sexta-feira, 1 de maio de 2009

o mundo é redondo...

O mundo é redondo, como uma roda de ciranda, como letras cursivas fazendo frases, textos, poemas, livros sem fim, como a biblioteca de Borges e a minha

terça-feira, 28 de abril de 2009

MAYDAY-2009*: "NÃO PAGAREMOS PELA CRISE DELES!"

MAYDAY-2009*: "NÃO PAGAREMOS PELA CRISE DELES!"
Convocação de primavera


A norma é precarização, trabalho temporário, baixos salários, desemprego.
Arame farpado, uniformes e soldados, que protegem a Europa-fortaleza, excluindo e perseguindo milhares de homens, mulheres e crianças.

Polícias e exércitos estão nas ruas, com suas câmeras e helicópteros.

O controle está por toda parte, leis antiterrorismo são usadas para legitimar a repressão.

A mídia mantém tampado o caldeirão que já começa a ferver e explodir por todos os lados.
Ao mesmo tempo, a mídia faz o que pode para nos convencer a não parar de consumir.
A serpente já está comendo o próprio rabo.

Nossos irmãos e irmãs do sul estão pagando a conta; e nós também pagamos. As espécies de animais que vão sendo extintas indicam o futuro que espera as novas gerações. E, ao mesmo tempo, os bancos jogam pela janela os nossos bilhões...

Vivemos grandes tempos! A crise, a crise, a crise, ouve-se o mesmo refrão por todo o planeta.Que crise?

Os economistas anunciam o fim do neoliberalismo. Depois de anos de NHVA – Não Há Via Alternativa –, agradecemos aos bancos por terem exposto a grande revelação: o dinheiro NÃO É o problema. Tudo é possível. Ou nos escondemos, ou lutamos.

Um novo contrato social, alienação cada vez maior, cada vez mais exploração, cada vez mais precariedade em todos os campos da vida.

Administrar a precariedade não é um desastre.
Viver em precariedade é viver em permanente crise.
A crise DELES só é novidade para ELES.

A crise é uma grande onda: ou você sabe surfar, ou você corre o risco de afogar-se.
Em resumo: nossas lutas acontecem na vida de todos os dias.
Nossas brechas atravessam fronteiras nacionais, contratos sociais e barreiras de gênero.

Nossas batalhas são visíveis. As demandas sociais são evidentes. Ou não?

Falamos à Europa e anunciamos ao mundo: queremos surfar e é nossa vez de surfar a onda.

De 30 de abril a 1º de maio, retomaremos o poder, voltaremos a ter toda nossa criatividade, em nosso ritmo rápido. Nós e todos que queiram vir conosco.

Os bancos estão em toda parte, dominando a vida, mesmo que sejam mortos, não-vivos. O mercado de ações já demonstrou que a queda de uma única carta pode derrubar todo o castelo.

* Para saber mais sobre o movimento MAYDAY-2009, ver: http://www.immigrantsolidarity.org/MayDay2009/
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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Tá rinDo dE Que?


"Mesmo no inferno há ar para respirar"
Bem, eu era criança quando os generais comandavam o país. Se agora com doutorado eu não sei nada, imagine quando eu era criança?!

Pois bem, meus colegas filhos de operários sabiam muito bem. Eles odiavam a ditadura, eu também. Crescer com uma promessa de futuro distante é angustiante, tão distante que ainda não chegou (não por obra deles), e o presente?

No presente (daquele tempo) eram camburões circulando, quem eles vigiavam? nós. era só pra ver se a gente se comportava direitinho, senão. Senão colocavam a gente naquele cartaz dos procurados que de vez em quanto aparecia pregado nos postes.

Quanta gente que foi embora. Não eles não foram fazer turismo, nem migraram por melhores ofertas de emprego, eles foram embora, eles foram mandados para fora. Porque se o Brasil não fosse amado do jeito que os generais achavam que tinha que ser amado (de cabeça baixa, obediente, calado, trabalhando para o país ir pra frente mas sem reclamar) tinha que deixar o país...

Não quero mais analisar, quero ser feliz, Como disse Adorno em Minima Moralia, ele se referia a Auschwitz, "mesmo no inferno há para para respirar".

