terça-feira, 27 de agosto de 2013

Fora do Eixo ou trabalho colaborativo? | Brasil de Fato

Fora do Eixo ou trabalho colaborativo? | Brasil de Fato


Márcio Boaro

Existe uma entrevista de Lula no início dos anos de 1980 onde um dos entrevistadores pergunta a ele se uma determinada pessoa ligada à esquerda e com grande renome na política nacional poderia ingressar no Partido dos Trabalhadores. A resposta de Lula foi que sim, era só a pessoa procurar o núcleo do partido mais próximo de sua casa, se filiar e iniciar a militância por este lugar.
Em sua resposta Lula deixou claro que qualquer brasileiro poderia vir a ser um dirigente do PT desde que fosse a partir da base. Os anos passaram, o partido mudou e, após a derrota de 1994, optou por alianças em um campo político mais à direita.
No início do governo Lula, o partido tinha 22 anos e havia se formado pela ação de diversas forças concorrentes. Existia uma grande expectativa sobre o Ministério da Cultura, e desde o primeiro momento foram criadas iniciativas importantes, mas não obrigatoriamente coordenadas, iniciativas que, de certa forma, representavam as forças internas do partido. Entre muitos exemplos, podemos falar das conferências de cultura ouvindo a população sobre sua produção cultural, Pontos de Cultura e a Economia Criativa.
Em 2005, estas forças já estavam em debate quando surge o Fora do Eixo. Sem exagero, podemos dizer que ele é fruto das políticas do MinC. Senão diretamente, indiretamente surgiu pelas ideias sobre produção cultural que circulavam pelo país. Afinal, é uma rede (como a Teia dos Pontos de Cultura) que tem uma proposta criativa de produzir cultura de forma “sustentável” (como é o indicativo dos partidários da Economia Criativa). Radicalizaram as políticas ligadas ao mercado com a criação de uma empresa com atuação agressiva, que tem a criatividade e as atividades artísticas como motor, mas esquecendo o restante das políticas do MinC que buscam a democratização.
O Fora do Eixo tem uma identidade política confusa: se diz apartidário, tem uma perspectiva de trabalhar coletivamente, mas está ligado somente ao mercado. Se apropria dos meios de produção e aliena os trabalhadores de forma mais violenta que os empresários: retira da pessoa a identificação com o trabalho e até os direitos básicos do trabalhador. A pessoa que “colabora” não tem seu trabalho reconhecido nem como criador, nem como trabalhador remunerado.
Por utilizarem a maioria dos vernáculos da modernidade e utilizarem a tecnologia, se acham modernos, mas esta “rede” não tem nada de moderna: se assemelha mais a uma estrutura feudal, onde os integrantes das pontas são lacaios, sem direito algum, os intermediários vassalos submissos dos senhores feudais que montaram a rede. Não é exagero. Se esquecermos as conquistas dos trabalhadores, voltamos para a idade média, mesmo usando um “Mac Pro”. Para melhor disfarçar seu caráter de exploração de mão de obra escrava, usa as ideias de "militância" e de "trabalho voluntário no coletivo".
Existe um outro modelo que podemos comparar com o Fora do Eixo. Há mais de 30 anos os grupos de artes cênicas se organizam por todo o país em “coletivos de coletivos”, ou seja, cooperativas, federações de grupos.
As formas de trabalho dos grupos podem diferir em detalhes, mas de modo geral trabalham de forma colaborativa onde as pessoas participam ativamente do processo criador e têm voz para opinar sobre as produções. Na maioria dos casos, tendem a um trabalho a longo prazo.
No caso das organizações que unem diversos grupos, a democracia interna dos grupos é continuada, é comum os votos serem por grupos. São milhares de grupos, que têm mais semelhanças do que diferenças, nos quais o indivíduo recebe pouco (porque as verbas são escassas), mas tem seu trabalho reconhecido.
Talvez por esta organização das artes cênicas, o Fora do Eixo não tem grande expressão neste segmento, da mesma forma que não conseguiu se estruturar na música (o seu campo de ação mais “forte”) em Pernambuco.
Estes grupos, apesar de organizados e de serem uma força criativa expressiva, no geral tem pouco apoio, mas um exemplo a ser seguido são os programas de fomento da cidade de São Paulo, iniciados com o Fomento ao Teatro, e continuando com o Fomento à Dança.
Com centenas de grupos beneficiados, são milhares de pessoas que trabalham e levam uma produção diferenciada para cidade toda, além de um exercício contínuo no desenvolvimento de diversas formas e de linguagem. Ou seja, existem formas de fazer acontecer uma produção cultural coletiva em que as pessoas mantenham seus direitos e sua dignidade.

