quarta-feira, 20 de dezembro de 2006
quarta-feira, 15 de novembro de 2006
O Guardião dos Livros
O Guardião dos Livros
"(...) Por que enganar-me?
A verdade é que nunca soube ler,
Mas me consolo pensando
Que o imaginado e o passado já são o mesmo
Para um homem que foi
E que contempla o que foi a cidade
E agora volta a ser o deserto.
Que me impede sonhar que alguma vez
Decifrei a sabedoria
E desenhei com aplicada mão os símbolos?
Meu nome é Hsiang. Sou o que custodia os livros,
Que talvez sejam os últimos,
Porque nada sabemos do Império
E do Filho do Céu.
Aí estão nas altas estantes,
A um tempo próximos e distantes;
Secretos e visíveis como os astros.
Aí estão os jardins, os templos."
Jorge Luís Borges in Elogio da Sombra
Tradução Carlos Nejar e Alfredo Jacques
"(...) Por que enganar-me?
A verdade é que nunca soube ler,
Mas me consolo pensando
Que o imaginado e o passado já são o mesmo
Para um homem que foi
E que contempla o que foi a cidade
E agora volta a ser o deserto.
Que me impede sonhar que alguma vez
Decifrei a sabedoria
E desenhei com aplicada mão os símbolos?
Meu nome é Hsiang. Sou o que custodia os livros,
Que talvez sejam os últimos,
Porque nada sabemos do Império
E do Filho do Céu.
Aí estão nas altas estantes,
A um tempo próximos e distantes;
Secretos e visíveis como os astros.
Aí estão os jardins, os templos."
Jorge Luís Borges in Elogio da Sombra
Tradução Carlos Nejar e Alfredo Jacques
terça-feira, 7 de novembro de 2006
CORPUS
A palavra latina corpus que significa conjunto, corpo; é utilizada no meio acadêmico compreendida como um conjunto temático de dados, informações textuais e documentos sobre um assunto ou autor. “Para Roland Barthes, um corpus é uma coleção finita de diversos materiais (sons, imagens, escritos, entre outros) reunidos arbitrariamente por um pesquisador. Seguindo por esse caminho, extrapola-se o significado convencionalmente aceito e abre-se espaço para que ele seja constituído por múltiplos "materiais de linguagem" dos mais diversos, independentemente da forma que se apresentam.” (In. Sérgio Carvalho Benício de Mello & Marcio Gomes de Sá).
http://www.whitecube.com/exhibitions/chlebnikov/
Anselm Kiefer artista alemão faz nesse trabalho uma espécie de coleção de ondas, paisagens aquáticas e marinhas, barcos,,, citando William Turner, Coubert, Caspar Friedrich David. Chama atenção o título de uma matéria sobre este trabalho: "making waves".
Neste trabalho Kiefer emprega uma variedade "quase desconcertante" de materiais desde a pintura de óleo grossa, base de todos seus trabalhos, restos, modelos, fotografias, xilogravuras, areia, palha e toda o tipo de material orgânico. Somando materiais 'reais' na enorme superfície pintada ilusionística. Alguns críticos dizem que ele "inventou um espaço entre a pintura e a escultura". Eles também dizem, e é fato, que poucos artistas contemporâneos possuem o alcance épico de Kiefer; a natureza provocante e paradoxal do seu trabalho sugere que ele aderiu à noção do artista moderno que se coloca resolutamente fora da sociedade - um outsider, "ostentando suas histórias, seus tabus e seus mitos". Assimilando e utilizando as convenções e tradições da história da pintura, ele vai além deles, ou entrosando pontos de vista e apresentando interpretações contraditórias ou mesmo emulando-as... Kiefer já trabalhou com materiais empilhados randomicamente, bibliotecas ou arquivos estranhos, e outros temas e questões do momento em que vive...
terça-feira, 26 de setembro de 2006
Matéria se desinformando da parede
Nas artes experimentais contemporâneas
“Forjar e modelar pressupõe, como vimos, um material a ser moldado. O que a arte experimental moderna e pós-moderna, entretanto, fazem em grande parte não é tanto moldar a matéria, mas exibi-la. A tinta, o timbre, a tonalidade estão livres da subserviência de retratar algo, de serem constituintes do compasso, do ritmo, da melodia, em vez disso, tornam-se o próprio processo de apresentação. A matéria não é forjada, mas apresentada por aquilo que ela é. Ainda assim, tal apresentação requer alguma sutentação, cujas formas aparecem num estado neutralizado. A ‘matéria’, escreve Lyotard, ‘é precisamente considerada como algo que não está finalizado, que não é proponente de algo ou designado para algo. Não é mais tomada como um material cuja função seria preencher uma forma ou permitir-lhe realizar. A matéria nesse contexto seria essencialmente o que não está endereçado, o que não se endereça à mente (aquilo que de modo algum participa numa pragmática da destinação comunicacional e teleológica)’. A matéria como sujet é tornada tangível até o grau no qual a forma de sua apresentação cancela a si mesma. Essa reversão tem duas implicações importantes. O que era antes estrutura tradicional da obra de arte, a saber, dar forma à matéria foi herdado pela estética tal como funciona no mundo contemporâneo. A proeminência dada à matéria na arte moderna atesta o relacionamento dos dois componentes do estético, que molda e exibe a matéria através do cancelamento da forma. (...) Embora as artes experimentais tenham se tornado marginais, o estético faz um retorno triunfante porque, num mundo cada vez mais desorientado, somente ele pode comunicar ou enfrentar uma realidade de finalidade aberta”.
Fragmento de texto de WOLFGANG Iser. O ressurgimento da estética In ROSENFIELD, Denis L. Ética e Estética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 48.
sábado, 15 de julho de 2006
Há locais de memória porque não há mais meios de memória
“A curiosidade pelos lugares onde a memória se cristaliza e se refugia está ligada a este momento particular da nossa história. Momento de articulação onde a consciência da ruptura com o passado se confunde com o sentimento de uma memória esfacelada, mas onde o esfacelamento desperta ainda memória suficiente para que se possa colocar o problema de sua encarnação. O sentimento de continuidade torna-se residual aos locais. Há locais de memória porque não há mais meios de memória.
