Texto pensado para editais e como parte do catálogo que fizemos para os moradores de São Benedito
Autores: Clara Miranda, Samira Proeza, Pedro Moreira, Lilian Dazzi, Stephanie Azevedo, Bruno Bowen
Os princípios que fundamentam a articulação entre ensino, extensão e pesquisa convergem com as demandas sociais pela democratização da universidade pública. Tanto no que diz respeito à inclusão de grupos sociais e seus saberes (populares) na concepção e avaliação das propostas, dos projetos e das intervenções para os territórios populares quanto na distribuição de saberes produzidos na universidade e das ações encaminhadas a grupos deles excluídos.
Compreende-se que o papel da universidade é crucial na definição e na resolução coletiva dos problemas sociais diante das polarizações e das contradições configuradas no contexto da globalização. Expressas, por exemplo, através da concentração das decisões, da coordenação e do poder sobre a produção (e conhecimentos) em cidade ou em países centrais em detrimento da propagação da produção rotineira, com impactos sobre os recursos e o ambiente nos países periféricos.
As idéias instituídas a partir do Consenso de Washington da soberania do mercado (MARICATO, 2002, p. 133) podem ser confrontadas com a constatação de que o mercado não é um bom alocador de fatores de produção (DOWBOR, 2002). E já se vive em outro momento desse capitalismo desde a crise de 2008, que requer novas idéias.
A importância do conhecimento nos processos de reprodução social nos coloca desafios que não estamos acostumados a enfrentar: trata-se não só de adquirir o conhecimento mas de assegurar sua reprodução, circulação, generalização nos diversos setores da sociedade. A questão não é mais o monopólio dos meios de produção mas o controle do conhecimento.(DOWBOR, op. cit, p. 102).
A criação de reciprocidades entre a academia e comunidades, e de articulações de cunho cooperativo entre universidade, outras instituições e movimentos organizados podem fazer circular novos processos de construção e de difusão de conhecimentos científicos. Neste caso, a pesquisa e o ensino de graduação e de pós-graduação podem atuar conjuntamente.
A problemática da habitação é parte da formação econômico-social capitalista, no quadro do mercado formal (sujeito as oscilações e humores do mercado) ou informal (expressando resistência ou exclusão social). O modo de produção da habitação extrapola os aspectos do mercado imobiliário, do déficit habitacional e da indústria da construção. Uma vez que,a produção do espaço habitacional se insere na produção do espaço em geral. As relações de produção assim como os meios de produção, não são simplesmente produto da sociedade se localizam no espaço como um todo.
A produção da moradia no contexto da reprodução das relações sociais implica na discussão de sistemas alternativos de direitos à propriedade (ver Valença, 2008, pp. 10-19) que concorre conseguintemente ao repensamento de tipologias habitacionais alternativas. Os sistemas alternativos de propriedade podem viabilizar a superação do endividamento insustentável do usuário e do controle da população no espaço. “Este controle que tem sido legitimado pelos discursos em torno da necessidade ancestral da “casa”” (KAPP; BALTAZAR DOS SANTOS & VELLOSO, 2006).
O papel da pesquisa em nível de graduação e em pós-graduação é fundamental. Kapp; Baltazar dos Santos e Velloso, (2006) alegam que:
“são inúmeros os vínculos entre reprodução das relações sociais e produção de moradia. A maior parte deles ainda carece de análises realmente contundentes. Assim, embora uma investigação acerca da produção habitacional não seja o mesmo que uma investigação sobre a produção do espaço em geral, ela ainda assim não pode se esquivar da tentativa de compreender de forma abrangente o papel da moradia na sociedade contemporânea. Para isso, terá de ultrapassar delimitações disciplinares, inclusive aquela que tradicionalmente mantém a Arquitetura apartada da Economia.”
Neste sentido, também a atenção que na atuação de extensão se deve ter com a problemática da economia solidária se colocam em diversos aspectos – tal como a praticada pela Associação Ateliê de Idéias.
Referências
Referências
DOWBOR, Ladislau. A reprodução social. Ed Vozes, 2002
KAPP, Silke; BALTAZAR DOS SANTOS, Ana Paula; VELLOSO, Rita de Cássia Lucena. Morar de Outras Maneiras: Pontos de Partida para uma Investigação da Produção Habitacional. Topos Revista de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 4, p. 34-42, 2006.
SOUSA SANTOS, Boaventura de (Org.), Produzir Para Viver, Os caminhos de produção capitalista 2ª Edição, 2005 Civilização Brasileira. capítulo 1
VALENÇA, Márcio. Cidade (i)legal. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.
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