segunda-feira, 15 de junho de 2015

HISTÓRIA; A gênese do império da lei - Sylvia Colombo -- ‪#‎CartaMagna‬ ‪#‎Commonwealth‬

HISTÓRIA
A gênese do império da lei
Em 1215, a Inglaterra impunha limites ao monarca
SYLVIA COLOMBO
RESUMO Desavenças entre o rei John da Inglaterra e os então "homens livres", que viam seus direitos econômicos ameaçados pelos abusos do monarca, levaram à criação da Magna Carta. O documento, que impôs limites ao monarca, completa 800 anos e é objeto de comemorações e lançamentos no Reino Unido.
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Na primavera de 1940, enquanto a Alemanha bombardeava Londres e outras grandes cidades britânicas, milhões de norte-americanos enfrentaram filas, em Nova York e em Washington, para ver de perto um dos quatro exemplares sobreviventes da Magna Carta britânica, documento escrito em 1215, em latim medieval, restrito a uma única folha com 54 linhas de texto em letras pequenas, protegido por um vidro grosso.
No ano seguinte, após o ataque a Pearl Harbor, os EUA decidiram entrar na Segunda Guerra, ao lado do Reino Unido e contra os nazistas. Antes de iniciar os ataques, a pedido dos britânicos, os norte-americanos embalaram cuidadosamente a Magna Carta e a levaram, com a Declaração de Independência e a Constituição dos EUA, à base militar de Fort Knox, no Estado de Kentucky, onde ficariam mais bem protegidas. De lá, o documento só voltaria ao Reino Unido após a derrota nazista e o fim do conflito.
"A Carta deixa de ser uma peça de museu e se transforma em um documento vivo, ainda muito influente, a partir do momento em que a consideramos como símbolo de uma liberdade ameaçada e de um conjunto de valores que acreditamos que deve ser mantido", diz à Folha, por telefone, o magistrado britânico Igor Judge.
"O gesto de britânicos e de norte-americanos de defenderem esses papéis durante a Segunda Guerra, diante da ameaça do totalitarismo nazista, mostra que nossa liberdade não pode ser considerada como algo gratuito e eterno se não tivermos claro no que ela está baseada", frisa Judge, que foi chefe do Judiciário da Inglaterra e do País de Gales entre 2008 e 2013.
Nesta segunda (15), a rainha Elizabeth 2ª encabeçará a comemoração do aniversário de 800 anos da Magna Carta, em Runnymede, um prado à beira do Tâmisa, nos arredores de Londres, onde o texto foi selado por seu distante antecessor no trono, o rei John (1166-1216).
Mais novo entre os cinco filhos de Henrique 2º, John entrou para a história com a fama de ter sido o pior e mais tirânico monarca da Inglaterra. São abundantes os relatos de prisões arbitrárias, confisco de propriedades, abusos sexuais e assassinatos. Foi, além disso, um fracasso militar, que perdeu importantes territórios (Anjou, Aquitânia e Normandia) e não conseguiu evitar que o país mergulhasse numa guerra civil.
Preocupados com o clima de instabilidade e, principalmente, com os impostos altos e desregrados que John lhes impunha para financiar guerras e seu estilo de vida luxuoso, os barões do reino, nobres proprietários de terra, resolveram enfrentá-lo.
Acuado, o soberano aceitou comprometer-se com uma "carta de liberdades" --recurso que já existia na Europa para estabelecer os deveres e direitos de reis e proprietários de terra, principalmente quanto à cobrança de tributos e às regras de herança de patrimônio.
TERRA "O que diferencia a Magna Carta das que vieram antes é o fato de ela colocar a lei acima de tudo. Até então, os reis deviam prestar contas apenas no céu, depois que morressem, e o que haviam prometido aos súditos não era honrado por ninguém. Após a Magna Carta, estabeleceu-se a ideia de que o rei presta contas na terra e, se não se comporta de acordo com seu juramento, pode perder o cargo", explica Judge.
A cláusula 61 da Magna Carta, a principal novidade em relação aos documentos anteriores, estabelecia que, se o rei agisse de forma arbitrária e desrespeitasse o texto, um conselho de 25 barões o notificaria e estaria autorizado a rebelar-se contra o monarca, podendo até mesmo assumir o controle do reino temporariamente.
A Carta também previa que os "homens livres" não poderiam ser presos sem um "julgamento justo", e a Justiça não poderia tardar a ser aplicada. Estipulava, ainda, que as penas deveriam ser correspondentes à gravidade dos crimes.
É importante ressaltar que eram considerados "homens livres" apenas aqueles que recebiam terras do rei para cultivá-las, devendo pagar impostos, prestar serviços e auxiliar nas guerras. Correspondiam a menos de 20% da população. O restante, em sua maioria, era composto por camponeses vinculados às terras em que trabalhavam.