Márcio Boaro é diretor da Cia. Ocamorana.

MANIFESTO | Fora do Eixo e uma reflexão das mulheres contra o patriarcalismo | Frente Feminista pela Cultura

MANIFESTO | Fora do Eixo e uma reflexão das mulheres contra o patriarcalismo | Frente Feminista pela Cultura

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Vereadora "sexy demais" é impedida de tomar posse no Irã - Pragmatismo Político

Vereadora "sexy demais" é impedida de tomar posse no Irã - Pragmatismo Político
Ser “sexy demais” foi o que impediu uma engenheira e designer de websites de 27 anos de tomar possecomo vereadora na cidade de Qazvin, no Irã, a antiga capital do Império Persa. A informação foi dada pelo periódico britânico The Times na última semana.
A despeito das promessas do novo presidente do Irã, Hassan Rohani, de que os direitos civis femininos vão melhorar em seu governo, Nina Siakhali Moradi foi barrada de seu posto por conservadores islâmicos, que anularam sua eleição ignorando os mais de 10 mil votos que a colocaram em 14º lugar entre os 163 candidatos.
“Nós não queremos uma modelo de passarela na Câmara”, disse uma autoridade de Qazvin à imprensa local. Utilizando o slogan “Idéias jovens para um futuro jovem”, Nina defendia mais direitos para as mulheres na cidade, a restauração dos edifícios antigos e maior participação dos jovens no planejamento urbanístico. Sua candidatura havia sido analisada e aprovada pelo Judiciário iraniano.