As botas dos generais não podem corroer toda a experiência da felicidade da infância ou juventude, não pode calar a criatividade dos que faziam, criavam. As coisas eram feitas apesar da ditadura, não por causa dela. E eles eram cultos, liam a melhor literatura, tocavam piano, iam a concertos, Claro, evidentemente os que não eram torturadores, pois estes eu não sei aonde se divertiam,

Não quero nem preciso rever meus conceitos sobre a ditadura, ela foi dura. As consequências não são brandas. Primeiro a evasão de cérebros de várias maneiras, talentos e inteligências desviados para pensar como reverter aquela situação na ação clandestina, outros por terem sido mandados para fora do país, por perderem seus empregos em órgãos fundamentais, sobretudo em universidades, jornais,. Vários projetos gestados na educação mesmo, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, UNE, projetos coletivos gestados lentamente, todos jogados na lata de lixo da história. Ainda bem que há quem goste de arquivos e faz história com dados qualitativos.

Por que quantidade, fazer formação como se fosse linha de montagem, desde que não pense muito, reproduza simplesmente. Não engenhe, não arquitete, não psicologize, não cuide... apenas leia o livro, e repita,,, claro que nossos professores não faziam assim, tentavam nos fazer ver a cidade, as pessoas e não crer cegamente.´Por isso, mesmo com esta cara de avô legal, não dava pra crer nos generais. O desejo era por um mundo melhor e neste mundo haveria liberdade de imprensa, de movimento sociais, de se reunir livremente, de posição política, de criar e de pensar. Neste mundo haveria pesquisa, verbas para pesquisa, e não reprodução de modelos para trabalhar em multinacionais que evadem, corroem riquezas naturais e históricas, poluem o ambiente e levam embora os lucros.

Há outros prejuízos num momento em que precisaram de apoio, por que perderam o apoio inicial dos conservadores. Pois estes não tiveram estomago para as atrocidades que os generais estavam cometendo, Eles tiveram que comprar alguns apoios, se aliaram com velhas raposas, então um determinado quadro de corruptos e de torneirinhas, ductos, lobbys se formou e nunca mais acabou. Eles moram em apartamentos funcionais nas melhores superquadras ou no lago sul com ponte área pra qualquer lugar. A corrupção não começou ai, mas ai ela configurou quadros que ainda sugam este país: empresas, empreiteiras, familias donas de estados, assim por diante.

Não não e não a ditadura não foi branda e as consequências ainda estão por ai.

Ditadura é ditadura, o fato de alguns eleitos perseguirem pessoas como dizem que o Chaves faz, não abranda a ditadura, o fato de na Argentina e no Chile terem sido mais cruéis do que aqui não abranda a ditadura. Crueldade, perseguição, restrição de liberdade não se compara.

Hoje há liberdade de imprensa, que Deus mantenha!!! Alguns órgãos da imprensa é que precisam rever seus conceitos, estudar análise de discurso e ler "A arte de ter razão", pois eles não tem razão não.


Um exemplo corriqueiro, uma capa de revista sobre o jogador Robinho de certa revista de circulação nacional. Há uma análise da revista Cult que mostra como há manipulação da imagem e do texto que o infantiliza, julga, condena, cito pois concordo com a análise citada. E me incomodam profundamente, os artigos que abordam os assuntos e se refrem as pessoas com humor que achincalha, como se todos amassem o casseta e planeta, como se tudo pudesse ser tratado com este tipo de humor... Muitos destes órgãos tratam as pessoas abordadas em seus artigos ridicularizando-as, desrespeitando-as. A estratégia é de antemão reduzir, desqualificar o adversário, o antagonista, o julgado. No fim é o que se torna o referido ou referente mais que um objeto da notícia um "outro" (do outro lado). O alívio é que ninguém "lê tanta notícia"...