Pensemos nessa mutilação sem retorno que representou o fim dos camponeses, esta coletividade-memória por excelência cuja voga como objeto da história coincidiu com o apogeu do crescimento industrial. Esse desmoronamento central de nossa memória só é, no entanto, um exemplo. É o mundo inteiro que entrou na dança pelo fenômeno bem conhecido da mundialização, da democratização, da massificação, da mediatização." Pierre Nora In. http://www.dochis.arq.br/htm/numero/num12b.html
quarta-feira, 12 de julho de 2006
terça-feira, 27 de junho de 2006
segunda-feira, 19 de junho de 2006
"Como fica a idéia do autor quando as obras de arte passam a ser coletivas?"
"Se pegarmos, por exemplo o caso da música. Tem um sistema de notas em sistema sonoro podemos dizer que este sistema é um tipo de instrumento conceitual para a música. Você. tem um violino ou um piano. Eles são feitos por artistas: as pessoas que fabricam o piano, que fabricam o violino, esses instrumentos podem ser considerados obras de arte. Um Stradivarius é uma obra de arte. Alguém que utiliza um Stradivarius não diminui sua criatividade. Quem se inscreve no sistema da tonalidade clássica ocidental não tem sua criatividade diminuída. Ele a utiliza como instrumento como uma regra de jogo. Ora, o que estamos experimentando atualmente é uma situação na qual cada pessoa que compõe um trecho de música fabrica não somente uma mensagem, uma obra de arte mas, ao mesmo tempo um instrumento que os outros poderão utilizar. È como se disséssemos: cada pintor faz um quadro ou vários quadros mas esses quadros são também, pigmentos que os outros pintores vão poder empregar para pintar seus quadros. Portanto, hoje em dia, cada obra tem, de certo modo um duplo papel: um papel de mensagem ou de obra e um papel de instrumento. Podemos dizer que há uma hierarquia da complexidade. Você fabrica um computador. Ele é um tipo de instrumento universal. É preciso criatividade para se construir um computador. Você fabrica um programa de criação musical. E isto já está em um grau mais elevado. Um programa de computador é uma obra mas também um instrumento para se construir outras. Você fabrica um banco de efeitos sonoros: ele é uma obra, mas também um instrumento para que outros possam criar música. Você cria um trecho de música, isso já é uma obra. Mas é também matéria prima que outros poderão utilizar. Perceba que existe, o tempo todo, esse papel duplo. È um fenômeno presente em toda a cibercultura. Essa noção de dupla face. Por exemplo, você. cria um site web. Um site web é um conjunto de informações. Ao cria-lo, você. acrescenta informações ao estoque de informações já disponíveis. Mas, ao mesmo tempo um site oferece certo número de links com outros sites web.Trata-se de um instrumento para navegar na informação, e não apenas de um instrumento de informação. Acho que a dissolução da separação entre o instrumento de produção e a obra é algo própria à cibercultura. Todas as obras podem se transformar em instrumentos de produção, podem ser considerados como obras, pois eles moldam a sensibilidade ou a capacidade de produzir mensagens . portanto, há uma espécie de difusão da criatividade e, finalmente, é por isso que a noção de autor ou artista não digamos que desapareça mas começa a ser questionada e passa um pouco para o segundo plano uma vez que a produtividade e a criatividade estão no processo coletivo. Isto não quer dizer que talento, originalidade e inspiração não são necessários. Provavelmente sempre precisaremos disso. Mas há um deslocamento dessa noção de criatividade em direção aos processos coletivos e podemos perceber nisso muito bem na música tecno.
Quando se fala da música tecno, não devemos acreditar que este seja um gênero particular e bem definido. É certo que a música tecno é a música que toca nas raves tomamos ecxtasy e vamos dançar ritmos extremamente mecânicos, até mesmo industriais. Isso é somente uma das dimensões do fenômeno. Na verdade, podemos dizer que toda a música contemporânea está se tornando música tecno e que entre os diferentes gêneros por exemplo acid-jazz, tecno, hip-hop, new age, etc. Existem cada vez menos fronteiras entre todos estes gêneros e vivemos um processo de expansão da consciência musical, em que as distinções entre os gêneros têm cada vez menos importância ."
Recorte de uma entrevista com o filósofo francês Pierre Levy ao jornalista Florestan Fernandes Jr. para a série “As Formas do Saber” In:
http://www.saplei.eesc.usp.br/sap5865/leitura_semanal/PIERRE%20LEVY_arte%20e%20pensamento.htm
Quando se fala da música tecno, não devemos acreditar que este seja um gênero particular e bem definido. É certo que a música tecno é a música que toca nas raves tomamos ecxtasy e vamos dançar ritmos extremamente mecânicos, até mesmo industriais. Isso é somente uma das dimensões do fenômeno. Na verdade, podemos dizer que toda a música contemporânea está se tornando música tecno e que entre os diferentes gêneros por exemplo acid-jazz, tecno, hip-hop, new age, etc. Existem cada vez menos fronteiras entre todos estes gêneros e vivemos um processo de expansão da consciência musical, em que as distinções entre os gêneros têm cada vez menos importância ."