O analfabeto midiático

O analfabeto midiático
O pior analfabeto é o analfabeto midiático.
Ele ouve e assimila sem questionar, fala e repete o que ouviu, não participa dos acontecimentos políticos, aliás, abomina a política, mas usa as redes sociais com ganas e ânsias de quem veio para justiçar o mundo. Prega ideias preconceituosas e discriminatórias, e interpreta os fatos com a ingenuidade de quem não sabe quem o manipula. Nas passeatas e na internet, pede liberdade de expressão, mas censura e ataca quem defende bandeiras políticas. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. E que elas – na era da informação instantânea de massa – são muito influenciadas pela manipulação midiática dos fatos. Não vê a pressão de jornalistas e colunistas na mídia impressa, em emissoras de rádio e tevê – que também estão presentes na internet – a anunciar catástrofes diárias na contramão do que apontam as estatísticas mais confiáveis. Avanços significativos são desprezados e pequenos deslizes são tratados como se fossem enormes escândalos. O objetivo é desestabilizar e impedir que políticas públicas de sucesso possam ameaçar os lucros da iniciativa privada. O mesmo tratamento não se aplica a determinados partidos políticos e a corruptos que ajudam a manter a enorme desigualdade social no país.
Questões iguais ou semelhantes são tratadas de forma distinta pela mídia. Aula prática: prestar atenção como a mídia conduz o noticiário sobre o escabroso caso que veio à tona com as informações da alemã Siemens. Não houve nenhuma indignação dos principais colunistas, nenhum editorial contundente. A principal emissora de TV do país calou-se por duas semanas após matéria de capa da revista IstoÉ denunciando o esquema de superfaturar trens e metrôs em 30%.
O analfabeto midiático é tão burro que se orgulha e estufa o peito para dizer que viu/ouviu a informação no Jornal Nacional e leu na Veja, por exemplo. Ele não entende como é produzida cada notícia: como se escolhem as pautas e as fontes, sabendo antecipadamente como cada uma delas vai se pronunciar. Não desconfia que, em muitas tevês, revistas e jornais, a notícia já sai quase pronta da redação, bastando ouvir as pessoas que vão confirmar o que o jornalista, o editor e, principalmente, o “dono da voz” (obrigado, Chico Buarque!) quer como a verdade dos fatos. Para isso as notícias se apoiam, às vezes, em fotos e imagens. Dizem que “uma foto vale mais que mil palavras”. Não é tão simples (Millôr, ironicamente, contra-argumentou: “então diga isto com uma imagem”). Fotos e imagens também são construções, a partir de um determinado olhar. Também as imagens podem ser manipuladas e editadas “ao gosto do freguês”. Há uma infinidade de exemplos. Usaram-se imagens para provar que o Iraque possuía depósitos de armas químicas que nunca foram encontrados. A irresponsabilidade e a falta de independência da mídia norte-americana ajudaram a convencer a opinião pública, e mais uma guerra com milhares de inocentes mortos foi deflagrada.
O analfabeto midiático não percebe que o enfoque pode ser uma escolha construída para chegar a conclusões que seriam diferentes se outras fontes fossem contatadas ou os jornalistas narrassem os fatos de outro ponto de vista. O analfabeto midiático imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo de esforço intelectual. Não se apoia na filosofia, na sociologia, na história, na antropologia, nas ciências política e econômica – para não estender demais os campos do conhecimento – para compreender minimamente a complexidade dos fatos. Sua mente não absorve tanta informação e ele prefere acreditar em “especialistas” e veículos de comunicação comprometidos com interesses de poderosos grupos políticos e econômicos. Lê pouquíssimo, geralmente “best-sellers” e livros de autoajuda. Tem certeza de que o que lê, ouve e vê é o suficiente, e corresponde à realidade. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o espoliador das empresas nacionais e multinacionais.”
O analfabeto midiático gosta de criticar os políticos corruptos e não entende que eles são uma extensão do capital, tão necessários para aumentar fortunas e concentrar a renda. Por isso recebem todo o apoio financeiro para serem eleitos. E, depois, contribuem para drenar o dinheiro do Estado para uma parcela da iniciativa privada e para os bolsos de uma elite que se especializou em roubar o dinheiro público. Assim, por vias tortas, só sabe enxergar o político corrupto sem nunca identificar o empresário corruptor, o detentor do grande capital, que aprisiona os governos, com a enorme contribuição da mídia, para adotar políticas que privilegiam os mais ricos e mantenham à margem as populações mais pobres. Em resumo: destroem a democracia.
Para o analfabeto midiático, Brecht teria, ainda, uma última observação a fazer: Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

"É a luta que constitui o amor" | Páginas Azuis | O POVO Online

"É a luta que constitui o amor" | Páginas Azuis | O POVO Online
Cientista político e professor da UFRJ aponta que as manifestações de rua estão num momento intermediário entre a explosão inicial de junho e a constituição de uma nova ordem das coisas
Na avaliação do italiano Giuseppe Cocco, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as manifestações de rua, deflagradas em todo o País a partir de junho, são a primeira greve geral metropolitana. Para entender o argumento, apresentado em palestra no Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (Adufc), em julho, é preciso atentar para o estopim das passeatas. 
Açuladas pelo aumento das passagens nos transportes urbanos, elas acabaram se voltando para outras questões – tanto estruturais quanto conjunturais. A ideia do professor é de que, com a economia muito mais voltada aos serviços que à indústria, o transporte é elemento essencial para estar inserido social, econômica e culturalmente nas cidades. Dentro disso, as manifestações são “a face mais selvagem” dos dois governos Lula. Explodem pelas mãos da nova classe média, que agora exige mais dos governantes, e põem ao PT um problema que a presidente Dilma, segundo Cocco, não tem sabido resolver.

