quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Comunidade Vila Autódromo: Proposta da Prefeitura para Vila Autódromo ainda é de Remoção Total
Comunidade Vila Autódromo: Proposta da Prefeitura para Vila Autódromo ainda é de Remoção Total
A proposta apresentada pela Prefeitura para a Vila Autódromo não garante a permanência, ao contrário do que o Prefeito afirmou em reunião com moradores. A prefeitura resiste em afirmar publicamente que a comunidade será urbanizada, e a proposta apresentada é tecnicamente inviável.
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
É preciso entender as redes e as ruas por Laymert Garcia dos Santos
20/10/2013 6:56 pm
É preciso entender as redes e as ruas
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Confira trechos da entrevista com Laymert Garcia dos Santos, professor de Sociologia da Unicamp, na edição 127 de Fórum. Para ele, o conflito de classes, em escala global, começa a acontecer no meio digital
Por Glauco Faria e Igor Carvalho
“O caso Snowden é o último elo de uma cadeia que vem vindo de várias outras que já entenderam o enorme potencial das redes, de politizar as questões simplesmente pela circulação dos fluxos de informação. Por quê? Porque se o Estado e o mercado podem saber tudo sobre a população, explorando isso do ponto de vista do controle, por outro lado os movimentos também podem.” A ponderação é de Laymert Garcia dos Santos, doutor em Ciências da Informação pela Universidade de Paris VII e professor titular do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, e remete à importância de se debater o funcionamento das redes e sua relação com as ruas, algo que veio à tona com as manifestações de junho no Brasil.
Para Laymert, o advento do Wikileaks fez com que se prestasse mais atenção sobre quais informações as elites gostariam que não fossem reveladas. “O conflito de classes, em escala global, começa a acontecer nas redes, porque existe uma política de controle e hierarquização da informação nas redes, e, do outro lado, há gente trabalhando para a desobstrução dos canais”, afirma. “E isso é democracia, porque se você começa a fazer todo o fluxo de informação passar, as pessoas ficam sabendo o que os de cima não querem que elas saibam.” Confira abaixo trechos da entrevista, que está na edição 127 de Fórum.
Fórum – Dentro dessa sua ideia de entender o digital como o futuro e remetendo um pouco às manifestações. Nós tínhamos esse setor do Gil, com o Juca Ferreira, no governo Lula, que tinha esse entendimento muito claro do papel da tecnologia aliada à cultura. Mas as manifestações também não mostraram para certos setores que estão analógicos demais? Ou seja, nossos partidos de esquerda, muitos sindicatos e movimentos sociais não tratam desse tema ainda.
Laymert – Concordo plenamente com a análise que você faz, tem uma questão que para mim é complicada, a incapacidade que governos do PT tiveram em lidar com a questão da mídia. De certo modo, ela permaneceu intocada, até quando houve momentos em que alguma coisa de mais forte poderia ter sido feito, quando a Globo fez uma aposta errada no mercado financeiro e entrou em uma situação de crise. Ali havia um flanco aberto, mas o governo Lula foi lá e bancou, sem colocar condições.
Isso continua até hoje. Em parte, isso se deve ao fato de a esquerda brasileira nunca ter feito a crítica de fundo da mídia. E nem da tecnologia. A posição de esquerda de partidos, sindicatos etc. é de que os meios são neutros e tudo depende de quem se apropria dessa técnica e, portanto, quando chegar o momento de a esquerda estar no poder, se faz uma inversão de signos. Isso é o máximo que a esquerda pensou sobre essa questão, e há muitos anos venho pensando e batalhando por um outro entendimento, porque não é possível você considerar a tecnologia como algo meramente instrumental, quando ela modifica completamente todos os tipos de relação. A tecnologia, sobretudo depois da virada cibernética, mudou a vida, o trabalho e a linguagem. Ou seja, mudaram as relações. Nessas condições, se você não fizer uma crítica de fundo, vai acabar fazendo aquilo que critica em seu adversário, vai fazer isso achando que colocou um conteúdo de esquerda, mas as práticas serão as mesmas. Assim, vai ser tão manipulatório e antidemocrático quanto antes e, de certo modo, desconhecendo o próprio potencial que a tecnologia traz.
Por exemplo, voltando um pouco, há uma questão que me espantou, que mostra como se pode ao mesmo tempo estar no jogo não sabendo que se está no jogo. Nas grandes manifestações, em junho, todo mundo se volta para o Estado para ver qual será a reação deste Estado. A Dilma vai para a televisão e faz uma proposta de uma Assembleia Constituinte específica para a reforma política. Ela deu uma resposta política que era absolutamente crucial, porque respondeu a uma demanda de poder dos movimentos nas ruas, com algo que ampliava a participação em poder, já não seria o Congresso o ator principal dessa operação. E foi interessantíssimo, bastante elucidativo, porque, ao fazer essa proposta, os conservadores e a classe política inteira se mobilizaram para boicotá-la, primeiro para transformá-la em um plebiscito para que nada acontecesse. Esses setores estão no seu papel, quem não está em seu papel são os manifestantes, que pediam mais poder e, quando você tem a autoridade máxima do Estado acenando e dizendo: “Vamos nessa?”, o outro lado não responde. Não houve manifestações para isso e nem um entendimento sobre o que significava esse gesto. Ouvi gente dizendo: “Ah, mas era um cálculo político”. Não importa. As ruas emitiram um sinal, e a Dilma emitiu um outro sinal em resposta num sentido de ampliação da democracia como nunca havia acontecido. Os setores da direita imediatamente souberam ler o que estava em jogo, e os manifestantes não souberam. Por quê? Despolitização? Não souberam avaliar? O que aconteceu? Isso me fez pensar que as reivindicações do movimento são restritas, de certa maneira têm um certo fôlego, que não é muito grande, e sendo atendidas algumas reivindicações, você consegue esvaziar. De qualquer maneira, se perdeu uma oportunidade naquele momento, havia uma abertura para uma potência, que não se concretizou.
Para mim, essa perda de oportunidade diz muito sobre a leitura de campos de forças e do entendimento sobre o que é este jogo de forças. Em relação às novas tecnologias, para o PT, para os sindicatos e movimentos sociais, ainda não caiu a ficha da sua importância e que isso pode ser trabalhado de uma outra lógica, colocando em xeque políticas de controle global. O caso Snowden é o último elo de uma cadeia que vem vindo de várias outras que já entenderam o enorme potencial das redes, de politizar as questões simplesmente pela circulação dos fluxos de informação. Por quê? Porque se o Estado e o mercado podem saber tudo sobre a população, explorando isso do ponto de vista do controle, por outro lado os movimentos também podem, e isso o Wikileaks começou a fazer, a prestar atenção sobre quais informações os super-ricos querem suprimir. O conflito de classes, em escala global, começa a acontecer nas redes, porque existe uma política de controle e hierarquização da informação nas redes, e, do outro lado, há gente trabalhando para a desobstrução dos canais. E isso é democracia, porque se você começa a fazer todo o fluxo de informação passar, as pessoas ficam sabendo o que os de cima não querem que elas saibam. É o que está acontecendo com o Snowden de novo. Isso a própria tecnologia permite como a lógica de funcionamento em rede auxilia na distribuição da informação. O que as pessoas não entendem de jeito nenhum é que a informação é a diferença que faz a diferença, e também é o valor do capitalismo contemporâneo.
Quando a informação se tornou valor, e isso começou na década de 1970, a questão se colocou: “Como ganhar dinheiro com a informação?”. Porque a informação não tinha preço. Foi reelaborada e inventada uma coisa que se chama direito de propriedade intelectual, que não é só uma extensão do direito autoral e do direito de invenção da propriedade industrial, é muito mais do que isso. É o que alguns especialistas chamam de “a última enclosure”, o último cercado que começou na Inglaterra com o começo do capitalismo, quando se cercou a terra. Agora vamos criar um que vai cercar essa unidade mínima que é a diferença que faz a diferença, para garantir a exploração desse valor como unidade mínima, e, ao mesmo tempo, com um alcance global. A lógica das redes, de seu funcionamento e aperfeiçoamento, é colaborativa, e, sendo colaborativa, ela escapa, é da sua própria lógica que as informações circulem. Se não circulam é porque começam a colocar gargalos para cercar e fazer a captura dentro do sistema que permite que isso vire uma propriedade. A esquerda ainda não entendeu o alcance que isso tem como luta política. Se pegarmos, por exemplo, esse sistema anglo-americano de espionagem, porque são americanos, mas os ingleses estão acoplados, como eles chamam as primeiras operações por meio desses sistemas? Vão dar os nomes das primeiras batalhas imperialistas, tanto dos EUA quanto da Inglaterra. Por quê? Porque começou, em outro plano, um outro tipo de imperialismo, e se você não estiver preparado para lutar neste outro plano, como vai perceber o que está em jogo? Existe uma guerra, hoje, no mundo digital, mas é real também porque a dimensão virtual da realidade é tão real quanto a física. Mas a ficha ainda não caiu que esse conflito está lá, e é claro que isso precisa ser entendido, se tornar uma questão política de ponta. Ainda não vi as pessoas se mobilizando para defender o marco regulatório da internet; inclusive, se a gente fizer isso, ou vier a fazer num futuro próximo, vamos ser modelo para outros países que estão com o mesmo problema. Mas precisamos fazer.