Recorte de uma entrevista com o filósofo francês Pierre Levy ao jornalista Florestan Fernandes Jr. para a série “As Formas do Saber” In:
http://www.saplei.eesc.usp.br/sap5865/leitura_semanal/PIERRE%20LEVY_arte%20e%20pensamento.htm
terça-feira, 6 de junho de 2006
Território vivido
“Os territórios estariam ligados a uma ordem de subjetivação individual e coletiva e o espaço está ligado mais às relações funcionais de toda espécie. O espaço funciona como uma referência extrínseca em relação aos objetos que ele contém. Ao passo que o território funciona em uma relação intrínseca com a
subjetividade que o delimita” Felix Guattari
O território pode ser relativo tanto ao espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio do qual o sujeito se sente ‘em casa’. O território é sinônimo de apropriação , de subjetivação fechada sobre si mesma . Ele é o conjunto dos projetos e das representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos...
subjetividade que o delimita” Felix Guattari
O território pode ser relativo tanto ao espaço vivido, quanto a um sistema percebido no seio do qual o sujeito se sente ‘em casa’. O território é sinônimo de apropriação , de subjetivação fechada sobre si mesma . Ele é o conjunto dos projetos e das representações nos quais vai desembocar, pragmaticamente, toda uma série de comportamentos, de investimentos, nos tempos e nos espaços sociais, culturais, estéticos, cognitivos...
foto da Susane Moulié
quarta-feira, 31 de maio de 2006
segunda-feira, 29 de maio de 2006
Xamã de muitas vidas
terça-feira, 23 de maio de 2006
Linhas, dobras, labirintos
Deleuze e as linhas e as dobras
Repare no mundo das linhas que se cruzam e se tecem. Nós pensamos que as linhas são os componentes básicos das coisas e dos eventos. Assim tudo tem sua geografia, sua cartografia, seu diagrama diz Gilles Deleuze. Interessa as linhas que constituem os fluxos da globalização e da cidade. Eu tendo a pensar das coisas como jogos de linhas a serem desemaranhadas, mas a ser feitas também para cruzar-se. Eu não gosto de pontos. As linhas não são coisas que funcionam entre dois pontos; os pontos estão onde diversas linhas se cruzam. As linhas nunca funcionam uniformemente, e os pontos não são nada, mas inflexão das linhas. Mas geralmente, não são os inícios e as extremidades que contam, mas os intermédios.
Deleuze tem interesse no desdobramento, na abertura, no desvelamento, no labirinto infinito da dobra para dobrar, que produz a topologia do mundo como um do processo que rejeita a ficção dos limites, da fixidez, a permanência, o encaixe, o enclave, o encravamento.
O que é importante é que todas as dobras são igualmente importantes, não há nenhuma hierarquia entre as dobras. Elas não podem ser definidas pelos termos do essencial e o inessential, o necessário e o contingente, ou o estrutural e o ornamental. Cada dobra faz sua parte: cada dobra alarga ' a ' distante. O evento do origami está no desdobrar, apenas como o presente está em envolver: não como o índice, mas como o processo. Bruno Latour, e Michel Serres observam que as dobras ou /o próximo tornado distante/ não formam uma teoria métrica do espaço (e do tempo), que foi rejeitada a favor de uma teoria topológica em que o espaço-tempo é visto dobrado, enrugado e de modo multi-dimensional.
Tradução do texto de C. Blake. Apparatus of Capture: The Use of Deleuzian Thought and Actor Network Theory to Conceptualise Urban Power Relations. In site do GaWC: Globalization and World Cities Study Group and Network. Documento 111
A dobra é o acontecimento
A dobra é o acontecimento, a bifurcação que faz ser. Cada dobra, ação-dobra ou paixão-dobra, é o surgimento de uma singularidade, o começo de um mundo. A proliferação ontológica é irredutível a uma ou outra camada particular dos estratos; igualmente irredutível a qualquer dobra-mestra como aquela do ser e dos entes, da infraestrutura e da superestrutura, do determinante x e do determinado y. O mundo total e intotalizável, o trans-mundo cosmopolita, diferenciado, diferenciante e múltiplo é, ao contrário, infinitamente redobrado, ele fervilha de singularidades nas singularidades, de dobras nas dobras. As oposições binárias maciças ou molares como a alma e o corpo, o sujeito e o objeto, o indivíduo e a sociedade, a natureza e a cultura, o homem e a técnica, o inerte e o vivo, o sagrado e o profano, e até a oposição de que partimos entre transcendental e empírico, todas essas divisões são maneiras de dobrar, resultam de dobras-acontecimentos singulares do mesmo “plano de consistência” (Deleuze e Guattari, Mil Platôs n. 4/5). “Isso” poderia ter se dobrado de outra maneira. E como a dobra emerge num infinitamente diversificado, mas único, sempre se pode remontar ao acontecimento da dobra, seguir seu movimento e sua curvatura, desenhar seu drapê, passar continuamente de um lado para o outro.
Texto de Pierre Levy. Plissê fractal ou como as máquinas de Guattari podem nos ajudar a pensar o transcendental hoje.
A dobra e o labirinto de Leibniz
Deleuze serviu-se da metáfora do labirinto para explicar o conceito de espaço em Leibniz, em seu livro A Dobra. Diz Deleuze, “Leibniz explica em um texto extraordinário: um corpo flexível ou elástico ainda tem partes coerentes que formam uma dobra, de modo que não se separam em partes de partes, mas sim se dividem até o infinito em dobras cada vez menores, que conservam sempre uma coesão. Assim, o labirinto do contínuo não é uma linha que dissociaria em pontos independentes, como a areia fluida em grãos, mas sim é como um tecido ou uma folha de papel que se divide em dobras até o infinito ou se decompõe em movimentos curvos, cada um dos quais está determinado pelo entorno consistente ou conspirante. Sempre existe uma dobra na dobra, como também uma caverna na caverna. A unidade da matéria, o menor elemento do labirinto é a dobra, não o ponto, que nunca é uma parte, e sim uma simples extremidade da linha”. O espaço leibniziano é constituído como um labirinto com um número infinito de dobras, algo similar à cidade composta de quadras, casas, quartos, móveis, dobras dentro de dobras, dobras que conformam espaços, como um origami, a arte da dobradura do papel.