Partindo desse contexto, ele afirma que os protestos questionam nossa democracia, estão num momento de inflexão entre a destruição das velhas ordens e a constituição de uma nova e são uma radicalização democrática, cheia de um dissenso que não deve ser unificado, mas, ao contrário, compreendido.

Cocco analisa os Pontos de Cultura como uma iniciativa importante de auto-organização popular da multidão, afirma que não existe “vandalismo” senão “aquele do poder” e crava: “Essa violência é a construção da paz”.

O POVO - O que as manifestações dizem a respeito da nossa democracia?
Giuseppe Cocco - Podemos abrir a reflexão sobre o tema da democracia em várias direções. Por um lado, a repressão determina uma maior mobilização - inclusive uma mobilização radical. Todas essas manifestações tinham uma participação de jovens mais ou menos determinados ao confronto, claramente inspirados por um certo tipo de exasperação com relação às mudanças, ao fato de que mudanças são colocadas a longo prazo, de que há que esperar, mas também com inspiração pelo que aconteceu nas Revoluções Árabes e em Istambul. E, nessas mobilizações, os setores jovens, desorganizados ou não tradicionais, indo para o enfrentamento e dizendo que isso não é uma verdadeira democracia. O que é verdade. Mesmo que, inicialmente, a maioria dos manifestantes fosse do movimento estudantil, de classe média metropolitana, rapidamente houve uma mobilização de jovens da periferia que também têm acesso à universidade, mas pelas políticas de inclusão do governo (Prouni, Reuni, expansão do ensino técnico...), que entraram nessa brecha criticando a democracia e praticando uma outra democracia. Democracia é essa possibilidade do conflito, do conflito acontecer, de dizer: “Eu quero ir até o estádio. Se o pessoal faz uma barreira para que eu fique a quatro quilômetros para ninguém ver, eu vou fazer de uma maneira que todo mundo veja. Eu quero contestar”. É uma prática da democracia que a preenche com outro conteúdo, onde os conflitos possam acontecer e não sejam governados como eles são governados agora. Porém nossa democracia é bipolar, é uma grande conciliação entre os partidos, uma dinâmica que faz os governos todos iguais com pequenas nuances; por outro lado, a regulação dos pobres continua sendo ultraviolenta, baseada no poder de exceção de uma polícia que pode matar pobre quando quiser. Esse movimento, para além do tipo de política da mobilização, abriu uma brecha, colocando a democracia num terreno mais material e dando novo conteúdo.

OP - Que indícios as manifestações dão do que pode ser essa nova democracia que se almeja?
Cocco - Com certeza, as manifestações que continuam apontam para um outro horizonte, que é de radicalização democrática. A democracia não é a pacificação no sentido do medo e da harmonia como necessário terreno de escamoteamento da luta de classes, da luta entre interesses diferentes. A democracia é o espaço onde essa luta possa acontecer sem que signifique uma violência generalizada ou o retorno ao totalitarismo. O paradoxo da esquerda de poder e de setores da esquerda que achavam que estavam com o movimento foi de dizer que as mobilizações eram fascistas – quando, na verdade, é a postura do estado diante disso. Depois dessa fase formidável de manifestações maciças, o movimento passa por uma fase de difusão, que pode ser um refluxo, como em São Paulo que já não acontece quase mais nada, ou pode ser uma difusão com uma outra respiração, a experimentação de outros movimentos. Para efetivamente essa radicalização democrática passar do momento insurrecional, que é destituinte, ao momento instituinte, ela precisa encontrar espaços, medidas, métricas adequadas.

OP - O senhor acha que estamos nesse estágio?
Cocco - Sim. Estamos nessa inflexão. As ocupações que pipocaram em Câmaras e Assembleias Legislativas são os primeiros momentos nesse sentido. Houve em Porto Alegre, em Belo Horizonte, no Espírito Santo, em Belém. Depois houve uma multiplicação de assembleias populares, plenárias. No Rio de Janeiro, está cheio. Ninguém sabe quantas reuniões estão efetivamente acontecendo. Pode também ser que nessa inflexão o movimento vá se diluindo e refluindo.