Não se faz democracia sem informação, e a maneira de fazer democracia atualmente é expondo, para os ricos, aquilo que eles fazem para o resto da população. Se eles podem fazer tudo e levantar tudo sobre a população, e estão o tempo inteiro se protegendo e protegendo essa informação, sobretudo para destruir aquilo que não deve ser conhecido, os caras que aparecem, de certa maneira, e levantam esse movimento, mostram como essa lógica de captura funciona, estão trabalhando para uma desobstrução de canais, algo absolutamente fundamental. Só pela desobstrução de canais e por uma luta entendendo o que é a propriedade intelectual e o que é fechar a informação para uma apropriação é que você vai poder lutar no futuro, porque não se pode mais voltar para trás. Quando se observa a geração de agora, de 20 anos, eles não conseguem nem lembrar, aliás, nem conseguem saber o que é o mundo sem internet. Nós também não. Algum de nós consegue viver sem internet? Claro que não.
Fórum – Esse campo, esse fluxo das redes, já se constituiu num campo de batalha para as grandes potências, para o grande capital também, mas muita gente, inclusive da esquerda, ainda não captou isso. A gente pode dizer hoje que as redes e as novas tecnologias são essa nova expressão da luta de classes, só que ninguém enxergou ainda?
Laymert – Não é que há um determinismo tecnológico, não é essa a questão, se essas máquinas existem é porque as forças produtivas se desenvolveram a ponto de criar essas máquinas. Mas elas colocam a luta política em outro patamar, e esse outro patamar não pode mais deixar de ser levado em conta porque a luta vai se passar lá. Não só lá, mas não é possível entender as ruas hoje, no Brasil e em outros países, sem entender o binômio redes e ruas, com suas especificidades. O modo como o movimento se dá nas redes não é exatamente o mesmo que se dá nas ruas, a relação rede-rua é que tem de ser pensada junto, na sua articulação, e isso é política. Chamo isso de tecnopolítica porque não é mais possível pensar a política sem a tecnologia junto. Estamos vendo agora na política internacional, em que se discute aquilo que se passa nas redes.
Fórum – Mas ela ainda é excludente…
Laymert – Claro que é excludente, e se você quiser expandir a democracia política no país, tem de ter banda larga pra todo mundo e com preço acessível, mas tem de ser uma política de Estado. Já devia haver uma diretriz nesse sentido, porque o acesso às comunicações no Brasil é muito caro, não só a banda larga como a telefonia celular é extremamente cara para uma qualidade ruim, a relação qualidade-preço é absurda, e isso revela que existe muito caminho para ser trilhado aqui. É preciso garantir o acesso para a população, mas também trabalhar a educação digital dessas pessoas, e acho que foi isso que o Gil sacou, que podia fazer uma relação entre riqueza cultural e um povo sem acesso. O mais importante é abrir canais novos, e o potencial que a pessoa tem na periferia encontra uma maneira de realizar aquilo, não se torna só um consumidor de uma cultura que vem de cima para baixo. É uma diferença enorme. E até a dependência em relação à mídia velha vai sendo cada vez menor.
Fórum – Em relação à educação, existe também a questão do trabalho imaterial, que começa a ganhar importância; não sei se é possível isolar, mas como isso modifica a luta dos trabalhadores, dos sindicatos e como entra a questão educacional nesse sentido?
Laymert – A virada cibernética começou nos anos 1950 nos laboratórios, e nos anos 1970, as máquinas inteligentes começaram a entrar, com os computadores pessoais, em todos os setores, na vida social, na produção, em tudo. Houve uma alteração que é crescente, e cada vez mais profunda, da vida e do trabalho das pessoas, afetou o modo como se trabalhava, instaurando o que muitos chamam, inclusive, de crise da sociedade de trabalho. Porque as máquinas começaram a substituir não só a força física, como era no século XIX, com as máquinas a vapor substituindo quem fazia a força motora, mas passou a fazer todo tipo de trabalho que não é o de invenção, que a máquina não é capaz de criar ela própria. Fora esse trabalho, a substituição do trabalhador pela máquina é cada vez maior, tanto que vemos, desde que isso começou, um paradoxo enorme no qual todos os governos do mundo dizem que precisam aumentar o nível de emprego, e fomentam políticas que substituem os humanos pelas máquinas. Você diz o tempo todo que vai lutar pelo aumento do emprego e, ao mesmo tempo, implanta uma política que elimina o trabalhador e põe uma máquina no lugar dele.
Claro que não é culpa das máquinas, e sim das relações sociais, pois se elas ocupam o lugar dos humanos, eles poderiam ser liberados e preparados para fazer o trabalho que elas não podem fazer. Mas esse desenvolvimento é usado contra o trabalhador, fazendo com que antes ele fizesse uma greve por melhores condições de trabalho e depois da era cibernética, que ele pedisse pelo amor de Deus pra trabalhar. Essa mudança é o que os especialistas chamam de crise da sociedade do trabalho. Hoje a precarização é tal que você luta para manter o seu trabalho. Ao mesmo tempo, essa nova situação cria condições para que outro tipo de trabalho possa acontecer, de caráter colaborativo, escapando dessa lógica.
É necessário que os sindicatos, os trabalhadores discutam isso, quais são as positividades que podem ajudar para não transformar isso em um ludismo, uma briga contra a máquina. Por outro lado, tem de haver uma educação que já integre essa frente de transformação digital porque o mundo se transformou em algo no qual a dimensão digital é incontornável, e é preciso que a população seja educada pra isso. Qual o problema principal depois que você consegue o acesso? É que é necessário ter uma educação para que, dentro daquele fluxo gigantesco de informações, você possa ter parâmetros para discriminar a informação que vai ser boa para você. Não é só o acesso físico, se não tiver critério para se politizar dentro disso, por exemplo, você vai usar a máquina como uma televisão. Usa 1% dela, e no que ela tem de pior.
A íntegra da entrevista na edição 127 de Fórum. Nas lojas da Livraria Cultura.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Forças de segurança do Rio viraram polícia política, diz pesquisador
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As forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro se transformaram em uma polícia política, atuando de forma desproporcional nas manifestações. A avaliação é do professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), Rafael Alcadipani, que analisou os enfrentamentos e as prisões em massa ocorridas ontem, durante protestos no centro da capital fluminense.
O que está acontecendo no Rio é que a polícia está prendendo indiscriminadamente, sem muita inteligência e criando relações inexistentes entre essas pessoas. Estão agindo, infelizmente, ao arrepio da lei
Rafael Alcadipani
"Ela já se transformou em uma polícia política. Se você vê o que aconteceu ontem em São Paulo, mais de 50 pessoas foram presas, mas a Polícia Civil mostrou que não havia ligação entre elas e liberou a todas. O que está acontecendo no Rio é que a polícia está prendendo indiscriminadamente, sem muita inteligência e criando relações inexistentes entre essas pessoas. Estão agindo, infelizmente, ao arrepio da lei", disse
Alcadipani, que vem estudando o fenômeno das manifestações, principalmente relacionado ao Black Bloc.
Infelizmente parece que o Rio está entrando em um Estado de exceção, o que é muito sério e já aconteceu na época da ditadura. Isso é preocupante
Rafael Alcadipani
O pesquisador chegou a comparar o que vem acontecendo no Rio com os tempos ditatoriais do Estado Novo de Getúlio Vargas e da ditadura militar (1964-1985). "Da forma como a polícia do Rio tem agido, com bastante truculência, e a prisão ontem de repórteres da rede independente Zona de Conflito, infelizmente, parece que o Rio está entrando em um Estado de exceção, o que é muito sério e já aconteceu na época da ditadura. Isso é preocupante, porque os governos não estão chamando para o diálogo", destacou Alcadipani.