Texto de Fernando Fuão. O sentido do espaço. Em que sentido, em que sentido? – arquitexto 50 in site do Vitruvius
quinta-feira, 11 de maio de 2006
Segundo Antonio Negri
A miltância hoje não é distribuir panfleto, colar cartaz, dizer palavras de ordem. Militar é investigar. Fazer pesquisa para entender esses desdobramentos do trabalho. Identificar a capacidade produtiva do trabalho para fazer militância. É um trabalho cultural. (...)
A globalização não tirou a possibilidade de transformar o mundo, mas diluiu sobre toda a face da terra essa possibilidade. Há várias cargas políticas hoje no mundo prontas para explodirem. Temos de reconhecê-las para guiá-las. Hoje, portanto, o grande problema é se inserir no mercado mundial buscando localizar essas questões. Não se trata de auto-flagelamento, mas estar sempre pronto para uma tentativa de renovação. Antonio Negri
Ver texto na íntegra no post "Uma mensagem para militância" Inhttp://jornalismodigitalufes.blogspot.com/2005_10_23_jornalismodigitalufes_archive.html
domingo, 7 de maio de 2006
Segundo John Cage
Onde não parece haver nenhum espaço, saiba que não sabemos mais o que é espaço. Tenha fé, o espaço está lá, dando as pessoas a chance de renovar sua maneira de reconhecê-lo, não importa por que meios, psiquicos, somáticos ou meios que envolvam extensões de ambos. As pessoas ainda pedem definições, mas agora é tranquilo que nada pode ser definido. Muito menos a arte, seus propósitos, etc. Não estamos certos nem sobre as cenouras (se elas são o que pensamos que são, quão venenosas elas são, quem as desenvolveu e em que circunstâncias). John Cage, 1966
Já não se trata de as pessoas serem conduzidas por alguém que assume a responsabilidade. É como Mcluhan diz: uma situação tribal. Precisamos de ajuda mútua para fazer (colheita, arte) o que tem que ser feito. John Cage
sábado, 6 de maio de 2006
Pergunta!!
« De que recursos dispõe uma pessoa ou um coletivo para afirmar um modo próprio de ocupar o espaço doméstico, de cadenciar o tempo comunitário, de mobilizar a memória coletiva, de produzir bens e conhecimento e fazê-los circular, de transitar por esferas consideradas invisíveis, de reinventar a corporeidade, de gerir a vizinhança e a solidariedade, de cuidar da infância ou da velhice, de lidar com o prazer ou a dor?. »
« Mais radicalmente, impõe-se a pergunta: que possibilidades restam de criar laço, de tecer um território existencial e subjetivo na contramão da serialização e das reterritorializações propostas a cada minuto pela economia material e imaterial atual? In Peter Pal Pelbart »
quarta-feira, 3 de maio de 2006
I fall in love too easily
•Corpo sem órgãos
•Não é uma noção, um conceito, mas antes uma prática, um conjunto de práticas. Ao Corpo sem Órgãos não se chega, não se pode chegar, nunca se acaba de chegar a ele, é um limite. Diz-se: que é isto - 0 CsO - mas já se está sobre ele - arrastando-se como um verme, tateando como um cego ou correndo como um louco, viajante e nômade da estepe. É sobre ele que dormimos, velamos, que lutamos, lutamos e somos vencidos, que procuramos nosso lugar, que descobrimos nossas felicidades inauditas e nossas quedas fabulosas... Deleuze ...
sexta-feira, 28 de abril de 2006
BIOS-BWO
"A noção de vida deixa de ser definida apenas a partir dos processos biológicos que afetam a população. Vida inclui a sinergia coletiva, a cooperação social e subjetiva no contexto de produção material e imaterial contemporânea, o intelecto geral. Vida significa inteligência, afeto, cooperação, desejo. A vida deixa de ser reduzida, assim, a sua definição biológica para tornar-se cada vez mais uma virtualidade molecular da multidão, energia a-orgânica, corpo-sem-órgãos. O bios é redefinido intensivamente, no interior de um caldo semiótico e maquínico, molecular e coletivo, afetivo e econômico, aquém da divisão biológico/mecânico, individual/coletivo, humano/inumano. Assim, a vida ao mesmo tempo se pulveriza e se hibridiza, se dissemina e se alastra, se moleculariza e se totaliza, se descola de sua acepção biológica para ganhar uma amplitude inesperada e ser, portanto, redefinida como poder de afetar e ser afetado, na mais pura herança espinosana. Biopolítica que foi definida por Foucault como poder sobre a vida, passa com Deleuze a designara potência da vida." Peter Pal Pelbart
quinta-feira, 27 de abril de 2006
BWO- desejo
Desejo é o encontro das causas, é aliança de qualidades ativas afluentes. Só há desejo quando há agenciamento de potências ativas. Quando um corpo efetua sua potência a liberdade se potencializa. (Extrato de texto de Raquel Correa).
O corpo circula em um território que é físico e cultural por definição. O corpo re-age à cultura que seleciona e adestra, tornando-se ativo e acionado...
Gilles Deleuze diz que o desejo não comporta qualquer falta e não é um dado natural. Está constantemente articulado a agenciamentos que funcionam. O desejo é processo em vez de ser estrutura ou gênese. Em vez de ser sentimento, o desejo é afeto. O desejo não se refere a subjetividade, mas a “hecceidade” (individualidade de uma jornada, de uma estação, de uma vida). Em vez de ser coisa ou pessoa, o desejo é acontecimento. O desejo implica, sobretudo constituição de um campo de imanência ou de um “corpo sem órgãos” (Body Without Organs-BWO), definido somente por zonas de intensidade, de limiares, de gradientes, de fluxos. Esse corpo é tanto biológico quanto coletivo e político. Os agenciamentos se fazem e se desfazem sobre esse corpo, portador das pontas de desterritorialização, dos agenciamentos ou linhas de fuga. (Deleuze em Desejo e Prazer).
terça-feira, 25 de abril de 2006
CORPO (SEM ÓRGÃOS)_BWO
Corpo existe em termos elementares ou afetivos, dispositivo das potências paixão e ação. O corpo existe em termos de afetar e ser afetado.