"É preciso reforçar que a Magna Carta tratava dos interesses daqueles que possuíam terras. Sobre esses camponeses, o documento não diz nada. Sim, eles tinham acesso à Justiça, mas apenas à Justiça local, proporcionada por seus senhores", ressalta o medievalista Stephen Church, da universidade de East Anglia.
Inicialmente, a Carta não teve efeito e nem sequer foi útil para manter a paz. O rei John imediatamente buscou apoio do papa Inocêncio 3º, que a declarou nula por ser "ilegal, injusta, prejudicial aos direitos reais e vergonhosa para os ingleses". Os barões, então, incitaram o príncipe Luís, filho do rei da França, a invadir a Inglaterra --e a guerra se instalou.
Porém algo de substancial havia mudado para sempre na relação de um monarca com seus súditos.
Em 18 de outubro de 1216, John morreu de disenteria. Henrique 3º, seu filho, que assumira aos 9 anos de idade, sem outras opções para garantir a paz, revisou e reeditou a Magna Carta durante seu reinado.
O documento recebeu alterações em 1216 e 1217, ainda durante a minoridade do novo monarca. Mas foi a versão lançada em 1225 aquela que se tornaria, por fim, célebre internacionalmente. Henrique 3º deixou claro que o texto fora, daquela vez, concebido e firmado sem coerções e que era entregue após o pagamento consensual de imposto por parte de todos os "homens livres" de então.
"Foi no século 17 que a Carta ganhou grande relevância. O Parlamento fez uso dela para conter o rei e venceu. Se o rei tivesse vencido, a história desse documento medieval poderia ser outra. Com a vitória do Parlamento, a Magna Carta passou a ser vista como uma pedra fundacional do mito da continuidade da liberdade inglesa", explica o historiador Modesto Florenzano, da Universidade de São Paulo.
O documento, de fato, foi amplamente citado na tentativa de deter as ambições do rei Carlos 1º (1600-49), que desejava ampliar os poderes monárquicos com base no conceito de "direito divino". Parlamentares e magistrados, como o juiz Edward Coke (1552-1634), usaram a Carta para tentar subjugar o rei à lei. A Inglaterra logo entraria numa guerra civil, que terminaria com a execução de Carlos 1º, em 1649.
EXAGEROS Desde então, a Magna Carta serviu de inspiração e referência em diferentes processos de mudança política e contenção da tirania, como a Revolução Francesa (1789) e a Independência norte-americana (1775-83). Ela passaria a representar uma espécie de constituição ancestral e fundamento original da ideia de igualdade de todos perante a lei, da garantia das liberdades civis, do atual sistema judiciário britânico e até mesmo da própria democracia. Aqui, é prudente evitar alguns exageros.
Historiadores britânicos fazem ressalvas quanto ao que chamam de "totemização" do documento e às interpretações que consideram anacrônicas. "A Magna Carta não inaugurou a democracia. Não criou o julgamento feito por um júri, nem a presunção de inocência, nem o habeas corpus [garantia individual para quem sofrer ou estiver ameaçado de sofrer restrição à sua liberdade de locomoção], nem as liberdades individuais, nem muitas outras coisas que são associadas a ela por pessoas que jamais leram de fato o documento", diz Nicholas Vincent, autor de "Magna Carta - Origins and Legacy" [The Bodleian Library, 160 págs., 20 libras na Amazon.co.uk].
"Ainda assim", frisa Vincent, "ela realmente merece ser celebrada, por ter estabelecido, pela primeira vez, o princípio de que ninguém está acima da lei, nem mesmo o rei. Estabelece que todos os acusados de terem agido mal devem ser julgados de maneira apropriada de acordo com a lei, a ideia de que a Justiça deve atuar de forma livre e, ainda, que a gravidade da punição deve refletir a gravidade do crime".
Vincent lembra que a revolta dos barões teve motivações essencialmente financeiras. "O dinheiro foi o principal motor. Era um momento de inflação severa, durante o qual os barões vinham enriquecendo e tornando-se mais autoconfiantes, os pobres continuavam sendo oprimidos, e o rei vinha declinando como autoridade econômica. As cláusulas financeiras da Carta são dedicadas a beneficiar a pequena elite econômica do país. Havia uma preocupação enorme quanto a regulamentar as heranças, pois era muito comum que o rei expropriasse terras e propriedades de um nobre, depois que este morria. Os camponeses, mais de 80% da população, não têm absolutamente nenhuma menção na Carta."