A chefe de Polícia do Rio, delegada Martha Rocha, contestou a avaliação do professor da FGV. Ela disse, em entrevista à imprensa, que a Polícia Civil é a defensora da sociedade.
O fato é que não estamos falando de manifestação. Estamos falando de atos de vandalismo. De pessoas que saem de casa com o compromisso da prática de delito, armadas de diversos instrumentos
Delegada Martha Rocha
"Embora eu respeite a opinião dos estudiosos, a nossa decisão não passa pelo crivo deles. A nossa decisão passa pelo crivo do Poder Judiciário. A Polícia Civil é a defesa da sociedade. Vamos falar a verdade. Ninguém mais aguenta essa situação. Se esses estudiosos não entenderem que a Polícia Civil atua na defesa da sociedade, eu lamento muito. Mas o fato é que não estamos falando de manifestação. Estamos falando de atos de vandalismo. De pessoas que saem de casa com o compromisso da prática de delito, armadas de diversos instrumentos", ressaltou.
depoimento Adriano Pilatti no facebook dia 16/10/2013
Prenderam Ernesto Fuentes Brito - uma das pessoas mais sensatas, equilibradas, serenas, educadas, gentis, apaziguadoras e pacíficas que já conheci em toda minha vida, o que não o poupou, há mais de um mês, de quase perder um dedo de uma das mãos depois de uma pancada desferida por um troglodita fardado, que lhe rendeu dois pinos e a mão enfaixada até hoje, um jovem capaz de dialogar, paciente e respeitosamente, com qualquer policial minimamente racional, e que me presenteou há poucos dias com o desenho abaixo, em homenagem à minha admiração pelo slogan POR UMA VIDA SEM CATRACAS.
Prenderam Sininho - uma garota com virtudes equivalentes... que poder abjeto é este capaz de prender uma menina cujos atributos lhe renderam tão singelo e doce apelido?
Prenderam um jovem Palhaço - recém-chegado ao Rio, que estava na Cinelândia de bobeira.
Prenderam um Carteiro (!) e um funcionário do Ministério Público Federal (!!), negro (...) que estavam na escadaria da Câmara Municipal esperando a confusão passar.
Nenhum(a) dele(a)s participou de qualquer ato de violência ou depredação.
Policiais deram tiros a esmo contra a multidão, com balas de verdade, e feriram dois garotos. Advogado(a)s abnegado(a)s foram duramente insultado(a)s e humilhado(a)s pelos jagunços de Estado por tentar impedir prisões arbitrárias, garantir a ampla defesa e a presunção de inocência. Um menino-herói mais do que pacífico, ativista do Midia Ninja, foi preso por filmar e mostrar a verdade dos fatos que a impren$a de negócios teima em censurar.
Uma ocupação pacífica, produtiva, democrática, criativa, notabilizada pelo respeito mútuo entre o(a)s participantes das mais diversas orientações e pela gentileza dedicada aos cidadãos em geral que por ali transitavam foi desfeita inconstitucional, ilegal e truculentamente, e o(a)s ocupantes presos pelos "crimes" de exercer as sagradas liberdades de reunião e expressão, denúncia e protesto diante de uma "Gaiola de Outro" que hoje abriga uma fábrica de pequenos, médios e grandes golpes contra o patrimônio e o interesse públicos e os bens comuns.
Tudo isso aconteceu no Dia dos Professores, sob a responsabilidade de um tirano de aluguel, com o apoio tácito do Partido dos Trabalhadores e sua máquina de boquinha$, sob o manto acobertador da mídia a$$ociada, e com o beneplácito de uma intelectualidade apodrecida e cúmplice.
Choro por esse(a)s menino(a)s preso(a)s injustamente, agredido(a)s e ferido(a)s covardemente pelos capitães do mato renascidos. Choro pela minha Cidade, violentada pela associação cínica entre Estado e Capital. Choro pela Constituição que ajudei a escrever, rasgada por um estado de exceção não decretado.
Mas não desistiremos. Continuaremos a lutar pelos direitos e pelas liberdades. Perseveraremos em denunciar a farra escabrosa dos patifes que tudo destroem por dinheiro. Não passarão. O sol da liberdade há de raiar outra vez na Muy Leal e Heroica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Okê Okê!
Prenderam Sininho - uma garota com virtudes equivalentes... que poder abjeto é este capaz de prender uma menina cujos atributos lhe renderam tão singelo e doce apelido?
Prenderam um jovem Palhaço - recém-chegado ao Rio, que estava na Cinelândia de bobeira.
Prenderam um Carteiro (!) e um funcionário do Ministério Público Federal (!!), negro (...) que estavam na escadaria da Câmara Municipal esperando a confusão passar.
Nenhum(a) dele(a)s participou de qualquer ato de violência ou depredação.
Policiais deram tiros a esmo contra a multidão, com balas de verdade, e feriram dois garotos. Advogado(a)s abnegado(a)s foram duramente insultado(a)s e humilhado(a)s pelos jagunços de Estado por tentar impedir prisões arbitrárias, garantir a ampla defesa e a presunção de inocência. Um menino-herói mais do que pacífico, ativista do Midia Ninja, foi preso por filmar e mostrar a verdade dos fatos que a impren$a de negócios teima em censurar.
Uma ocupação pacífica, produtiva, democrática, criativa, notabilizada pelo respeito mútuo entre o(a)s participantes das mais diversas orientações e pela gentileza dedicada aos cidadãos em geral que por ali transitavam foi desfeita inconstitucional, ilegal e truculentamente, e o(a)s ocupantes presos pelos "crimes" de exercer as sagradas liberdades de reunião e expressão, denúncia e protesto diante de uma "Gaiola de Outro" que hoje abriga uma fábrica de pequenos, médios e grandes golpes contra o patrimônio e o interesse públicos e os bens comuns.
Tudo isso aconteceu no Dia dos Professores, sob a responsabilidade de um tirano de aluguel, com o apoio tácito do Partido dos Trabalhadores e sua máquina de boquinha$, sob o manto acobertador da mídia a$$ociada, e com o beneplácito de uma intelectualidade apodrecida e cúmplice.
Choro por esse(a)s menino(a)s preso(a)s injustamente, agredido(a)s e ferido(a)s covardemente pelos capitães do mato renascidos. Choro pela minha Cidade, violentada pela associação cínica entre Estado e Capital. Choro pela Constituição que ajudei a escrever, rasgada por um estado de exceção não decretado.
Mas não desistiremos. Continuaremos a lutar pelos direitos e pelas liberdades. Perseveraremos em denunciar a farra escabrosa dos patifes que tudo destroem por dinheiro. Não passarão. O sol da liberdade há de raiar outra vez na Muy Leal e Heroica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Okê Okê!
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Black blocs RJ no dia do professor 2013
Tinha tempo que eu não sentia medo. Hoje eu tive. Obrigado pelo favor, polícia militar. Basicamente, os Black Blocks existem, entre outros propósitos, pra impedir que a polícia chegue aos manifestantes. (Você pode acreditar na grande mídia se quiser. Que se foda. Mas, sim, eles separam a polícia despreparada e violenta dos manifestantes). Acontece que hoje tudo foi muito peculiar. Ao final da LINDA manifestação de apoio aos mestres, os BBs fram para a Câmara, como de costume, mas não encostaram no prédio. Nenhuma manifestação (que é legítima e justa) mais extremada. Nada. Juntaram a sua bandeira negra às bandeiras de sindicatos, movimentos LGBT e Feminista e de partidos de esquerda. Um BB jogou uma pedra nos policias e foi segurado pelos outros. Não entendi até me explicarem: A manifestação BB aquele dia seria pacífica. Decidiram que todo o destaque deveria ser para os professores. Por cerca de uma hora o enorme grupo de cerca de 500 pessoas fecharam as laterias da Câmara, onde estava a polícia, mas não fizeram nada.