Para os estóicos, a essência do corpo é fluxo, única, singular, não genérica, mas sempre diferentes umas das outras. O que Deleuze denominou de hecceidade, que se refere somente a afetos e movimentos locais, velocidades diferenciais, movimento e repouso.
Segundo Deleuze, “tudo se passa na superfície em um cristal que não se desenvolve a não ser pelas bordas. Sem dúvida, não é o mesmo que se dá com um organismo; este não cessa de se recolher em um espaço interior, como de se expandir no espaço exterior, de assimilar e de exteriorizar. Mas as membranas não são aí menos importantes: elas carregam os potenciais e regeneram as polaridades, elas põem precisamente em contacto o espaço exterior independentemente da distância. O interior e o exterior, o profundo e o alto, não têm valor biológico a não ser por esta superfície topológica de contacto. É, pois, até mesmo biologicamente que é preciso compreender que “o mais profundo é a pele” (Gilles Deleuze. Lógica do Sentido)
Deleuze produz conceitos que rompem com as modalidades dominantes de pensar e representar a subjetividade, propondo novos perceptos (novas maneiras de ver e escutar) e novos afetos (novas maneiras de sentir). Conceitos como hecceidade, devir, território, rizoma, dobra, linhas de fuga servem para combater a prioridade do verbo ser. (Extrato de texto de Alex Fabiano Jardim)
Continuando, a essência de um corpo é definida como uma potência, uma tensão. A potência quer agir nas fronteiras, ultrapassar seus limites; por isso os estóicos inventam uma ética com base nessas potências singulares da vida e do pensamento. Ético é permitir a potência ocorrer, a seguir o encontro ocorrer, e finalmente aparecer o sentido do encontro. Nesse encontro os corpos se penetram mutuamente, e se misturam. Os corpos são compostos de qualidades e matérias ativas, ou seja, potência de afetar os outros e ser afetado, de receber ação de outros corpos. O afeto é o encontro, afetar e ser afetado. As qualidades e potências dependem da relação, do encontro. Isto funda a ética do que cada corpo pode.
Para os estóicos, a essência do corpo é fluxo, única, singular, não genérica, mas sempre diferentes umas das outras. O que Deleuze denominou de hecceidade, que se refere somente a afetos e movimentos locais, velocidades diferenciais, movimento e repouso.
Segundo Deleuze, “tudo se passa na superfície em um cristal que não se desenvolve a não ser pelas bordas. Sem dúvida, não é o mesmo que se dá com um organismo; este não cessa de se recolher em um espaço interior, como de se expandir no espaço exterior, de assimilar e de exteriorizar. Mas as membranas não são aí menos importantes: elas carregam os potenciais e regeneram as polaridades, elas põem precisamente em contacto o espaço exterior independentemente da distância. O interior e o exterior, o profundo e o alto, não têm valor biológico a não ser por esta superfície topológica de contacto. É, pois, até mesmo biologicamente que é preciso compreender que “o mais profundo é a pele” (Gilles Deleuze. Lógica do Sentido)
Deleuze produz conceitos que rompem com as modalidades dominantes de pensar e representar a subjetividade, propondo novos perceptos (novas maneiras de ver e escutar) e novos afetos (novas maneiras de sentir). Conceitos como hecceidade, devir, território, rizoma, dobra, linhas de fuga servem para combater a prioridade do verbo ser. (Extrato de texto de Alex Fabiano Jardim)
Continuando, a essência de um corpo é definida como uma potência, uma tensão. A potência quer agir nas fronteiras, ultrapassar seus limites; por isso os estóicos inventam uma ética com base nessas potências singulares da vida e do pensamento. Ético é permitir a potência ocorrer, a seguir o encontro ocorrer, e finalmente aparecer o sentido do encontro. Nesse encontro os corpos se penetram mutuamente, e se misturam. Os corpos são compostos de qualidades e matérias ativas, ou seja, potência de afetar os outros e ser afetado, de receber ação de outros corpos. O afeto é o encontro, afetar e ser afetado. As qualidades e potências dependem da relação, do encontro. Isto funda a ética do que cada corpo pode.
quinta-feira, 20 de abril de 2006
Ser afetado...
Háptico (tato ativo) *** é um sistema perceptivo complexo, encarregado de apreender e codificar o estímulo que chega aos receptores cutâneos e cinestésicos. Por percepção háptica se entiende la combinación de la información adquirida a través de la piel que recubre el cuerpo humano y la información obtenida a través del movimiento , o sentido cinestésico\".. \"Se trata de um sistema perceptivo complexo que incorpora e combina informações a partir de distintos subsistemas tácteis, como o cutâneo (percepção da pressão e da vibração), o sistema térmico e as terminações nervosas da dor. Além disso, o sistema háptico inclui também o sistema cinestésico que processa informação sobre a posição e o movimento por meio de receptores existentes em articulações do corpo, músculos e tendões."
O uso ativo do tato para “buscar e adquirir informação” tem sido denominado ***“tato háptico”***. O “sistema háptico” tem sido definido como um sistema perceptual distinto, orientado à discriminação e ao reconhecimento dos objetos por intermédio da manipulação em vez do olhar.
"...É uma aprendizagem ***háptico (do grego ‘haptikós’), que significa táctil***, ou tocar as mãos e também com nosso espírito, submersão na ação para vive-la e, por assim dizer, apalpa-la, faze-la nossa"
http://www.proz.com/kudoz/1235971
sábado, 15 de abril de 2006
Pensamento é um momento que nos leva a emoção
Humberto Maturana salienta o quanto nossa cultura privilegia a formação do indivíduo como um ser que necessita tornar-se competitivo para alcançar o sucesso. Para constatar isso, nos diz Maturana que, basta observar o dilema atual dos estudantes entre preparar-se para o mercado de trabalho competitivo versus o desejo de mudar uma ordem político-cultural geradora de excessivas desigualdades que trazem pobreza e sofrimento material e espiritual com o qual nos deparamos a todo momento em todos os lugares.