Judge explica como um documento voltado a proteger interesses financeiros de uma elite veio a se transformar num símbolo da liberdade. "A Carta menciona a ideia de 'direitos', ainda que se referindo apenas a um pequeno grupo. Havia poucos 'direitos' então. Porém, a Carta criou uma estrutura, naquele momento longínquo de nossa história, à qual, conforme esses direitos fossem surgindo, podiam ser incorporados."
Para o magistrado, a novidade foi ter começado a estabelecer, aos poucos, o raciocínio: "Se pago impostos, posso fazer parte das decisões". "Isso evoluiu com a história. Aos poucos, mais e mais aspectos foram parecendo incongruentes: 'Se pago imposto, por que não voto?', 'por que existe servidão?', 'por que uma mulher não tem os mesmos direitos que um homem?', 'um imigrante tem direitos?' E assim por diante."
"Foram preocupações surgidas depois, em seus determinados contextos, mas que encontraram na Carta uma base que permitia essas reflexões. Essa é a diferença crucial da Magna Carta com relação a juramentos ou Cartas que existiram antes", conclui Judge.
viúva Interpretações contemporâneas, de fato, veem na carta prelúdios do feminismo. Uma de suas cláusulas diz: "Uma mulher deve receber sua herança, após a morte do marido, sem dificuldades". Isso porque era comum, na época, que o rei confiscasse os bens do morto e entregasse apenas uma parcela à viúva. Mas a Carta avança um pouco mais: "Nenhuma viúva deve ser forçada a casar se ela preferir viver sem um marido".
De todas as 63 cláusulas do documento, apenas três estão ainda em uso tal qual foram formuladas. Uma é a que garante liberdades e direitos da Igreja da Inglaterra. A outra confirma as liberdades da cidade de Londres, mas a mais famosa é a número 39:
"Nenhum homem livre será perseguido ou aprisionado, ou será privado de seus direitos e posses, ou posto fora da lei ou exilado, nem usaremos de força contra ele, sem o devido julgamento de seus iguais ou pela lei da terra."
Para Judge, "não é correto dizer que esse artigo introduziu a noção de habeas corpus ou de julgamento por um júri, ideia que se popularizou no século 17, mas é vital para entender a transformação da relação do rei com seus súditos".
"É preciso reforçar que o essencial da Magna Carta é a ideia de que a lei está acima de tudo, e o direito de qualquer cidadão sem poder de criticar ou mesmo mover uma ação de 'impeachment' contra seus líderes políticos ainda é de grande importância, e viajou para a América, de norte a sul", frisa Vincent. "Usada como totem ou ícone, a Magna Carta ainda é relacionada à ideia de liberdade e de direito à Justiça, mesmo que a linha que conecta essa interpretação aos fatos de 1215 seja tênue."
estudos O oitavo centenário da Magna Carta está sendo marcado, entre outras comemorações, pelo lançamento de alguns estudos que projetam nova luz sobre os acontecimentos de 1215.
Um deles é "King John and the Road to Magna Carta" [Basic Books, R$ 63,54, em e-book na Amazon.com.br], do historiador Stephen Church. Em conversa com a Folha, ele diz que o rei John, imortalizado por Shakespeare numa peça de mesmo nome, foi demonizado pela historiografia.
"Não digo que não tenha sido um tirano, mas o que se escreveu sobre ele esteve marcado pelo sentimento da época. Tento entendê-lo em seu contexto, que é o de um mundo bastante selvagem, em que as relações eram atravessadas pela violência e a autoridade se exercia com brutalidade."
O recente sucesso da série televisiva "Game of Thrones" faz pensar num paralelo entre o rei John e o abusivo rei Joffrey, da atração de aura medieval baseada nos livros de George R. R. Martin. "Meu filho sempre me diz que eu deveria ter escrito 'Game of Thrones', em vez de um livro chato de história sobre o rei John", comenta Church.
"Em ambos os casos, eles cometeram excessos e provocaram rebeliões", diz. O paralelo, porém, se encerra aqui. "Reis na Idade Média não eram como os de 'Game of Thrones' porque a série é uma paródia da Idade Média, desenhada para entreter uma audiência moderna que tem algumas ideias de como a Idade Média pode ter sido."
Ainda para celebrar a data, a artista britânica Cornelia Parker recrutou um time composto de nomes famosos e presidiários para bordar uma versão do verbete "Magna Carta", da Wikipedia, numa peça de 13 metros de comprimento, encomendada pela British Library para as comemorações.
Além de convocar especialistas dessa arte manual, como membros da Embroiderer's Guild, Parker convidou Julian Assange, dos WikiLeaks, Edward Snowden, ex-agente que revelou instrumentos de espionagem do governo norte-americano, e o cantor Jarvis Cocker para bordarem palavras. O ex-editor-chefe do jornal "The Guardian", Alan Rusbridger, literalmente deu um pouco de seu sangue ao trabalho: ao bordar um tópico, furou o dedo, e os respingos ficaram visíveis na obra final.