Hora de dispersar, os BBs dividiram os grupos. Metade foi no sentido da Araújo Porto Alegre. A outra metade esperava para dispersar. E, sem nada ser quebrado, sem nada acontecer, vieram as bombas. E não eram bombinhas não. A tal nova bomba do Choque é assustadora. O barulho é ensurdecedor. Efeito mediato: pânico completo e generalizado. Os BBs saíram da Araújo. Pronto. A polícia conseguiu o que queria. Não exatamente. Entraram pela Cinelândia e distribuíram bombas. Os manifestantes fugiram para a Lapa. O Choque, posicionado também na frente do prédio do Eike Batista (pq será?) começou a atirar nas pessoas que corriam. Fomos pra Lapa. A ideia era ir para a Glória pegar o metrô. Mas o Choque não vinha só por trás. Já esperavam na Rua da Lapa e Augusto Severo. Estava armada a emboscada aos manifestantes. Primeira vez que vi minha amiga, que é a figura mais calma em manifestações, com medo de verdade. Correndo abaixados debaixo de bala de borracha, conseguimos entrar em uma rua paralela e entrar em um bar.
Cheguei em casa cerca de duas horas depois de ter deixado a manifestação debaixo de bomba e ter sido cercado com tiro vindo de todo lado em cima de pessoas desesperadas correndo, gritando, se trombando em sentidos opostos. Duas horas depois de deixar uma manifestação que, dessa vez, mesmo com BBs (que, repito, se manifestam de forma extremada com razão), foi sim pacífica. Ligo a TV e as notícias parecem ser de uma outra manifestação: Policiais reagiram ao "vandalismo". Mascarados protestavam sozinhos por outro motivo que não aqueles dos demais manifestantes. Cinco mil pessoas nas mesmas ruas que eu vi entupidas de, no mínimo, 10 ou 15 mil ou mais. Pessoas que estavam paradas, sentadas na escadaria da Câmara estão sendo presas por nenhum motivo. As barracas da ocupação foram reviradas pelo chão. Sério... Tá tudo muito errado. Muito. E precisa parar. O governo precisa ceder. Dilma, Cabral e Paes estão jogando a cidade de volta aos anos negros da ditadura. Ainda que a TV diga que não.
Foto: Coletivo Carranca via Rodrigo Mariano Facebook
Hora de dispersar, os BBs dividiram os grupos. Metade foi no sentido da Araújo Porto Alegre. A outra metade esperava para dispersar. E, sem nada ser quebrado, sem nada acontecer, vieram as bombas. E não eram bombinhas não. A tal nova bomba do Choque é assustadora. O barulho é ensurdecedor. Efeito mediato: pânico completo e generalizado. Os BBs saíram da Araújo. Pronto. A polícia conseguiu o que queria. Não exatamente. Entraram pela Cinelândia e distribuíram bombas. Os manifestantes fugiram para a Lapa. O Choque, posicionado também na frente do prédio do Eike Batista (pq será?) começou a atirar nas pessoas que corriam. Fomos pra Lapa. A ideia era ir para a Glória pegar o metrô. Mas o Choque não vinha só por trás. Já esperavam na Rua da Lapa e Augusto Severo. Estava armada a emboscada aos manifestantes. Primeira vez que vi minha amiga, que é a figura mais calma em manifestações, com medo de verdade. Correndo abaixados debaixo de bala de borracha, conseguimos entrar em uma rua paralela e entrar em um bar.
Cheguei em casa cerca de duas horas depois de ter deixado a manifestação debaixo de bomba e ter sido cercado com tiro vindo de todo lado em cima de pessoas desesperadas correndo, gritando, se trombando em sentidos opostos. Duas horas depois de deixar uma manifestação que, dessa vez, mesmo com BBs (que, repito, se manifestam de forma extremada com razão), foi sim pacífica. Ligo a TV e as notícias parecem ser de uma outra manifestação: Policiais reagiram ao "vandalismo". Mascarados protestavam sozinhos por outro motivo que não aqueles dos demais manifestantes. Cinco mil pessoas nas mesmas ruas que eu vi entupidas de, no mínimo, 10 ou 15 mil ou mais. Pessoas que estavam paradas, sentadas na escadaria da Câmara estão sendo presas por nenhum motivo. As barracas da ocupação foram reviradas pelo chão. Sério... Tá tudo muito errado. Muito. E precisa parar. O governo precisa ceder. Dilma, Cabral e Paes estão jogando a cidade de volta aos anos negros da ditadura. Ainda que a TV diga que não.
Foto: Coletivo Carranca via Rodrigo Mariano Facebook
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Seminario ‘Las actuales luchas por la democracia: destituir el gobierno de las finanzas, constituir el común’
Michael Hardt Live: Declaration Tour.
Seminario “Las actuales luchas por la democracia: destituir el gobierno de las finanzas, constituir el común”
Seminario “Las actuales luchas por la democracia: destituir el gobierno de las finanzas, constituir el común”
Os invitamos a analizar colectivamente la aportación que hacen Michael Hardt y Toni Negri en el libro Declaración al proceso constituyente iniciado en este nuevo ciclo de luchas. Antes y después del 15M los movimientos han estado ensayando nuevos formas organizativas, con mayores o menores éxitos. Nos parece fundamental seguir trabajando a partir de los modelos ensayados y otros nuevos que será necesario crear.
Este trabajo requiere momentos de encuentro, la estabilización de grupos de personas que hagan análisis de la coyuntura, de lo avanzado por las luchas, que debatan y elaborenpensamiento colectivo y propuestas conjuntas, que permitan despegar al movimiento de la inercia de las movilizaciones respuesta y le doten de esa mayor capacidad de impacto en la transformación del sistema politico y económico.
Es por esta necesidad de promover el encuentro para el análisis, la estrategia y la organización, por la que surge la propuesta de Nociones Comunes de aprovechar la visita de Michael Hardt al Centro Social La Pantera Rossa en octubre, para llevar a cabo un trabajo colectivo sobre el libro que, junto a su tradicional compañero Toni Negri, acaban de publicar: Declaración.
http://www.lapanterarossa.net/michael-hardt-en-pantera-rossa/
Esto no es un manifiesto. Los manifiestos ofrecen un atisbo de un mundo por venir y engendran a su vez el sujeto que, no siendo más que un espectro, debe materializarse para tornarse en el agente del cambio. Los manifiestos funcionan como los antiguos profetas, quienes mediante el poder de su visión creaban su propio pueblo. Los movimientos sociales de hoy han invertido ese orden, haciendo que los manifiestos y los profetas se vuelvan obsoletos. Los agentes del cambio ya han salido a las calles y han ocupado las plazas, no solo amenazando y derrocando a los gobernantes, sino también haciendo aparecer visiones de un nuevo mundo. Tal vez lo más importante sea que las multitudes, mediante sus lógicas y sus prácticas, sus lemas y sus deseos, han declarado un nuevo conjunto de principios y verdades.
¿Cómo puede tornarse su declaración en la base para la constitución de una sociedad nueva y sostenible? ¿Cómo pueden guiarnos esos principios y verdades para la reinvención del modo en que nos relacionamos unos con otros y con el mundo? En su rebelión las multitudes deben descubrir el paso que conduce de la declaración a la constitución.
El ensayista y téorico italiano Antonio Negri (1933) y el escritor y crítico estadounidense Michael Hardt (1960), han sintetizado en poco más de cien páginas el contenido de su célebre trilogía –Imperio (2002) , Multitud (2004) yConmmonwealth (2011).
O que é a luta de classes, aqui e agora?
TONI NEGRI - CARTA A UM AMIGO
(fragmento)
"O que é a luta de classes, aqui e agora? É uma alternativa de vida – presente – à uma acumulação de morte – presente. Uma riqueza enorme que se move – os poros e os vazios do ser são ocupados por uma produção independente em todo lugar onde a ordem capitalista não chega com violência suficiente, lá onde é obrigado a permitir tecidos esponjosos e receptivos. A história do arranha-céu fechado é a de um poder que desde a plenitude de sua estrutura exige articular qualquer iniciativa que permita a reprodução de seu ritmo biológico: a autocracia recomeça sempre o sonho da autarquia, mas em cada uma dessas articulações, o poder encontra outra coisa – obstáculos, um contra-poder. Linhas heterogêneas de desenvolvimento. Forças que não querem entrar no Palácio, que o odeiam. E assim o matam? Só com este afastamento ativo? Talvez. O que é certo, em todo caso, é que lutamos no exterior e contra o Palácio. Esta luta entre a morte e uma nova vitalidade se desenvolve continuamente."