Para termos sucesso, temos que competir. Em sua visão, a competição é um fenômeno cultural-humano e não biológico.
Nossa educação hoje se encontra ainda voltada ao racional. Entretanto, todo sistema racional tem um fundamento emocional. A grande dificuldade é que vivemos numa cultura que desvaloriza as emoções. E nós, nos vangloriamos de sermos seres racionais!!!
A emoção para Maturana não é sinônimo de sentimento. Emoções são disposições corporais dinâmicas que definem os diferentes domínios de ação em que nos movemos. Biologicamente, as emoções são dispositivos corporais que determinam ou especificam domínios de ações. Isso fica evidente quando nos damos conta de como reconhecemos as diferentes emoções em nós e nos outros, observando o domínio de ações ou fazendo uma apreciação sobre o domínio de ações que sua corporalidade conota.
Emoções: “os diferentes domínios de ações possíveis nas pessoas e animais, e as distintas disposições corporais que os constituem ou realizam.” (Humberto Maturana)
Extrato do texto de Maria do Céu Lamarão Battaglia
quinta-feira, 13 de abril de 2006
the explorations of love's quality 2
About Knowledge and Circumstance, or material/immaterial: the explorations of love's quality. by María Isabel Villac (continuação)
"I don't like to see this struggle to become ethereal as a sour reaction against the world, but Istart to think that it is an alienation, a difficulty to believe in the improvement andadaptability of joy and love. I don´t like it either to see it as a surrender to the powerful forcesof human exploitation.I like to see it as the last place of the polarity that frames Western thought, overloads itslimits and, still nowadays, hurts love, nature, the cosmic world we want. How can otherwisebe understood the will to substitute being together by living alone, knowledge gained inconvivial happiness by information, touch by absence of touch, if everything is an option foreverything, and nothing, but nothing at all can be "substitute"? "
quarta-feira, 12 de abril de 2006
the explorations of love's quality
About Knowledge and Circumstance or material/immaterial: the explorations of love's quality. by María Isabel Villac.
"1. Contrary to the Platonic ideal, love has its necessary corporeality. It must be heard, it must be spoken, it must be seen. It must be touched. It must be smelt and felt. At least, like nature, being nature, it must be expressed.
2.The promise we made us is that of 'being together'. Is it a heretical promise (an illusion), since it is wanted also under heaven, on earth, between women and men?" etc....
segunda-feira, 10 de abril de 2006
sábado, 8 de abril de 2006
Quem somos nós?
"Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser completamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis." Italo Calvino
sexta-feira, 7 de abril de 2006
Núpcias e não casais nem conjugalidade
“O contrário de um plagiador mas também o contrário de um mestre ou modelo. Uma preparação bem longa mas nada de método nem de regras ou receitas. Núpcias e não casais nem conjugalidade. Ter um saco onde coloco tudo que encontro, com a condição que me coloquem também em um saco. Achar, encontrar, roubar, ao invés de regular, reconhecer e julgar (emitir juízos de valor). (...) Antes ser um varredor do que um juiz. Quanto mais alguém se enganou na vida, mais ele dá lições (...) [e enuncia novas regras]” DELEUZE In DELEUZE & PARNET, 1998, p. 16.
quinta-feira, 6 de abril de 2006
A la nue accablante tu
sexta-feira, 31 de março de 2006
Porque me contradigo?
“Porque me contradigo? Pois bem, me contradigo, sou vasto, contenho multidões” Walt Whitman.
“Temos a arte para que a verdade não nos destrua” Fiedrich Nietzsche.
No projeto clássico e também no projeto moderno a tarefa do arquiteto consiste em ordenar. A finalidade da ordem clássica ou moderna é produzir um objeto que não seja contraditório. A não-contradição é um dos princípios lógicos do processo de conhecimento de Arsitóteles, quais sejam: da identidade, da não contradição e do terceiro excluído,
* A lógica da matemática adota como regras fundamentais do pensamento os dois seguintes princípios (ou axiomas): princípio da não contradição : uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo./ princípio do terceiro excluído : toda proposição ou é verdadeira ou é falsa, verifica-se sempre um destes casos e nunca um terceiro.
Na arquitetura contemporânea ocorre a superação da ordem como controle e da idéia de forma como figuração. O controle se faz mais sutil, menos evidente; prescinde-se da geometria e nem imposições visuais para se manter estados relacionais adequadas. Aspira-se sistemas baseados em controle aberto mais que ordens fechadas (Manuel Gausa).
Termos:
Contradição: Ato ou efeito de contradizer(-se). Dito, procedimento ou atitude oposta ao que se tinha dito, ou a que se adotara anteriormente; falta de nexo ou de lógica; incoerência, discrepância; oposição às opiniões, idéias e sentimentos de outrem; objeção, desacordo.
Contraposição: Antinomia, antinomismo, assimetria, contradição, contradita, contraste, desconformidade, desencontro, desequilíbrio, desigualdade, desproporção, desuniformidade, discordância, discrepância, disparidade, dissemelhança, divergência, diversidade, incoerência, incompatibilidade, inconformidade, incongruência, oposição, polarização; ver tb. sinonímia de desinteligência / discrepância entre pontos de vista; desacordo, desentendimento.
Antinomia: contradição entre quaisquer princípios ou doutrinas. Posição ou disposição totalmente contrária; oposição.
Complexo: Diz-se de ou conjunto, tomado como um todo mais ou menos coerente, cujos componentes funcionam entre si em numerosas relações de interdependência ou de subordinação, de apreensão muitas vezes difícil pelo intelecto e que apresentam diversos aspectos.
