realizaba en el común (en el gobierno del welfare), aquí el común sea multitudinario y se exprese a través de la singularidad (en el derecho subjetivo a la ciudad, en el acceso al común) –así se afirma la nueva forma de hacer política hoy.

En el neoliberalismo, en el Estado consolidado de la transformación del comando del capital, el tejido del común es organizado por la moneda y expropiado por la Banca. Es así que, procediendo desde abajo, se propone por nosotros, por nuestras luchas de emancipación social y de libertad, el tema Europa. Reconstruir horizonte europeo significa luchar por la reapropiación del welfare y por  la obtención de un ingreso de ciudadanía, igual para todos y más que decente, reconociendo en el BCE el enemigo a vencer, el poder por extenuar. Es aquí que se da, frente a los ataques de los "mercados" (lo que sucedió en la crisis lo ha mostrado) una oportunidad única para desplazar el discurso político por las condiciones asfixiantes del debate dentro de los distintos países-nación a una perspectiva revolucionaria. Pero más aún, precisamente, si no se puede volver atrás, (y la crisis lo ha demostrado, y su solución lo afirmará aún más duramente) Europa es una oportunidad revolucionaria. Si no se puede volver atrás, hay que ir adelante –y para ir adelante hay una sola vía: luchar, insistiendo sobre el welfare y el ingreso de ciudadanía, para refundar aquella  instancia democrática del común que nos fue arrebatada vías desde la actual governance europea, hegemonizada por el neoliberalismo. El tema Europa se plantea directamente contra la Banca, reconociendo que la lucha multitudinaria, la lucha del proletariado social contra la Banca no reniega del proceso de unificación europea y de los resultados alcanzados (entre ellos la moneda única) sino que se plantea más bien el objetivo del gobierno de la moneda, de la construcción de la moneda del común. Esta es solo una premisa, casi un anticipo ideológico de una acción comunista por reprogramar. De nuevo preguntémonos por tanto: ¿por qué Europa? ¿Porque somos "europeístas" incluso después de que hemos sufrido directamente inspirado por el neoliberalismo la represión feroz, una austeridad horrible y lo hemos hecho objeto de nuestro odio? Y después de haber reconocido implícitamente que Europa representa en el marco institucional presente, el más completo ejemplo de consolidación del Estado neoliberal? Dentro de la "izquierda" muchos, la mayor parte de los que no adhieren a la socialdemocracia, ahora (después de haber luchado largamente contra el proceso de unificación europea, duramente domados por la crisis económica y habiendo aprendido que atrás no se vuelve) –ahora, pues piensan que la única forma de reconstruir Europa es establecer la reformulación del contrato constitutivo, por parte de los Estados-nación europeos, exigen que estos se restablezcan como sujetos soberanos de negociación. Se trataría de volver (temporaneamente?) a los Estados-nación, de restaurar una soberanía nacional (protegida desde Europa dentro y contra la globalización?) y así de recuperar poder sobre la moneda. Y luego... luego se verá. El soberanismo es duro de morir y aún hay socialistas dispuestos, desde 1914, a repetirse en la  defensa de la soberanía nacional más allá de cualquier vergonzoso límite! Subordinadamente, de manera más tranquila, se sostiene la posibilidad de reabrir una relación – casi contractual –entre los distintos Estados europeos, casi soberanos, después de que ellos hayan recobrado una mayor autonomía soberana –aquella que el pacto fiscal y los demás diabólicos acuerdos monetarios han eliminado: en definitiva, reconstruir Europa en dos tiempos. Uno primero, supresión de los acuerdos sobre el BCE; uno segundo, recomposición alrededor de un acuerdo tipo Bretton Woods, donde quien manda sea un independiente "Bancor" – moneda convencional que flexiblemente acompañe la diversidad de situaciones europeas y guíe los movimientos de ajuste de las balanzas y de los presupuestos al interior de los distintos países y entre todos. Patéticos proyectos. No obstante nos afectan sólo parcialmente, como para definir un telón de fondo. Para nosotros, el problema no se resuelve volviendo atrás: en efecto, pensamos que Europa sea el continente mínimo para una acción política revolucionaria que se sitúe en la globalización. El espacio (precisamente a raíz de la globalización) vuelve a ser una dimensión política esencial, primaria. Es sólo construyendo y consolidando la fuerza de un ordenamiento en un espacio determinado entre actores que cooperarán, que la legitimidad (la soberana, cierto), pero también la revolucionaria, se afirmarán. No hay alternativa. Europa es este espacio –donde el proletariado multitudinario en el que nos reconocemos puede surgir, convirtiendo no el espacio (también lo haga, quizás: lo hablarán otros) pero la estructura de poder que lo ordene. Europa y la moneda europea constituyen un ámbito de virtual autonomía dentro de la mundialización. Sin Europa no hay posibilidad de gobernar, limitando la presión enorme de los mercados globales y de los poderes multinacionales. Europa es aquella dimensión espacial que representa una posibilidad de supervivencia política y de acción autónoma de las multitudes europeas, frente a la presión de las fuerzas soberanas, ya ordenadas sobre dimensiones globales – configurantes  ahora como secciones continentales del poder global.