A British Library também montou uma exposição, em cartaz até setembro, de documentos e objetos de época que celebram a Magna Carta. Atualmente, sobrevivem quatro cópias do documento --não existe uma original; uma vez que eram produzidos exemplares suficientes para que a lei fosse distribuída pelo reino, estima-se que tenham sido confeccionadas, em 1215, cerca de 40 cópias. "Aqui na British Library temos duas. Uma foi danificada por um incêndio, em 1731, e a outra encontrada no século 18, numa alfaiataria", conta o curador Julian Harrison.
As comemorações se encerram em 31 de julho, quando um julgamento será encenado por magistrados de toda a Commonwealth, liderados por lorde Neuberger, presidente da Suprema Corte britânica. No evento, serão reunidos argumentos de acusação e defesa para decidir se os barões estavam agindo de acordo com a lei ao se rebelarem contra o rei John. O espetáculo, gratuito, durará duas horas e ocorrerá em Westminster.
"Será mais do que um show temático sobre o episódio. Os magistrados examinarão questões atemporais de importância legal e constitucional: o rei está acima das leis? Existe defesa para quebrar um pacto como o que os barões tinham com o rei?", diz Robert Worcester, chefe do comitê de organização dos festejos de 800 anos do documento.

Caso Zapata, Espanha: postagem Natacha Rena facebook

ZAPATA e o primeiro ato explicitamente perverso contra os ativistas no poder na Espanha! Um recado: seja ativista, mas politicamente correto e não fuja às regras neoliberais da transparência e do controle! Assim, retroativamente, com este caso exemplar, dão um recado aos movimentos multitudinários em todo o mundo: não se espelhem na Espanha e no 15M porque os comunistas ‪#‎NãoPassarão‬. Controle biopolítico requintado e de longo alcance.
"Guillermo Zapata no es racista, tampoco antisemita, ni negador del Holocausto, sino todo lo contrario. De hecho, siempre ha condenado las políticas xenófobas, como las de “caza al mendigo” y “encarcelamiento del inmigrante” por indocumentado, implementadas precisamente por aquellos que desde el PP lo acusan de lo que no es. Y no, obstante, a causa de una conversación por Twitter sobre los límites del humor, que tuvo lugar hace cuatro años, y en la que reproducía a manera ilustrativa ejemplos extremos de humor negro y cruel, ha sido linchado mediáticamente viéndose obligado a dimitir de su cargo de Concejal de Cultura del ayuntamiento que gobierna Ahora Madrid.
Cierto que a estos tweets denunciados se han sumado los sarcasmos que tiempo atrás empleaba para criticar la instrumentalización de las víctimas del terrorismo por parte del PP, y uno más a propósito de una de esas víctimas, Irene Villa, que manifiestamente ha apoyado las políticas de la derecha en esta materia.
Ahora bien, más allá de lo particular, de las descontextualizaciones y del mal gusto de los chistes, el caso ilustra un problema político de máxima envergadura y que tiene que ver con el disciplinamiento neoliberal en la Sociedad de la Transparencia.
Neoliberalismo, capital humano y agencias calificadas.
Cualquiera que sea su forma, austríaca o británica, de la Escuela de Chicago o de Friburgo, el neoliberalismo establece como imperativo tanto la flexibilidad como la plasticidad del sujeto. En tanto que empresario-de-sí medido como capital humano, inversor en sí mismo y en busca de constantes inversores, al sujeto se le exige:
1) una continua reinvención de sí mismo en vistas a maximizar su adaptabilidad a contextos cambiantes;
2) una diversificación dinámica de sí mismo mediante el diseño y la gestión de su portfolio, de su capital y carpeta de productos, en vistas a lograr una mayor tasa de “empleabilidad” y “banqueabilidad” (accesibilidad al crédito y capacidad de atracción de inversores).
Las redes sociales forman parte de las tecnologías de producción, gestión y diseño del portfolio, monitorizable por el propio usuario, para medir su desempeño, en términos de likes y tweets, visualizaciones de sus páginas y número de fans, followers y amistades, todo ello ranquinizado con índices de impacto y estadísticas que cualifican la información en bruto. La auto-estima o auto-apreciación es lo que está en juego. La cuestión es manejar tu stock como un capital bursátil, lograr que no pierda valor y a poder ser incrementarlo con las inversiones correctas. No se trata solo de Facebook o de Twitter, sino también de redes sociales sectoriales que funcionan de manera análoga: Tinder para la autogestión en red del capital erótico-amoroso, Academia.edu para el capital del investigador, LinkedIn para “gestionar tu identidad profesional”, etc.