Mas chega de falar disso, como diz Deleuze é melhor ser um varredor do que um juiz,,,

terça-feira, 31 de março de 2009

A metrópole e a revolução

“O meu argumento não é dizer que a revolução já começou. O que tento dizer é que, apesar do fato de a revolução ser tão desacreditada e parecer impossível senão indesejada, à luz da metrópole me parece que é ela o único lugar onde a revolução é possível.” Michael Hardt

terça-feira, 10 de março de 2009

O Estado e a Banheira

Me responde por favor, eu sou burra, eu não leio a PIG, acho Diogo Mainardi irrelevante, leio Miriam Leitão (respeito, parece que ela pensa antes de falar, e não apenas deixa destilar seus ódios), então me responda como seu tivesse 5 anos e não sei mesmo nada de economia.

Se o Estado fosse encolhido a ponto de ser afogado numa banheira, quem ou o que usaria o dinheiro do povo neste momento para salvar os banqueiros?

Ps: PH Amorim inventou a sigla PIG, bem apropriada para uma agenda jornalística que tenta manipular editando fatos, editando dados, editando falas... prefiro contemplar arte, ler literatura ou blogs de esquerda, são reativos contudo destilam menos veneno e me dão a impressão que eu tenho ainda 20 anos...

E amo o Lula (amor antigo, não vejo problema nenhum dele gostar de lençóis egipcios) e gosto do Obama, mas não confio em político nenhum. No entanto, enquanto o Obama for um viralata ele vai merecer o céu do meu coração...

Intuições de quem não sabe de nada de política, se eu tivesse um filho e ele decidisse ser político profissional ele me mataria de vergonha. Mas porque detesto esta política de partidos e púlpitos, corredores escuros, porque hj não se tem mais adversários mas aliados ou não? O que proximidades com Sarney, Calheiros trazem? Para responder isso nem preciso ser inteligente, a "vida" responde, cria o ambiente propício para profileração de agnetes ruins, traz Collor de volta... Há momentos em que os fins não justicam os meios,,, sempre os meios justificam-se por si, se não ganhar a parada pelo menos esteve em boa companhia...

Eu não sou tão burra a ponto de acreditar que o neoliberalismo acabou, mas que seria mais divertido seria...

Obama não é Lula…
Escrito por Imprensa, postado em 27 de fevereiro de 2009
PH Amorim
Saiu no Financial Times sobre o discurso de Obama, o “Estado da União”, no Congresso, cujo tema foi “a América vai sair dessa ainda mais forte!”:
“O discurso foi mais reaganesco do que uma simples manifestação de otimismo. Reagan mudou o paradigma da política americana ao dizer acabou a era do Estado grande”.
Obama também pretende mudar o paradigma, quando diz “chegou o dia do acerto de contas”, e “está na hora de assumir o controle do futuro”.
Acabou a era do neoliberalismo. Se Pinochet (o dos “Chicago Boys”), Thatcher, Reagan e Fernando Henrique - nessa ordem cronológica e de relevância histórica - merecem ser enterrados no mesmo buraco em que afundou o Muro de Berlim - a imagem é de Arianna Huffington - chegou a vez de o Estado intervir para tirar a economia da crise.
Acabou a Era do Estado Pequeno, diria Reagan. Ou, como diria um reaganesco: precisamos tornar o Estado tão pequeno que seja possível afogá-lo numa banheira …
Obama não saiu do trilho desde que chegou. O que ele faz está lá, na campanha. Ele não lançou nenhuma “Carta aos Brasileiros”, para poder ser engolido pelos neoliberais.
Pesquisa do New York Times e da CBS mostra que a popularidade de Obama está em 77%. A pesquisa do Washington Post e da ABC mostra que a popularidade do Obama está em 68% (maior do que a Reagan, neste momento do mandato). Mas, isso, caro amigo navegante, é porque os americanos não leem o PiG (*).
Porque o PiG (*) e seus colonistas (**) adotaram duas atitudes em relação ao Governo Obama: 1) não levam Obama a sério, como a Miriam Leitão, que acha que ele está mais para bloco sujo do que para escola de samba; ou 2) pintam a crise americana com um alarme e um desespero que não se encontra na imprensa americana.
Na tentativa desesperada de derrubar o presidente Lula, o PiG tentou fazer com que o camarote do Presidente Lula na Sapucaí caísse sob o peso da queda das ações do Citibank.
Em tempo: quem foi ovacionado no Sambódromo de São Paulo foram Zé Pedágio e Gilberto Taxab. Como diz o Conversa Afiada: é mais fácil o Vesgo do Pânico ser Presidente da República do que o Zé Pedágio. E se continuar assim, ele não se re-elege governador de São Paulo. Vai ser o editorialista (de todos os assuntos) da Folha (***)
Em tempo 2: Obama mandou rever todos os contratos de empreiteiros americanos no Iraque. É como se o Zé Pedágio - se fosse o que o PiG diz que ele é - revisse o contrato dos empreiteiros que a abriram a cratera do metrô.