Simples: que não é composto, múltiplo ou desdobrado em partes; que é feito de um elemento básico, que não se compõe de partes ou substâncias diferentes; singelo; que evita ornamentos dispensáveis; desprovido de elementos acessórios; que é elementar, não apresentando qualquer embaraço para sua compreensão; isento de significações secundárias; mero, puro; que não é acompanhado ou auxiliado por outrem; só, único; que não é sofisticado; modesto, singelo; habitual, comum; sem luxo, sem ostentação; singelo, modesto; que é espontâneo, franco e ignora simulações ou fingimento.
Etimologia: do latim singelo, não composto, só, único, que só é dobrado uma vez, tendo tomado o sentido moral de não complicado. Do latim sim (o mesmo que figura em singular) mais plex (que se dobra).
Coerência: Qualidade, condição ou estado de coerente; ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas idéias; relação harmônica, conexão; congruência, harmonia de uma coisa com o fim a que se destina; uniformidade no proceder, igualdade de ânimo.
“As paixões nos remetem à produção, a produção à subjetividade, a subjetividade à potência do desejo, a potência do desejo ao sistema de enunciação, a enunciação à expressão, indo da expressão subjetiva à superfície do mundo pelo ato que se revela no sentido, que é uma abstração. E essa abstração é novamente desejo. Impressão de eterno retorno. Mas o que conta é menos essa circularidade dos signos do que a multiplicidade dos círculos, porque o signo não remete apenas ao signo em um mesmo círculo, mas de um círculo a outro ou de uma espiral a outra". (Gilles Deleuze, Félix Guattari: Mil Platôs).
quinta-feira, 30 de março de 2006
Os curso da matéria na filosofia da arte:
Os filósofos da antiguidade dividem-se em duas grandes correntes - materialistas e idealistas. O termo materialista significa aqueles que acreditam que o universo (tudo o que existe) é formado de matéria, inclusive as idéias são resultado do movimento da matéria (ou de energia, que é matéria, como mostrou Einstein). Os idealistas são aqueles que acreditam que existe uma origem, ou ponto de origem, ou ser superior que tudo criou.
Os filósofos Pré-socráticos ou filósofos da physis, que buscavam a arché, que era um princípio que, além de ser o princípio de todas as coisas, deveria também compor (ou fazer parte de) todas as coisas, e mesmo ser o fim último de todas as coisas.
Os filósofos, considerados pioneiros da filosofia ocidental, buscavam um princípio, a arché, que deveria ser um princípio presente em todos os momentos da existência de tudo. Essa arché deveria estar no início, no desenvolvimento e no fim de tudo
Estes filósofos são chamados da physis porque suas investigações giravam em torno do mundo material e físico, embora a arché pudesse ser algo não físico: números ou a-peiron (uma "coisa" incriada e sem um começo).
PHYSIS,
“Designa o processo de surgir e desenvolver-se; e abarca a fonte originária das coisas, aquilo a partir o qual se desenvolvem e pelo qual se renova constantemente o seu desenvolvimento; realidade subjacente às coisas de nossa experiência; o que é primário, fundamental e persistente, em oposição ao que é secundário, derivado e transitório”. G.Bornheim
Physis: é o que por si brota, emerge; é início de tudo e esse início está dentro da própria. Physis; é início, é fluxo ou força, também o psíquico e as idéias pertencem à physis.
Tudo está cheio de deuses diz Tales de Mileto, cheio de alma, de forças. A physis tem um princípio inteligente, que se conhece por suas manifestações: o logos, a inteligência, o espírito, o pensamento.
Physis não significa natureza, mas tudo o que existe. O objeto e a causa do corpo são um só: a Physis. A vida ativa afirma o pensamento; o pensamento afirma a vida. A vida aflora dos corpos, das partículas.
Para Platão a matéria é por natureza algo imperfeito que não consegue manter a identidade das coisas (muda sem cessar). O mundo de nossa experiência é mutável. Por isso a filosofia deve ocupar-se com o mundo verdadeiro- invisível aos sentidos - puro pensamento, o mundo das essências.
Para Aristóteles a idéia não tem existência em si, é abstraída pelo sujeito, o que importa é a realidade, para conhecê-la é preciso reduzi-la as suas causas primeiras - a pesquisa causal: material, motora, formal, causa final (a que se destina o objeto).
Aristóteles estabelece a metafísica cujos temas principais são existência e essência, estudo dos fundamentos das coisas. O conhecimento racional dependeria inteiramente dos objetos do conhecimento. Exige a distinção entre ser e parecer, entre realidade e aparência, a aparência só pode ser compreendida e explicada pelo conhecimento da realidade que subjaze a ela.
Téchne, para Aristóteles a arte é uma forma de téchne, cujo o exercício depende de uma série de requisitos. Arte hábito de produzir com reta razão
Téchne significa meio de fazer, de produzir, assim os processos artísticos são aqueles mediante o emprego de meios adequados, permite fazer bem determinada coisa. Assim, Aristóteles coloca os requisitos da arte não em forças misteriosas — inspiração que vem do divino, mas nos poderes e habilidades do artista que configura pela força de sua imaginação, estruturas criadoras, a poiesis, que é produção e fabricação. É um produzir que dá forma, uma criação que organiza e instaura uma realidade nova. Idéia para Aristóteles significa o mesmo que formas, são essências, substratos metafísicos, responsáveis pelo ser das coisas, não há o antagonismo platônico entre matéria e idéia, pois as coisas passam a existir para Aristóteles, na medida em que a essência, a forma universal se individualizam na matéria.