Toni Negri
Fragmento de carta a um amigo. A carta completa pode ser lida aqui:http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=1978
(fragmento)
"O que é a luta de classes, aqui e agora? É uma alternativa de vida – presente – à uma acumulação de morte – presente. Uma riqueza enorme que se move – os poros e os vazios do ser são ocupados por uma produção independente em todo lugar onde a ordem capitalista não chega com violência suficiente, lá onde é obrigado a permitir tecidos esponjosos e receptivos. A história do arranha-céu fechado é a de um poder que desde a plenitude de sua estrutura exige articular qualquer iniciativa que permita a reprodução de seu ritmo biológico: a autocracia recomeça sempre o sonho da autarquia, mas em cada uma dessas articulações, o poder encontra outra coisa – obstáculos, um contra-poder. Linhas heterogêneas de desenvolvimento. Forças que não querem entrar no Palácio, que o odeiam. E assim o matam? Só com este afastamento ativo? Talvez. O que é certo, em todo caso, é que lutamos no exterior e contra o Palácio. Esta luta entre a morte e uma nova vitalidade se desenvolve continuamente."
Toni Negri
Fragmento de carta a um amigo. A carta completa pode ser lida aqui:http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=1978
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Doze Teses sobre Manifestações de Rua Como Forma de Comunicação Política | CEADD
Doze Teses sobre Manifestações de Rua Como Forma de Comunicação Política | CEADD
1. Protestos de rua, mobilização de multidões na cena pública e até ocupação de espaços e obstrução de vias são formas de comunicação política. É justamente por isso, porque são comunicação, é que são chamadas de “manifestações” ou representação pública de uma posição política.
2. Por meio de manifestações, pessoas e grupos atingidos, afetados por alguma situação que consideram injusta, inadequada ou insatisfatória – e outras pessoas a elas solidárias – fazem saber ao grupo ou à instituição responsável pela situação em tela, e à sociedade em geral, que não estão de acordo com isso e que requerem mudanças urgentes.
3. Na democracia, é legítimo que pessoas e grupos lutem por interesses próprios e que usem manifestações como meio de luta. Mas nem todos os interesses são generalizáveis nem toda a satisfação de reivindicações merecerá a solidariedade dos não afetados pela situação em tela. Num universo de recursos finitos, quase sempre quando um conjunto de interesses é satisfeito isso diminui a possibilidade de que outros interesses possam ser atendidos. Por isso mesmo, o grupo portador de reivindicações via manifestações precisa captar o máximo de simpatia do resto da sociedade, não apenas porque os outros podem exercer pressão favorável ao grupo em questão, mas, sobretudo, para evitar a sensação de este grupo está avançando pretensões indevidas e egoístas sobre o patrimônio comum, em prejuízo dos demais.
4. Por essa razão, o modo como a mensagem-manifestação é elaborada será fundamental para a captação da benevolência dos demais. O coletivo manifestante terá que dramatizar a própria situação (no sentido de produzir narrativas dramáticas em que se representam o modo como a circunstância injusta lhe atinge), transformar a circunstância contra a qual luta em problema de toda a sociedade e, sobretudo, vender a ideia de que remover a situação opressora será um benefício para todos e não apenas para o grupo. E isso tudo ainda tendo que lidar com discursos e narrativas adversárias e eventuais interesses antagônicos, que também são legítimos.
5. Toda manifestação, enquanto mensagem produzida diretamente pelo grupo portador de reivindicações, será mediada por outro conjunto de mensagens antes de chegar, para além do círculo mais restrito dos envolvidos e engajados, aos corações e mentes do resto das pessoas. Este outro conjunto de mensagem poderá ser produzido por cidadãos anônimos nas suas redes de comunicação horizontal, via internet, mas é produzido principalmente pelo jornalismo industrial. Que usará os seus critérios próprios de seleção e decisão editorial e realizará a cobertura conforme o interesse do seu modelo (imaginado) de consumidor, o que normalmente significa que não será conforme o interesse do grupo manifestante. A manifestação retirada das ruas para páginas e telas, depois de editadas, reorganizadas como histórias, estruturadas conforme a machetaria das narrativas jornalísticas não é nem pode ser a mesma coisa, ter o mesmo sentido e configurar-se exatamente como a mesma mensagem que interessa ao grupo portador de reivindicações. Não tem jeito. Estamos em um mundo em que todos os fatos e eventos são mediados pela cobertura do noticiário, por que seria diferente no caso de manifestações? Esquecer-se do fato de que há mediação pode ser o pecado mortal das manifestações de rua.
6. Tem papel decisivo em toda a manifestação o conceito de política, Estado e democracia que sustenta a estratégia de comunicação por trás dos protestos, passeatas, obstruções e ocupações. Um grande problema das manifestações brasileiras consiste na concepção que compartilham acerca da política (“política é uma atividade indigna e classista, realizada por canalhas cujo objetivo é a satisfação dos interesses próprios e que, ademais, empregam a sua energia para prejudicar os trabalhadores e os pobres”), do Estado (“estruturalmente um adversário da sociedade, ocupado por governos que têm recursos infinitos e fazem políticas públicas orientadas exclusivamente por um fator chamado «vontade política»”) e da democracia (“democracia é um sistema em que os trabalhadores, os pobres e qualquer coletivo em que eu esteja têm satisfeitos todos os seus interesses; democracia verdadeira é um sistema em que organizações sociais governam e se autorrepresentam ao tempo em que representam o povo”). Os inconvenientes desses pressupostos são: a) expectativas irrealizáveis sobre os limites e processos da fazenda pública e dos orçamentos públicos; b) incompreensão dos processos legislativos, dos procedimentos de formulação e implantação de políticas públicas e das demais regras de funcionamento do Estado democrático; c) dificuldade de estabelecimento de pontes com “o resto da sociedade” e com as instituições do Estado, uma vez que a parte reivindicante se autocompreende como sendo o Todo, de fato ou de direito.
7. Organizadores de manifestações em geral são muito habilidosos na mobilização interna dos afetados pela situação injusta, na comunicação para dentro do grupo a fim de reforçar o vínculo interno, para criar uma identidade coletiva e, por fim, com o objetivo de produzir a indignação moral necessária para por o grupo em movimento. Mas podem ser um desastre na criação de pontes com os que estão fora do coletivo, seja com os responsáveis por alterar o indesejável estado das coisas, seja com aqueles cuja solidariedade seria essencial para exercer pressão sobre os primeiros ou, ao menos, para que não fosse exercida pressão em sentido contrário ao que se reivindica. Aparentemente, quanto mais forte o capital social que torna o grupo compacto, mais fraco é o capital social que constrói conexões, que negocia reivindicações e capta benevolência. Assim, grupos compactos podem estar tão certos da justiça do que reivindicam e de tal modo imbuídos do furor moral contra injustiça que sofrem que frequentemente imaginam que podem conseguir satisfazer reivindicações “na marra”, sem persuasão ou negociação.
8. Manifestantes, da mesma maneira que atores de muitos outros setores da sociedade, não necessariamente possuem habilidades ou competências para lidar com os mediadores profissionais do jornalismo, embora precisem contar com esta mediação e lidar com ela para conseguir passar a sua mensagem aos seus destinatários. Produzir mensagens é uma coisa, garantir que ela seja entregue conforme a intenção de quem a produz é outra, bem diferente. Outros setores sociais resolveram isso contratando capacidade profissional de comunicadores (RP, assessores e consultores de comunicação e imagem, jornalistas, produtores, publicitários) para cuidar da própria visibilidade e da imagem e reputação que lhes convém na esfera de visibilidade pública monopolizada pelos campos profissionais e pelas indústrias da comunicação. Atores da sociedade civil, principalmente atores de mobilizações sociais que, portanto, são eventuais e não estáveis (diferentemente das organizações sociais), não contam com esta ajuda profissionalizada. Por desconhecer a mediação necessária do noticiário e achar que a mensagem saída “das ruas” chegará, “desintermediada”, a todos, o manifestante viverá sempre a grande frustração de não ver o que ele deseja manifestar refletido no jornal. Para ele, o jornalismo teria uma obrigação moral e uma capacidade ontológica de refletir as coisas e só não o faz porque veicula interesses políticos divergentes dos manifestantes. Acontece, porém, que o jornalismo não é um espelho onde os fatos, eventos e mensagens produzidas na realidade se refletem integralmente. A cobertura jornalística é uma produção de narrativas, estruturadas segundo critérios específicos, em que fatos são editados, mensagens são reorganizadas e recontextualizadas, discursos e imagens são agrupados e encaixados, tudo para satisfazer o consumidor modelo de informação daquele veículo. O jornalismo não é o entregador da mensagem das manifestações de rua. Não é, nem o pode ser. Todo fato ou mensagem hoje é mediado pelo jornalismo, não porque os jornalistas sejam perversos e monopolistas, mas porque é na cobertura do noticiário que as pessoas vão buscar as informações sobre os fatos do dia.