(*)Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político - o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) colonistas. Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (*) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
(***)Já estava na hora de a Folha tirar os cães de guarda do armário e confessar que foi “Cão de Guarda” do regime militar. Instigado pelo Azenha - clique aqui para ir ao Viomundo - acabei de ler o excelente livro “Cães de Guarda - jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1989″, de Beatriz Kushnir, Boitempo Editorial, que trata das relações especiais da Folha (e a Folha da Tarde) com a repressão dos anos militares. Octavio Frias Filho, publisher da Folha (da Tarde), não quis dar entrevista a Kushnir.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O sobrevivente

O Sobrevivente de Carlos Drummond de Andrade
"Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nível razoável de cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema.)"

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O outro lado da crise, querem lucrar com ela

Tal como disseram os estudantes italianos, que esta crise não pagariam. Os trabalhadores brasileiros começam seu movimento. A crise é sempre uma oportunidade de os patrões rebaixarem salários, dobrarem a carga de trabalho dos que ficam empregados que absorvem o trabalho dos demitidos.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Para não dizer que não falei de flores



Talvez perca se desejares minha subisistência

Talvez venda minhas roupas e meu colchão

Talvez trabalhe na pedreira... como carregador... ou varredor

Talvez procure grãos no esterco

Talvez fique nu e famintoMas não me venderei

Ó inimigo do sol

E até a última pulsação de minhas veias

Resistirei

Talvez me despojes da última polegada da minha terra

Talvez aprisiones minha juventude

Talvez me roubes a herança de meus antepassados

Móveis... utensílios e jarras

Talvez queimes meus poemas e meus livros

Talvez atires meu corpo aos cães

Talvez levantes espantos de terror sobre nossa aldeia

Mas não me vendereiÓ inimigo do sol

E até a última pulsação de minhas veias

Resistirei

Talvez apagues todas as luzes de minha noite

Talvez me prives da ternura de minha mãe

Talvez falsifiques minha história

Talvez ponhas máscaras para enganar meus amigos

Talvez levantes muralhas e muralhas ao meu redor

Talvez me crucifiques um dia diante de espetáculos indignos

Mas não me vendereiÓ inimigo do solE até a última pulsação de minhas veias

ResistireiÓ inimigo do sol

O porto transborda de beleza... e de signosBotes e alegrias

Clamores e manifestações

Os cantos patrióticos arrebentam as gargantas

E no horizonte... há velasQue desafiam o vento... a tempestade e franqueiam os obstáculos

É o regresso de Ulisses

Do mar das privações

O regresso do sol... de meu povo exilado

E para seus olhos

Ó inimigo do sol

Juro que não me venderei

E até a última pulsação de minhas veias

Resistirei Resistirei Resistirei


Samih Al-Qassin, in Poesia Palestina de Combate





segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Carta de uma jornalista de Gaza

Assustada, mas a postos, em Gaza
Rami Almeghari, da Faixa de Gaza ocupada, Palestina, 4/1/2009
(em http://electronicintifada.net/v2/article10116.shtml)

Prossegue pelo oitavo dia o incansável bombardeio de Israel na Faixa de Gaza. Pelo Skype, Rami Almeghari, correspondente da Electronic Intifada, conta como segue a vida, no início da noite de domingo, em Gaza.