A arte com poiesis, atividade formadora e a idéia de belo, objeto de contemplação Há uma boa distância. A produção da arte decorrente da atividade prática depende do sujeito para acontecer. Assim natureza, tem seu movimento próprio (geração e degeneração das coisas); tem como causas principais a matéria e forma enquanto que a arte nasce da ação formadora mobilizada pelas necessidades humanas, acrescenta uma dimensão puramente artificial à natureza. A matéria nada pode gerar por si mesma depende da forma que a delimite e determine um sujeito que a conceba e produza; em Platão a forma é tão-somente idéia, que existe separada das coisas (modelo a priori), no mundo inteligível. Em Aristóteles ela é principio ativo, principio originário e organizador. A alma que dá vida ao organismo, seria a forma do corpo. Essas causas naturais aplicam-se à arte. A forma é a idéia concebida pelo artista. Portanto é um ato de inteligência que através da prática, determina a matéria, gerando um novo ser, que se denomina obra. O movimento da obra é prático. A arte como poiesis assemelha-se à natureza, seja no processo formativo seja na própria forma.
Na tratadística de Leon Alberti 1490 derivada de Aristóteles há o Edifício-corpo: personagem, que tem forma e depende do espírito e decorre da matéria dependente da natureza, que são unidas no ato de construir.
O edifício tem partes, subordinadas ao todo e solidárias entre si, cumprem funções específicas e diferentes, são operações universais seja para a casa ou a cidade.
Na arquitetura moderna os procedimentos de projeto baseavam-se numa visão da resistência dos materiais e do cálculo estrutural ‑ a verdade (científica) dos materiais.
Petrus Berlage (influenciou Mies) só deve ser construído o que for claramente edificado – emprego lógico, adequado, segundo a lógica estrutural e a natureza/ comportamento deste material. Na estética da vanguarda simular materiais era considerado kitsch.
A estética da máquina confrontava-se com a manufatura – havia o desejo de fazer crer nenhuma mão havia tocado seus objetos.
A idéia de começar do zero, de apagar os rastros, determinava a escolha dos materiais: Não há como deixar rastros no vidro (nem no aço), material liso e frio, onde nada se fixa. “As coisas de vidro não têm nenhuma aura. O vidro é em geral o inimigo do mistério” Walter Benjamin.
A produção em industrial em massas (até os anos 1970) criou a sociedade do descarte (Alvim Toffler): “os antimaterialistas tendem a minimizar a importância das ‘coisas’. No entanto as coisas são altamente significativas não só por sua utilidade funcional, mas também por seu impacto funcional TOFFLER.
Problema contemporâneo da aceleração, das relações telemáticas (internet), o tempo e o espaço desapareceram como dimensões significativas do pensamento e da ação humanos. Objetos (ocupar espaço durante um tempo, marca humana)/ O mundo de nossa sensibilidade é um mundo de diálogos com as formas das matérias, físicas ou psíquicas.
Nas várias linguagens da arte, o conteúdo expressivo da obras, é articulado de modo formal, nos termos característicos de cada linguagem, sendo os valores e as vivências traduzidos em formas espaciais. FORMA: modo de ser, feitio, aparência, configuração, disposição. A idéia de forma sempre abrange um princípio organizador, estruturador, uma ordenação que se torna manifesta.
AS COISAS (Arnaldo Antunes)
As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, duração, densidade, cheiro, valor, consistência, profundidade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, destino, idade, sentido. As coisas não têm paz.
Gaston de Bachelard
Poéticas do fogo, do ar (movimento), da água (matéria: massa é o esquema fundamental da materialidade) e da terra (a dialética entre as matérias duras e moles/ forças e intimidade), a imaginação produtiva, a energia do trabalhador.
A mão, matéria, mãe palavras plásticas
alquimia da água e do fogo, na condução das metamorfoses que transitam entre a terra e o ar, na dinâmica dos ciclos de criações, contínuas florescências
(...) diante do fogo e a imaginação descobre que o fogo é o motor do mundo; ou sonha-se diante de uma fonte, e a imaginação descobre que a água é o sangue da terra; que a terra tem uma profundidade viva" (Bachelard, 1988 c: 169).
Como reação ao essencialismo/ ao desejo do etéreo/ não corporal/ a matéria ganha na arte contemporânea um papel de destaque.
A arte conceitual gera, nos anos 1970, o conceito de "instalação" – um arranjo cênico de objetos, que vem a se tornar a linguagem predominante da arte no fim de século. Variante da arte conceitual é a land art (arte da terra), dos ingleses Richard Long e Robert Smithson, que intervêm em formas da natureza.
Nos anos 70, na Itália, sob influência da arte conceitual e também como reação à "assepsia" minimalista, surge a arte povera (arte pobre). O material das obras é inútil e precário, como metal enferrujado, areia, detritos e pedras. Na combinação dos elementos, a arte povera põe em questão as propriedades intrínsecas dos materiais (que podem mudar de características com o tempo, ou ter qualidade estética inesperada) e o valor de uso na economia capitalista contemporânea.
segunda-feira, 27 de março de 2006
Externalidades
Arnaldo Antunes: Pensamento vem de forae pensa que vem de dentro, pensamento que expectorao que no meu peito penso. Pensamento a mil por hora,tormento a todo momento. Por que é que eu penso agorasem o meu consentimento? Se tudo que comemoratem o seu impedimento, se tudo aquilo que choracresce com o seu fermento; pensamento, dê o fora, saia do meu pensamento. Pensamento, vá embora, desapareça no vento. E não jogarei sementesem cima do seu cimento.
Rimbaud: É falso dizer: penso. Dever-se-ia dizer: pensa-se em mim
Lacan: "Sou onde não estou, estou onde não sou".
Fernando Pessoa: Tudo quanto penso, tudo quanto sou. é um deserto imenso onde nem eu estou.
domingo, 26 de março de 2006
Nós somos desertos
“Nós somos desertos, mas povoados de tribos, de faunas e floras. Passamos nosso tempo a arrumar essas tribos, a dispô-las de outro modo, a eliminar algumas delas, a fazer prosperar outras. E todos estes povoados, todas essas multidões não impedem o deserto, que a nossa própria ascese; ao contrário, elas o habitam, passam por ele, sobre ele ( o deserto a experimentação sobre si mesmo é nossa única identidade, nossa única chance para todas as combinações que nos habitam (...)”DELEUZE In DELEUZE & PARNET, 1998, p. 19.
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