OP - Qual a diferença entre essas reuniões agora e as reuniões que sempre aconteceram nas periferias das cidades, com os movimentos sociais?
Cocco - A diferença é enorme. Em primeiro lugar, esse movimento não vem do nada. Há várias gerações de militantes, de organizações que no movimento se juntaram. Mas foi o terreno de uma transformação antropológica que levou muita gente a acreditar nas mobilizações, em si mesmos, no uso das redes. As características são que as mobilizações têm muita gente, quando antes você tinha apenas os segmentos organizados - mesmo das margens como MST, Sem Teto, Terceiro Setor -; eram sempre essas redes que multiplicavam os momentos de resistência, mas não conseguiam massificar. O momento eleitoral partidário, das grandes organizações sindicais, prevalecia com um quadro de desvalorização, cooptação e repressão de mobilizações pequenas. Mesmo as mobilizações descentralizadas, têm hoje 300 ou 400 pessoas. Há uma grande determinação de participação, uma geração completamente nova. Isso significa que a crise da representação não é apenas do governo, mas de todas as formas organizadas. Inclusive MST etc. Não é que sejam contestados diretamente, mas eles ficaram completamente deslocados diante dessa prática.

OP - Então, como conjugar ideias tão antagônicas a respeito, por exemplo, de economia, política, direitos humanos?
Cocco - O verdadeiro problema é que, para lidar com isso ou pensar essa dinâmica do destituinte ao instituinte, é preciso - o que não é fácil, a reação automática dos partidos e do governo é o contrário - renunciar inicialmente a querer conjugar isso. A característica desse movimento de multidão é que ele não se unifica. A verdadeira política adequada diante disso seria se abrir e se deixar atravessar por um movimento de multiplicidade de iniciativa. Nenhum partido, nem de extrema esquerda, teria condição de fazer, porque, por definição, eles têm um modo de funcionamento unificado, sintetizado. Francamente, se eu estivesse no governo, também não saberia como fazer. Mas há horizontes que a gente poderia definir como horizontes possíveis.

OP - Quais?
Cocco - O governo federal, que tem mais condições, poderia, embora já tenha passado o tempo, ter enxergado nesse movimento uma guinada para a esquerda e ter feito uma reforma ministerial que teria sido uma reforma em termos de comunicação, simbólica, mas que marcasse essa abertura. Por exemplo, colocando nos Direitos Humanos uma figura reconhecida por sua história e sua prática, construindo o ministério da Cidade e do Transporte juntos, colocando uma figura reconhecida do movimento da reforma urbana, reorganizando também o ministério da Cultura. Esses três momentos teriam sido fundamentais. O PT não tem essa capacidade, essa lucidez. A presidente Dilma, ainda menos. A coisa curiosa é que o governo Lula teve experiência de política da multidão, da multiplicidade, que foi destruída pela Dilma. Ela não deu a menor bola. Para ela, o problema é a megabarragem. A política dos Pontos de Cultura é o exemplo da política da multidão. Você usa o recurso público, dobrando ele ao reconhecimento das dinâmicas de auto-organização que existem na sociedade.

OP - Qual o lugar da violência e do enfrentamento nas manifestações?
Cocco - A violência é um terreno de organização do poder e organização do poder em torno de algo bem específico que é o medo. Um país como o Brasil não se sustenta sem a produção e reprodução sistemática do medo. O nível de desigualdade, de injustiça, de miséria que caracteriza todas as cidades brasileiras só se sustenta porque o poder é organizado em torno do medo. Não é por acaso que, nas cidades como o Rio de Janeiro, tenha uma tropa de elite que tem como símbolo a caveira, quer dizer, a morte. Essas manifestações tinham patamar diferente, uma determinação de não ser rituais. Um dos mecanismos da massificação foi que, desde o início, elas continham um elemento de radicalidade que implicava no fato de dizer: “Nós não vamos nos manifestar de maneira ritual. Vamos marcar nossa presença inclusive enfrentando as limitações que o estado nos impõe e eventualmente atacando alguns símbolos do poder”. Isso pegou.