Todo ello forma parte de las transformaciones de la gubernamentalidad neoliberal que han acompañado al auge del capitalismo financiero y la economía digital en las últimas décadas, inscritas por tanto en la financiarización y ranquinización de la vida cotidiana.
Del capitalismo financiero a la vida cotidiana.
Las redes sociales son ambivalentes. Han contribuido a dar luz y animar los procesos de revolución democrática, pero son también una vasta tecnología de control que mediante la transparencia extractiva y almacenable por el Big Data engorda la información disponible de cada cual, de su práctica cotidiana, a lo largo de su timeline.
Se almacenan las amistades y contactos, las operaciones comerciales, cada acto de consumo, la participación en eventos, las opiniones de todo tipo, lo hobbies, los gustos musicales, sexuales, políticos. La vida, cualquier vida, deviene transparente, objeto del marketing, continuamente auditable y evaluable según su desempeño actual y previsiones futuras.
Michel Feher habla de “rated agencies” para definir la condición neoliberal. El neoliberalismo impone una existencia donde cada cual está sujeto cada vez en más dominios a las agencias de evaluación y calificación, similares a las rating agencies del capitalismo financiero. Tinder es la Standard & Poor’s de las finanzas del amor y del sexo; Thompson & Reuters, el Moody’s del capital académico. Facebook y Twitter funcionan como extensiones de los departamentos de Recursos Humanos.
Disciplina y formalización.
El caso de Guillermo Zapata ilustra el ejercicio político de la disciplina en la sociedad de la transparencia. Serán premiados quienes tengan su historial limpio. Un higienismo extremadamente perverso pues, como demuestra el caso mencionado, impone una autocensura tenaz: no importa que uno sea anti-racista, la cuestión es no verter en la red nada que pueda ser descontextualizado.
Antes de internet, el miedo del político —o cualquier otra persona pública— consistía en utilizar las palabras exactas en una entrevista o ante las cámaras, de forma que los medios opositores no pudiesen descontextualizarlas. El efecto sobre el discurso fue notorio. Cada vez se convirtió más en un montón de frases hechas, una ridícula formalización o estandarización que, paradójicamente, intentando defenderse cada político de la descontextualización, contribuyó al descrédito de los políticos en su conjunto. Hablaban como lo hacía un jugador de fútbol, con un lenguaje extremadamente artificial, vacío y previsible.
El efecto de esta hiperformalización del discurso y su relación con la pérdida de legitimidad ha sido estudiada por Alexei Yurchak y Dominic Boyer para el caso del discurso poststalinista en países del “socialismo real”, quienes enfatizan además lo útil que resultaba el humor en esta situación como herramienta de combate. Su tesis es que la caída del “socialismo real” soviético y alemán tuvo bastante que ver con esta hiperformalización. En otro lugar he analizado esta cuestión en relación al 15M, donde el humor jugó un papel no menos decisivo.
Transparencia y disciplina.
A menudo han sido cuestionadas distintas formas de disciplinamiento implícitas en las políticas neoliberales: disciplina mediante la deuda privada, que hará que el trabajador tema perder su puesto y no poder pagar sus mensualidades; disciplina del desempleado, que aceptará someterse al control y a la formación continua para no quedar fuera de la carrera por la “empleabilidad”. Pero ésta va más allá para llegar hasta un auto-disciplinamiento moral relativo a la exposición exigida para cada cual en su cotidianidad vertida en las redes.
Dado que el timeline registrado se remonta al primer uso de internet, el político que no quiera arriesgarse a desvalorizar su capital debe censurarse desde el comienzo, incluso mucho antes de poder imaginar llegar a su cargo. Será premiado quien desde su más temprana juventud, en su continua reinvención de sí mismo y exposición minimice a lo largo de su vida la posibilidad de entrar en contradicción consigo mismo, quien minimice los cambios de opinión, quien no se preste a excentricidades, quien no emita opiniones arriesgadas. En verdad, lo dicho para el político o cualquier otra persona pública, será igualmente válido para el resto: el banquero tendrá el registro de la vida cotidiana del cliente que pida un préstamo; el empleador de quienes buscan empleo y quienes tiene ya a su cargo.
El ideal neoliberal de un sujeto emprendedor, creativo, que rompe con lo establecido, que se enfrenta a la convenciones y acepta el riesgo de crear lo nuevo aunque desconcierte e incomode, choca con el disciplinamiento moral y la autocensura asumida al responder a la exigencia de prestarse a una continua exposición, evaluación y calificación de sus actos, palabras e imagen. Lo que el caso comentado ilustra es precisamente esta aporía, así como la dimensión distópica de la utopía de la transparencia y del sujeto neoliberal."