9. Grupos portadores de reivindicações que não conseguem ou não desejam construir pontes tendem a se transformar em coletivos agressivos contra todos os que estão fora deles e que lhes parece obstáculos. À medida que sentem que não estão sendo ouvidos pelo destinatário primário das suas reivindicações e/ou que a sua mensagem não está sendo refletida no noticiário, vão elevando a voz e radicalizando as atitudes, numa falsa esperança de que se gritar podem ser, enfim, ouvidos e atendidos. É normal a este ponto iniciar um processo de transformação do oposto em adversário e do adversário em inimigo. Formam-se, então, setores mais radicalizados dentro grupo, dispostos a partir para o confronto, e a causa vai sendo perdida – mesmo a causa mais justa não consegue prosperar quando passa a ser defendida e representada publicamente por grupos que são objetos de grande antipatia social.
10. Na “fase de inimizade”, o primeiro alvo são os que poderiam resolver a situação adversa que motivou a reivindicação, os destinatários primários da reivindicação, e tudo o que pareça a eles associados. Se estes destinatários são os políticos, o objeto imediato do confronto pode ser o espaço físico ocupado por eles, a polícia e as instituições públicas e financeiras que constituem o status quo político e econômico, numa escala crescente de inclusão de alvos. A segunda classe de alvos podem ser os mediadores profissionais das narrativas das manifestações – o jornalismo -, uma vez que não entregam a mensagem que os manifestantes produzem e que, segundo o raciocínio comum, não o fazem porque são adversários. A terceira classe de alvos é “o resto da sociedade”, que, segundo o raciocínio dos manifestantes, precisam de algum modo experimentar na própria carne a opressão e a frustração dos portadores de reivindicação. Trata-se da “socialização de transtornos” – se eu sofro, todos têm que sofrer para ver se alguma coisa muda. Isso cria, paradoxalmente, uma nova classe de pessoas afetadas por situações injustas ou indesejadas: os afetados por manifestações.
11. Manifestações eficientes são as que conseguem ter a sua mensagem entregue ao grande público e que, por esse meio, consegue persuadi-lo a apoiar o que reivindicam. Manifestações na escala massiva de participação, raras, tendem a ser forças incontroláveis na modificação de agendas e políticas e até na alteração de regulamentações, leis e demais formas de decisão política. Isso porque, de algum modo, o público em geral se sente representado pelo que se reivindica e não se sente ameaçado pela satisfação dos interesses manifestados. Manifestações na escala de multidões e grupos enfrentam maiores dificuldades porque há mais gente fora do que dentro do coletivo, de forma que enfrentam dificuldades suplementares para produzir uma mensagem que, primeiro, chegue ao público e, segundo, que o convença da justiça da causa defendida. Nesta escala, é preciso cuidar muito da forma da mensagem, dos vários destinatários a que ela se destina e, enfim, do modo como operam os mediadores que se colocam entre os manifestantes e o público em geral.
12. Em todo ciclo de manifestações de rua há que se levar em conta o fenômeno de psicologia social que podemos chamar de “fadiga de compaixão”. O público tem uma cota limitada de compaixão, de empatia na dor e no sofrimento dos outros e, portanto, de paixão moral para ser despendida com os eventos presentes no noticiário. Depois de certa duração e de determinada intensidade na solicitação dos seus sentimentos de compaixão, da sua paixão intelectual e moral, o público já não tem mais esses sentimentos disponíveis e vai precisar de um tempo “defeso”, de uma folga na demanda por piedade e engajamento. Neste período perde-se, inclusive, a capacidade de distinguir uma causa da outra, uma tragédia da outra, uma reivindicação da outra. É um período de insensibilidade, cuja velocidade de recuperação vai depender dos níveis de dispêndio de compaixão que o ciclo anterior de solicitação de empatia demandou. Desde junho acompanhando manifestações, aparentemente ninguém aguenta mais ver manifestações no telejornal da noite e o público já nem é capaz de claramente distinguir uma causa da outra, todas lhes parecem iguais e dramatizadas num nível histérico de fogo e quebra-quebra. O público brasileiro chegou a outubro precisando de uma folga.
1. Protestos de rua, mobilização de multidões na cena pública e até ocupação de espaços e obstrução de vias são formas de comunicação política. É justamente por isso, porque são comunicação, é que são chamadas de “manifestações” ou representação pública de uma posição política.
2. Por meio de manifestações, pessoas e grupos atingidos, afetados por alguma situação que consideram injusta, inadequada ou insatisfatória – e outras pessoas a elas solidárias – fazem saber ao grupo ou à instituição responsável pela situação em tela, e à sociedade em geral, que não estão de acordo com isso e que requerem mudanças urgentes.
3. Na democracia, é legítimo que pessoas e grupos lutem por interesses próprios e que usem manifestações como meio de luta. Mas nem todos os interesses são generalizáveis nem toda a satisfação de reivindicações merecerá a solidariedade dos não afetados pela situação em tela. Num universo de recursos finitos, quase sempre quando um conjunto de interesses é satisfeito isso diminui a possibilidade de que outros interesses possam ser atendidos. Por isso mesmo, o grupo portador de reivindicações via manifestações precisa captar o máximo de simpatia do resto da sociedade, não apenas porque os outros podem exercer pressão favorável ao grupo em questão, mas, sobretudo, para evitar a sensação de este grupo está avançando pretensões indevidas e egoístas sobre o patrimônio comum, em prejuízo dos demais.
4. Por essa razão, o modo como a mensagem-manifestação é elaborada será fundamental para a captação da benevolência dos demais. O coletivo manifestante terá que dramatizar a própria situação (no sentido de produzir narrativas dramáticas em que se representam o modo como a circunstância injusta lhe atinge), transformar a circunstância contra a qual luta em problema de toda a sociedade e, sobretudo, vender a ideia de que remover a situação opressora será um benefício para todos e não apenas para o grupo. E isso tudo ainda tendo que lidar com discursos e narrativas adversárias e eventuais interesses antagônicos, que também são legítimos.
5. Toda manifestação, enquanto mensagem produzida diretamente pelo grupo portador de reivindicações, será mediada por outro conjunto de mensagens antes de chegar, para além do círculo mais restrito dos envolvidos e engajados, aos corações e mentes do resto das pessoas. Este outro conjunto de mensagem poderá ser produzido por cidadãos anônimos nas suas redes de comunicação horizontal, via internet, mas é produzido principalmente pelo jornalismo industrial. Que usará os seus critérios próprios de seleção e decisão editorial e realizará a cobertura conforme o interesse do seu modelo (imaginado) de consumidor, o que normalmente significa que não será conforme o interesse do grupo manifestante. A manifestação retirada das ruas para páginas e telas, depois de editadas, reorganizadas como histórias, estruturadas conforme a machetaria das narrativas jornalísticas não é nem pode ser a mesma coisa, ter o mesmo sentido e configurar-se exatamente como a mesma mensagem que interessa ao grupo portador de reivindicações. Não tem jeito. Estamos em um mundo em que todos os fatos e eventos são mediados pela cobertura do noticiário, por que seria diferente no caso de manifestações? Esquecer-se do fato de que há mediação pode ser o pecado mortal das manifestações de rua.
6. Tem papel decisivo em toda a manifestação o conceito de política, Estado e democracia que sustenta a estratégia de comunicação por trás dos protestos, passeatas, obstruções e ocupações. Um grande problema das manifestações brasileiras consiste na concepção que compartilham acerca da política (“política é uma atividade indigna e classista, realizada por canalhas cujo objetivo é a satisfação dos interesses próprios e que, ademais, empregam a sua energia para prejudicar os trabalhadores e os pobres”), do Estado (“estruturalmente um adversário da sociedade, ocupado por governos que têm recursos infinitos e fazem políticas públicas orientadas exclusivamente por um fator chamado «vontade política»”) e da democracia (“democracia é um sistema em que os trabalhadores, os pobres e qualquer coletivo em que eu esteja têm satisfeitos todos os seus interesses; democracia verdadeira é um sistema em que organizações sociais governam e se autorrepresentam ao tempo em que representam o povo”). Os inconvenientes desses pressupostos são: a) expectativas irrealizáveis sobre os limites e processos da fazenda pública e dos orçamentos públicos; b) incompreensão dos processos legislativos, dos procedimentos de formulação e implantação de políticas públicas e das demais regras de funcionamento do Estado democrático; c) dificuldade de estabelecimento de pontes com “o resto da sociedade” e com as instituições do Estado, uma vez que a parte reivindicante se autocompreende como sendo o Todo, de fato ou de direito.