OP – Como o senhor entende o que se convencionou chamar de “vandalismo”?
Cocco – Acho que a gente deve desconstruir o termo. Não existe nenhum vandalismo a não ser aquele do poder. Por exemplo, que sentido faz falar de vandalismo em São Paulo depois de tudo o que aconteceu com aquelas centenas de mortos ligados ao enfrentamento entre a PM e os comandos da criminalidade organizada, as chacinas que aconteciam em toda a cidade? O termo vandalismo é a hipocrisia mais total de uma mídia que não se olha no espelho. O vandalismo aqui é uma pura invenção midiática. No Rio de Janeiro, por exemplo, quando a gente fala do que é a gestão (do governador) Sérgio Cabral, (do prefeito) Eduardo Paes e (do ex-prefeito) César Maia, podemos fazer uma lista de 10 ou mais grandes investimentos, cada um deles mais ou menos bilionário, jogados no lixo. Uma ou duas vitrines, um mobiliário urbano quebrado é menos do que nada diante da Cidade da Música, construída por César Maia, que custou pelo menos meio bilhão e está fechada há mais de quatro anos. Está lá, enorme, gigantesca, no meio de um mar de favelas no meio da Barra da Tijuca, perto da Cidade de Deus. Algumas lojas quebradas por aqueles da Cidade de Deus não é nada diante desse meio bilhão que não tem nenhum uso. O Maracanã foi refeito em 2007, refeito agora e, depois da Copa do Mundo, será refeito de novo para a Olimpíada. É uma festa vandálica. Os vândalos estão no poder. Foram os garotos que deram a essas manifestações e continuam dando uma característica não ritual ou vazia como de uma procissão, que repete uma liturgia para que os dirigentes continuem nos seus negócios. Isso deu a esse movimento a sua dinâmica e caracterização inovadoras.

OP - Há um investimento dos próprios corpos dos manifestantes no enfrentamento...
Cocco - Sim. Enquanto enfrentam a radicalização da polícia para que a manifestação não seja limitada, ritualizada, esvaziada, defendem a manifestação com o próprio corpo, e a política da multidão aparece como a política dos corpos. Não mais a política dos números das estatísticas eleitorais. Coisa que não entra na cabeça da Dilma e do PT, que continuam a perguntar para os marqueteiros. Esse movimento destrói todas as funções matemáticas e estatísticas usadas pelo marketing, pelos economistas. Porque os corpos não são números. Eles interagem segundo outra dinâmica. Podemos usar a metáfora do amor, o amor que tem nessas lutas. “Existe amor” não é um decreto, mas uma constituição que passa pela luta. É a luta que constitui o amor.

OP - O que a “multidão” ensina para o “povo”?
Cocco - O povo não existe mais enquanto povo, mas enquanto fragmento. O outro lado dessa existência do povo enquanto fragmento - que o Brasil conhece por causa do subdesenvolvimento - reaparece na forma da constituição do fazer-se da multidão. Esse fazer escamoteia a problemática do povo. A multidão não é povo. A violência da multidão é uma violência de resistência e revide. Se, por um lado, tem uma determinação da radicalização para que a manifestação não seja ritual, por outro, o comportamento desse grupo mais radical, muitas vezes da periferia, sem nenhuma centralização, funciona como um enxame. Eles ficam lá, se juntam, se espalham. A prática da violência deles é defensiva.Há imagens incríveis desse enxame de jovens indo para cima com tapumes, barra de ferro, pedras contra o caveirão, até andando em cima do caveirão. Por que podem fazer isso? Esses, que vão para cima, conhecem esse caveirão que mata todo dia na favela. Porque, na avenida, ele tinha condição de fazer isso sem que o caveirão matasse. É um ódio contra a polícia assassina; é também a destruição do medo e a construção de uma verdadeira paz. Não há paz com medo. A paz é dos cidadãos que não têm medo. Essa violência é a construção da paz.