Minha família é da vila de Karatiya, a poucos quilômetros da Faixa de Gaza, em território hoje ocupado por Israel. Karatiya é uma das 450 cidades da Palestina história que sofreu limpeza étnica das milícias sionistas em 1948. Minha família, como centenas de milhares de outras famílias palestinenses, perdeu tudo.

Moro hoje no campo de refugiados de Maghazi, na Faixa de Gaza, que nesse momento está sob bombardeio dos tanques de Israel, na linha da fronteira, pelos F-16s fabricados nos EUA, pelo ar, e pelo mar. Ontem, o exército de Israel entrou na Faixa de Gaza e há combates na parte norte da Faixa e a leste da cidade de Gaza.

Acabo de ligar o computador, porque agora há eletricidade aqui. Passamos sem luz quase todo o dia. Tento usar o gerador, mas o combustível está no fim. Logo sairei do ar; é terrível, para uma jornalista não ter meios para escrever.

Onde estou não ouço sinal de combates, pelo menos até agora. Os jornalistas não conseguem obter informação, porque é perigoso demais e tudo é proibido.

Há notícias de muitos mortos e feridos no norte da Faixa. A imprensa israelense comunicou a morte de um soldado. Há resistência, mais do que se diz que os israelenses esperavam. O governo do Hamás, afinal, vive sob ataque há já quase dois anos e meio.

Na região leste de Gaza houve combates em Shajaiyeh, a leste da cidade de Gaza. O exército parece ter mesmo dividido a cidade em duas áreas, como testemunhas confirmaram. Os tanques avançaram mais rapidamente hoje, que ontem, e parece que há tantes na colônia israelense de Netzarim, ao sul. Cai a noite e a luta continua. (...)

Uma casa foi destruída no ataque dos aviões em al-Tuffah, perto da cidade de Gaza. Hoje, Israel bombardeou o mercado popular de Firaz, perto do prédio da prefeitura da cidade de Gaza.

Há notícias de que os israelenses estariam usando armas ou munição radioativa. Os médicos e os paramédicos falam de queimaduras, abrasões e fraturas nos feridos e nos mortos que são condizentes com esse tipo de munição cujo uso é expressamente proibido pelas leis e convenções internacionais.

Saí um pouco hoje cedo, para tentar comprar alguma coisa e falar com alguém – o mesmo que todos estão tentando fazer por aqui. As estradas principais estão quase completamente desertas, nem carros nem pessoas. Todos ficam em casa, assustados. Só se sai, mesmo, em caso de emergência.

Meus vizinhos estão calmos. De fato, não há para onde ir nem o que fazer. Mas não vejo sinais de pânico nem de desespero. O que se ouve é que ninguém pensa em fugir ou em abandonar as casas, e que ficaremos onde estamos, mesmo que Israel chegue e destrua tudo. As pessoas que moram aqui são refugiados que perderam suas casas há 60 anos e estão passando por uma experiência que conhecem bem. Sabem que Israel preferiria que eles não existissem, e que espera que todos se mudem espontaneamente para o Egito ou para a Jordânia. Os refugiados sabem disso e já aprenderam que ficar onde estão é um modo de resistir.

Uma das minhas vizinhas disse que mesmo que Gaza seja destruída completamente, há milhões de palestinenses que continuarão a lutar contra a ocupação. Não digo isso para parecer emocional ou sentimental. Ouço isso por toda parte. Todos estão assustados, têm medo de morrer, mas pensam também como grupo, como povo. Parece mentira, mas é verdade.

Muitos tiveram notícias de que há manifestações em todo o mundo. Que se fala mais da Palestina hoje, do que das outras vezes. Todos confiam em que haja luz no fim desse túnel. Ao mesmo tempo, todos falam mal dos políticos e dos governantes que ouvem falar na televisão. Sentem-se ofendidos.

Rami Almeghari colabora para a Electronic Intifada, IMEMC.org, para a Free Speech Radio News
e é professora adjunta de Mídia e Tradução Política na Universidade Islâmica em Gaza.
Foi tradutora-chefe de inglês e editora-chefe do Centro Internacional de Imprensa do Serviço Palestinense de Informações, em Gaza.
Recebe e-mails em rami_almeghari@hotmail.com .

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009