Lo que ha ocurrido sobre el tablero global en este último treinta años, desde finales de la guerra fría, debe ser fuertemente subrayado para aclarar que la propuesta de una lucha que se proponga un proyecto de democracia radical en Europa, es cualquier cosa menos un sueño. Si es cierto, en efecto, que la potencia de los mercados es enorme, es igualmente cierto que el peso y los condicionamientos de la alianza y de la subordinación atlántica se han convertido, en una continuidad, cada vez más frágil y, en una perspectiva, inestable. Es debido al declive de la potencia norteamericana que el comienzo del siglo XXI se ha caracterizado –por dos consecuencias mayores. La primera es el conflicto latente entre Estados Unidos y China – que está madurando y tiene una primera consecuencia que nos interesa: tener alejado el poder norteamericano de la Europa y registrado el fuerte debilitamiento (que no debemos subestimar) del poder norteamericano, no sólo en Europa, sino sobre toda la dimensión mediterránea. Los Estados Unidos no han querido nunca una Europa unida, excepto como aliado durante la guerra fría. Después de la "caída del muro de Berlín han continuamente suscitado oposición a la unificación y la Gran Bretaña siempre ha representado el caballo de Troya de este sabotaje. Ahora la situación ha cambiado profundamente y, al debilitamiento del liderazgo, se añade para la Casa Blanca la necesidad de apoyar más eficazmente los intereses norteamericanos en el Pacífico y de construir allí un frente estratégico por la hegemonía asiática. Como se ve, la "provincialización de Europa" no lleva solo un ¡ay! La segunda consecuencia es mucho más importante: se liga al desarrollo de una primavera arabe a lo largo del Mediterráneo y en el Oriente Medio (un verdadero 1848).

Después de la "caída del muro de Berlín han continuamente suscitado oposición a la unificación y la Gran Bretaña siempre ha representado el caballo de Troya de este sabotaje. Ahora la situación ha cambiado profundamente y, al debilitamiento del liderazgo, se añade para la Casa Blanca la necesidad de apoyar más eficazmente los intereses norteamericanos en el Pacífico y de construir allí un frente estratégico por la hegemonía asiática. Como se ve, la "provincialización de Europa" no lleva solo un ¡ay! La segunda consecuencia es mucho más importante: se liga al desarrollo de una primavera arabe a lo largo del Mediterráneo y en el Oriente Medio (un verdadero 1848).

En tercer lugar, o mejor dicho, este es el tercer presupuesto que está en la base del razonamiento sobre la subjetividad que hemos empezado a desarrollar al inicio de esta intervención (hace mucho tiempo,!) – se trata de consolidar, también para nosotros, en instituciones los movimientos desde aquí descritos. Se trata no sólo de construir contrapoderes difundidos sino de coligarlos para producir poder constituyente. Se trata de recomponer el conjunto de las fuerzas plurales que luchan por el ngreso y por la defensa/expansión del welfare, en torno a un telos, a una finalidad común.Nos parece que cuando se ha presenciado la larga historia de la primavera arabe y de las insurgencias occupy (y de las tragedias que están marcando la aunque fuerte –a veces abierta, a veces subterránea – continuidad de las primeras y el estancamiento –aunque a veces potentemente reflexivo – que afecta a las segundas) – bien, no se puede entonces no pensar –si todavía se posee un mínimo de responsabilidad teórica, antes aún que política–en la necesidad de un trabajo de constitución de una fuerza que sepa – de conjunto –abordar el enemigo. La conciencia de un paso estratégico ha sido probablemente adquirida: será necesario construir plataformas que organicen la continuidad de las luchas y su progreso

Hacer devenir institución las luchas significa dar propiamente un telos, incorporado a todo momento organizativo. Que quede claro que diciendo esto no se intenta hablar de "refundación" de la "izquierda" ( "refundar" e "izquierda" se han reducido a palabras de mierda) ni se alude a posibles relaciones con fuerzas parlamentarias de la vieja izquierda. Somos comunistas, no tenemos nada que ver con la socialdemocracia en la que reconocemos una variante ideológica del dominio capitalista. Nosotros somos otra cosa, y nos definimos más allá del socialismo. Comencemos pues por ahora a desarrollar en Europa coaliciones de fuerzas en lucha, dentro Europa, contra su Constitución y las políticas del Banco Central y tratemos de darles forma institucional. Como una vez decíamos, en construir organización: "Quien no ha hecho investigación, que no hable", empezamos a decir: "quien no ha construido coalición, en Europa no hable". Este es probablemente un modo para devenir tendencia, en Europa las formas nuevas que la multitud enseña, de construir y ocupar espacios liberados –porque multitud es multitud de subjetividad que se encuentran en un espacio común. Sin embargo, creo que para calificar la construcción de coaliciones, en esta fase, sea suficiente afirmar un punto: la voluntad de destruir la propiedad privada, de disolver en el común la propiedad pública y la soberanía que la vuelve, y de construir y gestionar democráticamente el gobierno del común.

El espacio europeo es entonces, quizás, un territorio privilegiado de experimentación multitudinaria en la construcción de instituciones del común. Lo digo con mucha prudencia pero también con mucha esperanza: porque es muy cierto que Europa ha sido provincializada y que el proletariado europeo ha perdido su batalla de emancipación que por algunos siglos había llevado a cabo contra el Imperio neoliberal del capital…. y sin embargo le hemos dado tantas y todavía tenemos la fuerza de darle.

Traducción: César Altamira

Publicado en http://europassignano2013.wordpress.com/category/materiali-preparatori/5-settembre-le-lotte/