O Círculo de Podemos Rio de Janeiro vem manifestar indignação à nota publicada em 9/5/2015 pela Revista Veja, assinada pelo colunista Rodrigo Constantino, aludindo a uma outra reportagem, no dia anterior, 8/5/2015, por Duda Texeira, na seção Mundo da mesma revista, contra a qual manifestamos do mesmo modo o nosso sentimento.
Nos textos, o Podemos é acusado de estar associado ao tráfico internacional, num esquema que envolveria Bolívia, Venezuela e membros notórios de Podemos. A única fonte citada para a grave acusação é o testemunho do coronel do exército boliviano Germán Carmona (e não "general", como erroneamente consta na Veja), que servia num hospital militar na região de Santa Cruz, atualmente solicitando refúgio na Espanha. Segundo o documento "ultrassecreto" citado pela Veja, Carmona denuncia que o Podemos tem "o objetivo de financiar uma nova organização política com a finalidade de, uma vez que conquistem o governo, seja constituída uma porta direta de entrada da cocaína na Europa."
Nenhuma evidência é apresentada. Nenhuma outra testemunha corrobora a história. Apesar disso, três jornais de grande circulação na Espanha, o El Mundo (2), o La Vanguardia (3) e o La Gaceta (4) elevam a história à condição de manchete, em direta repercussão da acusação feita pelo militar boliviano. Somente o último, no interior da matéria, comenta que nenhuma informação foi comprovada. Por que tamanho interesse em repercutir o solitário depoimento do coronel desertor lançando essa nuvem de acusações e suspeitas sobre um partido recém criado?
O que talvez nem todos saibam é que a Espanha vive um dos mais importantes processos eleitorais de sua história. Neste mês, acontecem eleições em nível municipal e das regiões autônomas, em que pela primeira vez o bipartidarismo tradicional no país, desde 1978, dá mostras de ser quebrado. No segundo semestre, haverá as eleições gerais, que definem a composição do próximo governo nacional. O Podemos é um dos partidos que, inspirado pelo movimento do 15 de Maio de 2011, se apresenta na disputa com chances reais de vencer, defendendo o protagonismo cidadão e o reposicionamento do estado na economia, hoje controlada pela casta e suas medidas de austeridade. Não só pelas propostas de enfrentar a crise econômica com um resgate cidadão, como também pela ascensão nas pesquisas de intenção de voto, o Podemos passou a se tornar uma pedra no sapato da "classe política" tradicional do país.
Nesse contexto, o Podemos tem sido alvo de uma campanha de difamação sistemática manejada pela grande mídia corporativa, que parece ter chegado ao Brasil. A atual presidenta da comunidade de Madri, Esperanza Aguirre, associou o Podemos em várias ocasiões a grupos terroristas, declarações difamatórias pelo que ela terá de responder ante a justiça espanhola (5). O custo para efetivar essa demanda judicial, de € 10.043, foi ultrapassado pelo Podemos em menos de três horas de campanha de crowdfunding por meio de seu site oficial (6), segundo uma plataforma transparente de financiamento pela cidadania.
A conexão Podemos-Bolívia, na verdade, não tem nada que ver com tráfico internacional. De fato, além das acampadas e novos movimentos do 15-M, o Podemos assume como referências as experiências bem sucedidas de governos da América do Sul, em seu combate à pobreza e ao neoliberalismo. Na década passada, membros de Podemos atuaram como pesquisadores e consultores junto dessas experiências que, sem negar as suas complexidades e limitações, trazem ensinamentos importantes sobre inclusão social e empoderamento cidadão ao mundo todo. Por muito tempo na Europa vinha prevalecendo uma visão de que não havia nada a aprender com a experiência de nações em desenvolvimento. O Podemos se propõe a corrigir essas lentes eurocêntricas da política.
O jogo sujo da velha política está agonizando na Espanha assim como no Brasil. A reportagem da Veja e o texto de seu colunista são o grito desesperado de uma ordem ameaçada em seus privilégios e vigarices. O Podemos estaria querendo converter a Espanha num portal de entrada para a cocaína plantada na América Latina? E por acaso hoje a Espanha não é um portal de entrada da cocaína? O atual presidente da Espanha já foi fotografado no barco Moropa, conhecido por pertencer a um dos maiores clã do contrabando da Espanha (7), e o atual presidente da Junta de Galicia, Alberto Nuñez Feijoo, foi fotografado num iate de férias com o contrabandista Marcial Dorado (8).
As conexões entre a política atual e o tráfico internacional não são nenhuma novidade. Nisso, temos que reconhecer a pertinência das palavras de Rodrigo Constantino: "A política é apenas um meio, um instrumento que criminosos usam para chegar ao poder e, com isso, gozar de maior margem de manobra para seus atos criminosos." Por isso, estranha a seletividade da indignação do colunista. Em 23 de março de 2015, na mesma Veja, ele justifica a sonegação fiscal e evasão de grandes quantias realizadas em contas do HSBC na Suíça (9), porque seria "justo" burlar a lei para "proteger" o próprio dinheiro. O que Rodrigo não conta na matéria é que o mesmo HSBC, banco sediado em Londres, usa o dinheiro dessas contas em operações de lavagem e financiamento de grupos terroristas na Arábia Saudita e cartéis de drogas no México. E esta informação não deriva apenas de uma única e conveniente fonte e seus sensacionalistas "documentos ultrassecretos", mas de uma sólida investigação internacional (10).
Mas além disso, não queremos nos render à farsa que reduz o problema mundial das drogas ao tráfico, como se a "guerra às drogas" não fosse ela própria um dos motores da lucratividade do negócio, gerador de mais violência e incentivador do comércio de armas. Baseados numa cidade conflagrada como o Rio de Janeiro, com tantas operações em comunidades e tantas vítimas, preferimos não nos nivelar a um noticiário sensacionalista como o da Veja, que se recusa a aprofundar o urgente debate sobre essa questão, em que tantas vidas se perdem.
A reportagem da Veja se insere numa longa tradição que associa partidos de esquerda ao crime organizado. A ideologia encobriria o interesse criminoso. Pergunta-se: a seletividade em denunciar o Podemos sem nenhuma base e ao mesmo tempo proteger o dinheiro remetido ilegalmente à Suíça não revela uma ideologia? Não é ideologia ignorar a complexidade de um debate para apresentar denúncias infundadas com o único propósito de desqualificar uma força política? Até aqui nada de novo. Novo é apenas o alvo do business de difamação, o Podemos, diante do fato que ele realmente ameaça as elites de sempre.
Nós, do Círculo de Podemos Rio de Janeiro, queremos entrar no debate de uma maneira mais inteligente e democrática, convidando a todos a participar, discutir e fazer uma outra política diferente dessa que a Veja representa.
Contato: podemosrj@gmail.com
Referências:
(1)http://veja.abril.com.br/
(2)http://www.elmundo.es/
(3)http://
(4)http://www.gaceta.es/
(5)http://podemos.info/
(6)http://
(7)http://
(8)http://ccaa.elpais.com/
(9)http://veja.abril.com.br/
(10)http://www.nytimes.com/
http://www.forbes.com/
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