Compreende-se o termo laboratório no quadro das problemáticas designadas por Bruno Latour[1]: “Dê-me um laboratório e eu levantarei o mundo”. O laboratório é um lugar onde se pode inverter a escala dos fenômenos para lê-los e compreendê-los; um lugar para captar a atenção dos outros e por outro lado observar-los e ao mundo, diversamente em termos topológicos; um lugar para transpor não apenas escalas, mas as relações entre contexto social e contexto da ciência e da tecnologia; um lugar de abordar os interesses por meio de métodos e práticas para realizar objetivos concretos; um local para acompanhar objetos mediante suas transformações (fazer registros históricos, diagnósticos, prognósticos, projetos). O laboratório estabelece o uso de novas linguagens de análise e inscrição (história, ação, gestão) que facilitam o estudo de materiais selecionados, deslocando saberes saturados em direção a novos domínios e novas formas de atuação.
Dado que as práticas do laboratório conduzem constantemente as transposições entre interior (do campo disciplinar, da academia, do escritório) e o mundo afora, se delineia a topologia e a mecânica de trabalho necessária a atuar na realidade vivida. Pois os contextos políticos, econômicos, sociais, culturais têm mudado substancialmente, sobretudo o mundo do trabalho e do saber. Isso requer o estabelecimento de novas pontes entre a arquitetura e o urbanismo a realidade[2].
O laboratório (que desejamos no Emau, para aprendizado e prática de assistência técnica) coloca-se à prova tanto para as estruturas acadêmicas quanto relativamente às estruturas profissionais, se posicionando desde ao ensino técnico, à graduação, mas, sobretudo, ao acolhimento, à reflexão e à avaliação da implantação e da difusão da assistência técnica por parte de profissionais e do seu público-alvo.
A evolução tecnológica — eletrônica, informática, cibernética, telemática, biotecnológica, etc — provoca mudanças de ‘percepção’ que atinge de forma muito diferente as instâncias da reprodução social. Há descompasso entre a evolução tecnológica e o universo cultural. Além disso, as instituições não tem se mostrado o suficiente capazes de canalizar as tecnologias e os saberes para conversão destes em bem público. A complexidade e a diversidade do mundo contemporâneo requerem instrumentos mais ágeis, flexíveis e participativos[3].
Hoje o fator essencial da produção é o conhecimento intensivo. Se a intenção é a elevação da produtividade social devem-se abordar os diversos universos tecnológicos, as exigências técnicas de diversos setores de atividades e os diversos impactos sobre a sociedade. A promoção da inteligência social é imprescindível. A importância do conhecimento nos processos de reprodução social coloca o desafio de assegurar a reprodução e a circulação de conhecimento, assim como sua generalização nos diversos setores da sociedade. A questão não é mais o monopólio dos meios de produção, contudo, o controle do conhecimento[4].
[1] LATOUR, Bruno. Dadme un laboratorio y levantaré el Mundo. Publicación original: "Give Me a Laboratory and I will Raise the World", en: K. Knorr-Cetina y M. Mulkay (eds.), Science Observed: Perspectives on the Social Study of Science, Londres: Sage, 1983, pp. 141-170. Versión castellana de Marta I. González García. Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação e Cultura.
[2] ABALOS, Iñaki. Atlas Pintoresco. Vol. 1: El Observatório. Barcelona: Gustavo Gili, 2005
[3] DOWBOR, Ladislau. A reprodução social. Ed Vozes, 2002
[4] Idem. Ibidem.
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