OP - Como o senhor entende a relação entre a crise de representatividade que atinge os partidos políticos e o ódio à imprensa, com carros de reportagens queimados e hostilização a repórteres? As duas coisas fazem parte do mesmo movimento?
Cocco - Em primeiro lugar, a mídia só conseguiu ficar nessas manifestações descaracterizada. Por isso levou muita bala de borracha. Houve muitos jornalistas feridos. A esquerda e o PT diziam que era um movimento manipulado pela grande mídia de direita. Quando os manifestantes atacam a Rede Globo, como aconteceu no Leblon, dizem que são infiltrados, vândalos. Eles choram por causa da campanha midiática do mensalão, mas não conseguem enxergar o fato de que a multidão é profundamente inimiga da mídia e identifica diretamente a mídia com todo o sistema do poder e do estado. Se existe uma recusa dos partidos nessas manifestações, existe um ódio pela polícia, pelo estado, que é equivalente ao ódio pela mídia. A questão dos partidos é porque os movimentos são irrepresentáveis. Se o partido pretende se impor, porque pensa que ele tem uma bandeira limpa como o caso da esquerda de oposição, da extrema esquerda, como o PSTU, ele é visto como uma imposição. Se ele se impõe, é visto ainda pior - como foi o caso dos sindicatos. A recusa das bandeiras de fora não significa recusa de forma de organização e constituição. A fase pela qual passa o movimento nesse momento é o de dizer: “Bom, uma vez que a gente contesta sistematicamente todas as formas de organização, como é que a gente se organiza?”. Ninguém sabe como.

OP - Na época do lançamento de Mundobraz, o senhor afirmou: “A crise está aberta, ela pode ser uma perspectiva de construção de outros valores. Esse horizonte está na possibilidade de construir (...) uma esfera do comum”. As manifestações estão construindo essa esfera do comum?
Cocco - Ainda não. Elas indicam uma esfera que não é bem aquela estatal, nem aquela do mercado. São profundamente antiestatais, contra representação; e profundamente contra o mercado, contra o capitalismo. Esse movimento tira a roupa de todo mundo. Todo mundo fica nu, falando um monte de besteira. Mas acho que indica para esse terreno da constituição do comum. Só o movimento inventa, só a luta ensina. Esse movimento transmuta todos os valores. Antes do movimento, isso que eu dizia passava na indiferença, como um fato folclórico, interessante, no regime da produção artística. Agora dá para dizer: “Está lá”. Mesmo que o movimento possa passar agora por um refluxo total, é um evento único que abre todos os horizontes do possível.
 