7. Organizadores de manifestações em geral são muito habilidosos na mobilização interna dos afetados pela situação injusta, na comunicação para dentro do grupo a fim de reforçar o vínculo interno, para criar uma identidade coletiva e, por fim, com o objetivo de produzir a indignação moral necessária para por o grupo em movimento. Mas podem ser um desastre na criação de pontes com os que estão fora do coletivo, seja com os responsáveis por alterar o indesejável estado das coisas, seja com aqueles cuja solidariedade seria essencial para exercer pressão sobre os primeiros ou, ao menos, para que não fosse exercida pressão em sentido contrário ao que se reivindica. Aparentemente, quanto mais forte o capital social que torna o grupo compacto, mais fraco é o capital social que constrói conexões, que negocia reivindicações e capta benevolência. Assim, grupos compactos podem estar tão certos da justiça do que reivindicam e de tal modo imbuídos do furor moral contra injustiça que sofrem que frequentemente imaginam que podem conseguir satisfazer reivindicações “na marra”, sem persuasão ou negociação.
8. Manifestantes, da mesma maneira que atores de muitos outros setores da sociedade, não necessariamente possuem habilidades ou competências para lidar com os mediadores profissionais do jornalismo, embora precisem contar com esta mediação e lidar com ela para conseguir passar a sua mensagem aos seus destinatários. Produzir mensagens é uma coisa, garantir que ela seja entregue conforme a intenção de quem a produz é outra, bem diferente. Outros setores sociais resolveram isso contratando capacidade profissional de comunicadores (RP, assessores e consultores de comunicação e imagem, jornalistas, produtores, publicitários) para cuidar da própria visibilidade e da imagem e reputação que lhes convém na esfera de visibilidade pública monopolizada pelos campos profissionais e pelas indústrias da comunicação. Atores da sociedade civil, principalmente atores de mobilizações sociais que, portanto, são eventuais e não estáveis (diferentemente das organizações sociais), não contam com esta ajuda profissionalizada. Por desconhecer a mediação necessária do noticiário e achar que a mensagem saída “das ruas” chegará, “desintermediada”, a todos, o manifestante viverá sempre a grande frustração de não ver o que ele deseja manifestar refletido no jornal. Para ele, o jornalismo teria uma obrigação moral e uma capacidade ontológica de refletir as coisas e só não o faz porque veicula interesses políticos divergentes dos manifestantes. Acontece, porém, que o jornalismo não é um espelho onde os fatos, eventos e mensagens produzidas na realidade se refletem integralmente. A cobertura jornalística é uma produção de narrativas, estruturadas segundo critérios específicos, em que fatos são editados, mensagens são reorganizadas e recontextualizadas, discursos e imagens são agrupados e encaixados, tudo para satisfazer o consumidor modelo de informação daquele veículo. O jornalismo não é o entregador da mensagem das manifestações de rua. Não é, nem o pode ser. Todo fato ou mensagem hoje é mediado pelo jornalismo, não porque os jornalistas sejam perversos e monopolistas, mas porque é na cobertura do noticiário que as pessoas vão buscar as informações sobre os fatos do dia.
9. Grupos portadores de reivindicações que não conseguem ou não desejam construir pontes tendem a se transformar em coletivos agressivos contra todos os que estão fora deles e que lhes parece obstáculos. À medida que sentem que não estão sendo ouvidos pelo destinatário primário das suas reivindicações e/ou que a sua mensagem não está sendo refletida no noticiário, vão elevando a voz e radicalizando as atitudes, numa falsa esperança de que se gritar podem ser, enfim, ouvidos e atendidos. É normal a este ponto iniciar um processo de transformação do oposto em adversário e do adversário em inimigo. Formam-se, então, setores mais radicalizados dentro grupo, dispostos a partir para o confronto, e a causa vai sendo perdida – mesmo a causa mais justa não consegue prosperar quando passa a ser defendida e representada publicamente por grupos que são objetos de grande antipatia social.
10. Na “fase de inimizade”, o primeiro alvo são os que poderiam resolver a situação adversa que motivou a reivindicação, os destinatários primários da reivindicação, e tudo o que pareça a eles associados. Se estes destinatários são os políticos, o objeto imediato do confronto pode ser o espaço físico ocupado por eles, a polícia e as instituições públicas e financeiras que constituem o status quo político e econômico, numa escala crescente de inclusão de alvos. A segunda classe de alvos podem ser os mediadores profissionais das narrativas das manifestações – o jornalismo -, uma vez que não entregam a mensagem que os manifestantes produzem e que, segundo o raciocínio comum, não o fazem porque são adversários. A terceira classe de alvos é “o resto da sociedade”, que, segundo o raciocínio dos manifestantes, precisam de algum modo experimentar na própria carne a opressão e a frustração dos portadores de reivindicação. Trata-se da “socialização de transtornos” – se eu sofro, todos têm que sofrer para ver se alguma coisa muda. Isso cria, paradoxalmente, uma nova classe de pessoas afetadas por situações injustas ou indesejadas: os afetados por manifestações.
11. Manifestações eficientes são as que conseguem ter a sua mensagem entregue ao grande público e que, por esse meio, consegue persuadi-lo a apoiar o que reivindicam. Manifestações na escala massiva de participação, raras, tendem a ser forças incontroláveis na modificação de agendas e políticas e até na alteração de regulamentações, leis e demais formas de decisão política. Isso porque, de algum modo, o público em geral se sente representado pelo que se reivindica e não se sente ameaçado pela satisfação dos interesses manifestados. Manifestações na escala de multidões e grupos enfrentam maiores dificuldades porque há mais gente fora do que dentro do coletivo, de forma que enfrentam dificuldades suplementares para produzir uma mensagem que, primeiro, chegue ao público e, segundo, que o convença da justiça da causa defendida. Nesta escala, é preciso cuidar muito da forma da mensagem, dos vários destinatários a que ela se destina e, enfim, do modo como operam os mediadores que se colocam entre os manifestantes e o público em geral.
12. Em todo ciclo de manifestações de rua há que se levar em conta o fenômeno de psicologia social que podemos chamar de “fadiga de compaixão”. O público tem uma cota limitada de compaixão, de empatia na dor e no sofrimento dos outros e, portanto, de paixão moral para ser despendida com os eventos presentes no noticiário. Depois de certa duração e de determinada intensidade na solicitação dos seus sentimentos de compaixão, da sua paixão intelectual e moral, o público já não tem mais esses sentimentos disponíveis e vai precisar de um tempo “defeso”, de uma folga na demanda por piedade e engajamento. Neste período perde-se, inclusive, a capacidade de distinguir uma causa da outra, uma tragédia da outra, uma reivindicação da outra. É um período de insensibilidade, cuja velocidade de recuperação vai depender dos níveis de dispêndio de compaixão que o ciclo anterior de solicitação de empatia demandou. Desde junho acompanhando manifestações, aparentemente ninguém aguenta mais ver manifestações no telejornal da noite e o público já nem é capaz de claramente distinguir uma causa da outra, todas lhes parecem iguais e dramatizadas num nível histérico de fogo e quebra-quebra. O público brasileiro chegou a outubro precisando de uma folga.
* Wilson Gomes é Professor Titular de Teoria da Comunicação na Universidade Federal da Bahia e um dos coordenadores do Centro de Estudos Avançados em Democracia Digital (CEADD).
Foto: RD1 (http://rd1.ig.com.br/televisao/renan-calheiros-proibe-tv-senado-de-exibir-ao-vivo-manifestacoes-em-brasilia/187196)
Sem Juízo, por Marcelo Semer: ....juiz indefere liminar de reintegração de posse na USP....
Sem Juízo, por Marcelo Semer: ....juiz indefere liminar de reintegração de posse na USP....
"Outrossim, frise-se que nenhuma luta social que não cause qualquer transtorno, alteração da normalidade, não tem força de pressão e, portanto, sequer poderia se caracterizar como tal."