‪#‎TecnopolíticasNeoliberais‬
Repuesta de Guillermo Zapata ante la polémica:http://guillezapata.tumblr.com/…/sobre-polemicas-y-contextos

sábado, 6 de junho de 2015

Dez pontos-chave da inovação de #Manuelamania

link uninomade

Por Bernardo Gutiérrez, no Yorokobu | Trad. UniNômade
Dez pontos sobre a campanha meteórica de Manuela Carmena, provável vencedora das eleições municipais no domingo na capital da Espanha, pelo Ahora Madrid, plataforma municipalista inspirada pelo Barcelona en comú e outras experiências organizativas inovadoras pós-15M.
A #ManuelaManía conquistou as redes sociais. Manuela Carmena, candidata da frente cidadã #AhoraMadrid às eleições municipais de Madri, passou de desconhecida a ícone pop. A onda de criatividade — pôsteres, ilustrações, vídeos, música — deram muito o que falar nas mídias. Mas a explosão deste manuelismo em rede tem muitas camadas, detalhes tecnológicos e estratégias inovadoras que vão mais além da criação artística.
Há duas décadas, trabalho com tecnologia, internet e redes. E confesso que não tinha visto uma campanha tão surpreendente em nenhuma eleição. O #YesWeCan que catapultou Barack Obama em 2008 foi um primeiro case de estudo de mobilização e política do tipo do it yourself (DIY), que incentiva a auto-organização dos militantes. A onda verde do candidato ecologista Antanas Mockus, que quase o levou à presidência da Colômbia em 2010, superou em efervescência o #YesWeCan.
Apesar disso, nenhum dos dois casos chega sequer perto do fenômeno explosivo de Manuela Carmena, impulsionado em parte pelas campanhas independentes da cidadania, como oMovimento de Libertação Gráfica de Madri ou Madri com Manuela. Neste artigo, analiso em dez pontos as inovações formais, tecnológicas, narrativas e estratégicas do ecossistema de campanhas de Ahora Madrid:
1. Isto não é um partido. O formato “confluência” passará à história como uma das primeiras formas pós-partido. Desde o surgimento de EnRed em Madri, até a consolidação de Ahora Madridtodo um processo.aconteceu. Do EnRed passamos ao Municipalia. Deste, na sequência do Guanyem Barcelona [atual Barcelona en Comù],  ao Gañemos. A negociação desta iniciativa cidadã com diferentes partidos tinha um ponto inegociável: o resultado final não poderia ser, simplesmente, um partido político. Tampouco uma simples frente ou coalizão política. O sistema de escolha dos candidatos deveria passar pelas primárias. O formato “confluência” de Ahora Madrid, uma fórmula que soma e multiplica sem descanso, agrega e não compete com aliados, é uma novidade no panorama político mundial.
2. Programa participativo. O programa de Ahora Madrid foi cultivado em rede de maneira colaborativa, apelando à inteligência coletiva de que fala o filósofo francês Pierre Levy. Diretamente inspirado na ferramenta Propongo, que por sua vez inspirou ferramentas de wikigoverno na Islândia, a plataforma programa.ahoramadrid.org tem um formato “agregador”. Qualquer pessoa pode enviar propostas durante meses à dita plataforma. As propostas, que são votadas pelos usuários, se dividem entre Mais VotadasMais Consenso e Mais Debatidas. A plataforma está baseada em software livre e aproveitou o código fonte de Gañemos Zaragoza.
3. Autofinanciamento. Ahora Madrid renunciou a financiar-se com empréstimos bancários. Por isso, colocaram em marcha uma campanha de microcréditos e doações de particulares, funcionando com a hashtag #FinanciaMadrid na plataforma financia.ahoramadrid.org. A iniciativa abre um caminho quase inédito na Espanha entre as formações políticas.
4. Do boca à boca ao peer-to-peerA filosofia de Ahora Madrid, com uma carência estimada de 150.000 euros, 100 vez menos do que o financiamento dos outros partidos, tem em seu DNA formador a filosofia DIY, o tão falado “faça você mesmo”. Aliás, se aposta agora no mais contemporâneo “faça isso com os outros” (DIWO). Você é a campanha tem sido o lema/método. A filosofia do boca à boca mais clássico, que se encaixa totalmente com o denominado peer-to-peer, se disseminou por redes e territórios. De par a par, de boca à orelha, de bicicleta à bicicleta. A plataforma independente Madrid com Manuela, uma das responsáveis pelo transbordamento criativo e subjetivo, lançou várias iniciativas para convencer de maneira pessoal a amigos e familiares. A primeira foi: “1 = 10“, para que cada um traga para a causa dez amigos ou familiares. A segunda apela para que se contasse sobre a campanha aos outros, à mãe, pai, amigos… como uma estratégia.