"Outrossim, frise-se que nenhuma luta social que não cause qualquer transtorno, alteração da normalidade, não tem força de pressão e, portanto, sequer poderia se caracterizar como tal."
domingo, 6 de outubro de 2013
“Monumento às Bandeiras homenageia aqueles que nos massacaram”, diz liderança indígena
Em carta, Marcos Tupã, coordenador da Comissão Guarani Yvyrupá, responde às críticas sobre a intervenção em escultura ao lado do Parque Ibirapuera, em São Paulo
Da Redação
Nesta semana, a obra do escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret recebeu tintas vermelhas, em um protesto realizado por índios do estado contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que retira do governo federal a autonomia da demarcação de terras, transferindo para o Congresso Nacional. O monumento, inaugurado em 1953, presta uma homenagem aos bandeirantes, responsáveis pelo assassinato de índios, nos séculos 17 e 18. Leia abaixo a carta de Marcos Tupã:
Monumento à resistência do povo guarani
Para nós, povos indígenas, a pintura não é uma agressão ao corpo, mas uma forma de transformá-lo. Nós, da Comissão Guarani Yvyrupa, organização política autônoma que articula o povo guarani no sul e sudeste do país, realizamos no último dia 02 de outubro, na Av. Paulista, a maior manifestação indígena que já ocorreu em São Paulo desde a Confederação dos Tamoios. Mais de quatro mil pessoas ocuparam a Av. Paulista, sendo cerca de quinhentas delas dos nossos parentes, outros duzentos de comunidades quilombolas e mais de três mil apoiadores não-indígenas, que viram a força e a beleza do nosso movimento. Muitos meios de comunicação, porém, preferiram noticiar nossa manifestação como se tivesse sido uma depredação de algo que os brancos consideram ser uma obra de arte e um patrimônio público.
Saindo da Av. Paulista, marchamos em direção a essa estátua de pedra, chamada de Monumento às Bandeiras, que homenageia aqueles que nos massacraram no passado. Lá subimos com nossas faixas, e hasteamos um pano vermelho que representa o sangue dos nossos antepassados, que foi derramado pelos bandeirantes, dos quais os brancos parecem ter tanto orgulho. Alguns apoiadores não-indígenas entenderam a força do nosso ato simbólico, e pintaram com tinta vermelha o monumento. Apesar da crítica de alguns, as imagens publicadas nos jornais falam por si só: com esse gesto, eles nos ajudaram a transformar o corpo dessa obra ao menos por um dia. Ela deixou de ser pedra e sangrou. Deixou de ser um monumento em homenagem aos genocidas que dizimaram nosso povo e transformou-se em um monumento à nossa resistência. Ocupado por nossos guerreiros xondaro, por nossas mulheres e crianças, esse novo monumento tornou viva a bonita e sofrida história de nosso povo, dando um grito a todos que queiram ouvir: que cesse de uma vez por todas o derramamento de sangue indígena no país! Foi apenas nesse momento que esta estátua tornou-se um verdadeiro patrimônio público, pois deixou de servir apenas ao simbolismo colonizador das elites para dar voz a nós indígenas, que somos a parcela originária da sociedade brasileira. Foi com a mesma intensão simbólica que travamos na semana passada a Rodovia dos Bandeirantes, que além de ter impactado nossa Terra Indígena no Jaraguá, ainda leva o nome dos assassinos.
A tinta vermelha que para alguns de vocês é depredação já foi limpa e o monumento já voltou a pintar como heróis, os genocidas do nosso povo. Infelizmente, porém, sabemos que os massacres que ocorreram no passado contra nosso povo e que continuam a ocorrer no presente não terminaram com esse ato simbólico e não irão cessar tão logo. Nossos parentes continuam esquecidos na beira das estradas no Rio Grande do Sul. No Mato Grosso do Sul e no Oeste do Paraná continuam sendo cotidianamente ameaçados e assassinados a mando de políticos ruralistas que, com a conivência silenciosa do Estado, roubam as terras e a dignidade dos que sobreviveram aos ataques dos bandeirantes. Também em São Paulo esse massacre continua, e perto de vocês, vivemos confinados em terras minúsculas, sem condições mínimas de sobrevivência. Isso sim é vandalismo.
Ficamos muito tristes com a reação de alguns que acham que a homenagem a esses genocidas é uma obra de arte, e que vale mais que as nossas vidas. Como pode essa estátua ser considerada patrimônio de todos, se homenageia o genocídio daqueles que fazem parte da sociedade brasileira e de sua vida pública? Que tipo de sociedade realiza tributos a genocidas diante de seus sobreviventes? Apenas aquelas que continuam a praticá-lo no presente. Esse monumento para nós representa a morte. E para nós, arte é a outra coisa. Ela não serve para contemplar pedras, mas para transformar corpos e espíritos. Para nós, arte é o corpo transformado em vida e liberdade e foi isso que se realizou nessa intervenção.
Aguyjevete pra todos que lutam!
Marcos dos Santos Tupã, 43, é liderança indígena e Coordenador Tenondé da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY).
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Nós dizemos revolução_ Beatriz Preciado
Por Beatriz Preciado | Trad.: Bárbara Szaniecki
Parece que os gurus da velha Europa se obstinam ultimamente a querer explicar aos ativistas dos movimentos Occupy, Indignados, handi-trans-gays-lésbicas-intersex e postporn que não poderemos fazer a revolução porque não temos uma ideologia. Eles dizem “uma ideologia” como minha mãe dizia “um marido”. Pois bem, não precisamos nem de ideologia nem de marido. As novas feministas, não precisamos de marido porque não somos mulheres. Assim como não precisamos de ideologia porque não somos um povo. Nem comunismo nem liberalismo. Nem o refrão católico-muçulmuno-judeu. Falamos uma outra linguagem. Eles dizem representação. Nós dizemos experimentação. Eles dizem identidade. Nós dizemos multidão. Eles dizem controlar a periferia. Nós dizemos mestiçar a cidade. Eles dizem dívida. Nós dizemos cooperação sexual e interdependência somática. Eles dizem capital humano. Nós dizemos aliança multi-espécies. Eles dizem carne de cavalo nos nossos pratos. Nós dizemos montemos nos cavalos para fugir juntos do abatedouro global. Eles dizem poder. Nós dizemos potência. Eles dizem integração. Nós dizemos código aberto. Eles dizem homem-mulher, Branco-Negro, humano-animal, homossexual-heterossexual, Israel-Palestina. Nós dizemos você sabe que teu aparelho de produção de verdade já não funciona mais… Quanto de Galileu precisaremos desta vez para re-aprender a nomear as coisas, nós mesmos? Eles nos fazem a guerra econômica a golpe de facão digital neo-liberal. Mas nós não choraremos a morte do Estado-providência, porque o Estado-providência era também o hospital psiquiátrico, o centro de inserção das pessoas com deficiência, a prisão, a escola patriarcal-colonial-heterocentrada. Está na hora de pôr Foucault na dieta handi-queer e de escrever a morte da Clínica. Está na hora de convidar Marx para um ateliê eco-sexual. Não vamos adotar o estado disciplinar contra o mercado neoliberal. Esses dois já travaram um acordo: na nova Europa, o mercado é a única razão governamental, o Estado se tornou o braço punitivo cuja única função será aquela de re-criar a ficção da identidade nacional por meio do medo securitário. Nós não desejamos nos definir como trabalhadores cognitivos nem como consumidores farmacopornográficos. Nós não somos Facebook, nem Shell, nem Nestlé, nem Pfizer-Wyeth. Não desejamos produzir francês, e tampouco europeu. Não desejamos produzir. Nós somos a rede viva decentralizada. Nós recusamos uma cidadania definida por nossa força de produção ou nossa força de reprodução. Nós queremos uma cidadania total definida pelo compartilhamento das técnicas, dos fluidos, das sementes, da água, dos saberes… Eles dizem que a guerra limpa se fará com drones. Nós queremos fazer amor com os drones. Nossa insurreição é a paz, o afeto total. Eles dizem crise, nós dizemos revolução.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
terça-feira, 1 de outubro de 2013
"...Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão..."
"... Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo... "
"...O homem como um ser inconcluso, consciente de sua inconclusão, e seu permanente movimento de busca do ser mais..."
( Pedagogia do oprimido - Paulo Freire, 1970 )
"... Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo... "
"...O homem como um ser inconcluso, consciente de sua inconclusão, e seu permanente movimento de busca do ser mais..."
( Pedagogia do oprimido - Paulo Freire, 1970 )
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