5. Auto-organização. A auto-organização de diferentes coletivos, redes, movimentos cidadãos ou fluxos espontâneos foi a tônica da reta final da campanha. O surgimento do Movimento de Libertação Gráfica de Madri e da plataforma Madrid con Manuela, articulados de forma independente a partir da sociedade civil, trouxe outra chave: a campanha de Ahora Madrid é um ecossistema, uma malha em que a mensagem não está centralizada pelas contas das plataformas oficiais. Os “processos emergentes” de que falava Steve Johnson, ou os “arranjos humanos” formulados por Kevin Kelly, em seu clássico Out of control, floresceram na reta final da campanha de Ahora Madrid, de maneira surpreendente.
6. Candidata apropriável. Atreva-se a ser Manuela. Be Manuela, be a hero, #SomosManuela. As redes e as diferentes camadas das campanhas transformaram a candidata Manuela Carmena numa coisa apropriável por muitos. Tom Himpe, em La publicidad de vanguardia (bíblia do novo marketing), destacava o “seja possível” como uma das tendências do novo século. Por outro lado, a identidade coletiva das teorias e práticas da multidão e da era da rede estão muito presentes na #ManuelaMania. As campanhas oficiais de Ahora Madrid jogaram à perfeição com isso. A plataforma AhoraManuela.org, que usava o Ahora Tú, apostou em criar uma candidata apropriável.
No vídeo Alcaldes Vosotros, em que cidadãos se colocavam máscaras de Manuela Carmena, também era apontada a identidade coletiva. As máscaras e caretas de Manuela Carmena distribuídas pela plataforma Madrid con Manuela e a hashtag #SomosManuela (que foi tendência na Espanha durante oito horas e em vários países do mundo) também foi nessa direção. Especialmente disruptiva foi a comunidade de Facebook Dou minha cara a tapa por Manuela, que incentivava a troca de fotografias dos perfis pessoais por ilustrações ou fotos de Manuela Carmena.
7. Transmídia. Já correu muita água por debaixo da ponte desde que Henry Jenkins publicou o livro Convergencia Cultural. Em 2006, o storytelling transmedia (algo assim como uma narrativa multiplataformas) começava o seu trajeto do cinema aos videogames, televisão e blogues. Apesar disso, com a massificação das redes sociais, os smartphones e os territórios híbridos (internet e espaço físico), a transmídia ganhou novas dimensões. A #ManuelaMania usou técnicas sofisticadíssimas de transmídia e multicamadas (um termo bastante em voga).
A partir do Twitter, se incentivava a participar em grupos de Facebook; do Facebook, por sua vez, se buscava a transversalidade entre as plataformas; desde WhatsApp ou Telegram se tinham viralizado conteúdos em grupos, do Youtube se deu um salto à televisão, do Soundcloud(algumas canções compostas exclusivamente para a campanha) Manuela Carmena chegou às emissoras de rádio… Do Instagram se conecta a outro perfil de usuário, mais jovem e com outras plataformas. O perfil que alguém abriu em Tinder, de uma Manuela Carmena de 21 anos que envia um mensagem convidando a votar, é uma das iniciativas mais surpreendentes: “Não sou Manuela Carmena mas estou aqui para conhecer gente. Somente queria contar a você que no domingo podemos começar a mudar muitas coisas em Madri.”
A remistura, outra das característica da convergência cultural segundo Henry Jenkins, tem sido um dos métodos mais explorados: Chuck Norris cansado do debate em Telemadrid, “A liberdade guiando o povo” de Delacroix em versão castiça, as capas dos discos dos Sex Pistols com Manuela, cartazes de filmes famosos… Nem os personagens de Star Wars se livraram das remisturas manuelistas… Remistura e culture jamming em estado puro.
8. Territórios. O caminho ao MundoReal (TM), segundo um já mítico artigo de @Ciudadano_Zero, é árduo. Pensar que uma viralização nas redes digitais é suficiente para ganhar uma campanha é uma miragem. “Se chegar somente até aqui, não está conseguindo uma verdadeira viralidade, senão simplesmente endogamia”, afirma @Ciudadano_zero. O componente territorial de Ahora Madrid é um de seus grandes acertos. Por um lado, o ecossistema de nós de Ganhemos herdou um tecido social do 15-M nos bairros.
Antes do início da campanha, Ahora Madrid estava realizando encontros nos bairros. E em todas as campanhas lançadas, o território tem sido uma plataforma central. #ProyectoresConManuela projeta imagens da candidata de Ahora Madrid. Madrid  con Manuela organiza sprints para colar cartazes e procissões com criações gráficas, e incentiva pessoas que falem com seus vizinhos no MundoReal (TM). Existe, inclusive, um mapa no GoogleMaps chamado Manuela y tú, em que se mapeiam ações pró-Manuela.
9. Ruptura simbólica. A irrupção da criatividade na campanha cidadã em apoio à Ahora Madridativou algo chave em qualquer campanha: a emotividade. A cor e o aroma do Hino à Manuela Carmena, minha prefeita, “uma adaptação rumotrônica-easylisteningliungelizard do hit de Julius Church”, desmonta qualquer narrativa antagonista contra a candidata. A canção Manuela, de Belén Coca, uma remistura do clássico de Julio Iglesias, também desorganiza a campanha dos partidos clássicos, em que o ataque e a projeção do negativo sobre o rival é habitual.
A disrupção simbólica das toneladas de criações gráficas geradas ao redor de Manuela Carmena tem um calculado intento de dar a volta no estado anímico da Espanha da crise. Manda o otimismo, o entusiasmo, o coletivo, o desejo de mudança. O evento Festão pela democracia em Madrid, que se abebera transversalmente do “se não posso dançar não é a minha revolução” de Emma Goldman, supõe um chega-pra-lá na política clássica.
Convocado para o domingo, 24, às 22 horas, convida a dançar em cada praça, a dançar por Manuela: “O rumor já manda sinais. A nossa vingança será sermos felizes. No próximo #24M começa a mudança. Dança na sua praça. Dança por Manuela. Venha com amigos. Leve confete. E purpurina. Um ingrediente básico: entusiasmo. O Festão durará quatro anos (e os que virão).”
10. O meme não é a mensagem. Jason Rowan, autor do livro Memes, inteligência idiota, política rara e folclore digital, é uma entrevista recente, fala da importância dos memes na atual campanha: “A memesfera cria um rumor constante ao redor dos debates, personagens ou eventos que acontecem na política formal.” Joss Hand, em seu artigo O meme não é a mensagem, alerta sobre a insuficiência dos memes virais para a consecução de objetivos sociais ou políticos. O meme cumpre a sua função catártica e disruptiva, mas, em palavras de Joss Hand, “são necessários movimentos alternativos que possam comprometer-se com uma contraofensiva em longo prazo, para influenciar a opinião pública.”
As campanhas da #ManuelaMania desenharam uma dupla camada de memes e mensagens em longo prazo extremamente efetiva. Julio Iglesias projetado numa parede pedindo o voto a Manuela (que era o título de uma canção sua) é um meme que rompe o dissenso contra Ahora Madrid e torna visível a nova camada de significados, propostas e expectativas, escondidas pelo telão dos grandes meios de massas.

ADA, PREFEITA DE BARCELONA: "A LUTA É GLOBAL"

ADA, PREFEITA DE BARCELONA: "A LUTA É GLOBAL"
(a partir de 11:30 na entrevista ao DemocracyNow)
"Existe uma continuidade de lutas nos últimos 15 anos. Desde o final dos anos 1990 e começo de 2000, um longo ciclo de protestos começou e ele continua até os dias de hoje: o movimento antiglobalização, o movimento internacional contra a guerra, o movimento dos indignados, várias lutas por moradia, por paz. Todas essas mobilizações que aconteceram não apenas aqui, mas numa escala global, têm muitas coisas em comum. Primeiro, a dimensão global: a percepção que os nossos problemas políticos e econômicos têm uma dimensão global, de maneira que precisamos trabalhar juntos em rede. Somos uma única realidade econômica global e é essencial trabalhar em alianças. Segundo, a necessidade de democracia real, a percepção que, ainda que antes tivéssemos instituições democráticas, compartilhamos a sensação que as decisões não são tomadas pelo parlamento, mas pela direção das empresas e instituições internacionais, como o FMI ou o Banco Mundial, que são profundamente antidemocráticas, que as pessoas não controlam, e que decidem contra a própria cidadania, gerando miséria pelo mundo. A percepção que a democracia foi sequestrada provocou muitos levantes, muitas mobilizações de base, "desde baixo", em busca de representação direta. A democracia formal não é suficiente, não nos representa, e portanto precisamos encontrar novas formas de participação política em que cada um seja ator, em que cada pessoa possa contribuir diretamente. Todas essas mobilizações nos últimos 15 anos, que cada vez mais usam as tecnologias, a internet e as redes sociais, perseguindo formas inovadoras e diretas de comunicação, em certa medida, atualizaram a democracia, atualizaram as formas de participação política. Essas mobilizações têm muitas expressões distintas em diferentes movimentos pelo mundo, mas claramente existe um excesso que une todas elas."
(via Javier Toret Medina) In BH em Comum