domingo, 4 de agosto de 2013

Exclusão pela distância e a negação da cidade - Revista Fórum | Revista Fórum

Exclusão pela distância e a negação da cidade - Revista Fórum | Revista Fórum
O artigo de Fernando Luiz Lara trata de condomínios fechados e sua proposta de negação da cidade tradicional, mas faz a necessária ligação do tema com os protestos pelo passe livre que tomaram as ruas desde a primeira semana de junho
Por Fernando Luiz Lara
Esta matéria está na edição 124 da revista Fórum.
Isso porque a lógica que promove e lucra com os condomínios fechados é a mesma lógica que condena grande parte dos brasileiros a um transporte ineficiente e caro durante horas e horas a cada dia: a lógica da exclusão pela distância.
Da chegada dos portugueses até os anos 1970 do século passado, essa lógica funcionava com uma direção única que ditava que quanto mais perto do centro (onde sempre esteve concentrada a melhor infraestrutura) mais caro.  Durante séculos, os mais pobres foram empurrados para a periferia das cidades, onde a terra era mais barata, ou para os morros e áreas inundáveis, que por isso mesmo não tinham valor, ainda que perto do centro.  A verticalização induzida (e por isso mesmo precoce) que ocorreu no Rio e em São Paulo desde os anos 1940 – Copacabana e Higienópolis por exemplo – foi uma forma encontrada de se criar espaços caros ainda perto dos centros das respectivas cidades onde tudo ainda acontecia. O crescimento da indústria automobilística no Brasil dos anos 1950 começa a mudar esse quadro e a possibilitar uma incipiente suburbanização de modelo norte-americano, do qual o Morumbi e São Conrado são os exemplos clássicos.
A partir dos anos 1970, a construção de rodovias do “primeiro PAC”, chamado à época de milagre brasileiro, facilitou a construção dos primeiros condomínios fechados, dos quais o Alphaville de Barueri é o mais famoso.  Interessante perceber que a proposta dos condomínios fechados se baseia na ideia de “volta à natureza” ou de uma forma de morar mais idílica, mais pastoral mesmo. Essa ideia tem suas raízes no modelo anglo-saxão, segundo o qual a natureza purifica enquanto a cidade perverte. No modelo mediterrâneo, cidade e natureza são duas entidades completamente separadas e a civilização reside no urbano, nunca no campo.
Uma contradição fundamental está no fato de que os condomínios fechados são, na realidade, uma ameaça à natureza. O avanço sobre as áreas periféricas remove a cobertura vegetal natural e expande as fronteiras do espaço habitável, levando asfalto, rede elétrica e grama onde antes havia cerrado ou mata atlântica. O trabalho da professora Regina Horta Duarte da UFMG (DUARTE, 2012) mostra bem esse processo ainda no seu início nos anos 50.
Mais recentemente os condomínios fechados brasileiros adotaram o discurso do New Urbanism norte-americano. Nascido como reação ao processo de suburbanização dos EUA o New Urbanism propunha cidades mais densas, menos dependentes do automóvel e com uso múltiplo (comércio e moradia juntos). No fiel da balança o New Urbanism acabou adotando uma estética conservadora (LARA, 2001) e fez sucesso com loteamentos exclusivos e homogêneos do ponto de vista sócioeconômico. A lógica da exclusão pela distância nunca foi ameaçada pelo New Urbanism, e por consequência ele nunca serviu para melhorar as cidades existentes.
Inebriados da ideia de que a cidade é o espaço da pobreza e dos protestos, a classe média alta dos EUA nos anos 1960/1970 e do Brasil nos anos 1980/1990 abandona os centros urbanos com toda sua infraestrutura e se refugia nos condomínios fechados.  No caso brasileiro existe um agravante pelo fato de que tais condomínios são menos densos, mais dependentes do automóvel e absolutamente residenciais, o oposto perfeito da proposta do New Urbanism. Mas a estética conservadora e a ideia de retorno a um passado idílico é o que vende (LARA, 2011), além, é claro, da dificuldade de acesso que se traduz na palavra mágica: Exclusividade.
A exclusividade é a irmã palatável (e por isso vendável) da palavra exclusão. A distância que separa os condomínios fechados do resto da cidade é uma forma de muro invisível que garante a não diversidade de cada gleba.
Uso aqui a palavra gleba porque ela, a terra, está na raiz de todo esse processo de exclusão que vamos desmontando a duras penas, entre balas de borracha e gás lacrimogêneo como nos dias 13 e 17 de junho de 2013. Isso porque a revolução  do passe livre seria um passo importantíssimo para desmontar ou ao menos amenizar a lógica perversa da exclusão espacial. Com transporte público gratuito ou verdadeiramente subsidiado, a balança do preço da terra iria se mover fortemente para o lado da periferia. Essa é a chave da questão a ser resolvida no futuro próximo, e eu que achava que a Copa do Mundo não nos deixaria legado algum percebo que estava enganado. Os protestos são o maior legado da Copa de 2014. 
Esta matéria está na edição 124 da revista Fórum.
Fernando Luiz Lara é arquiteto e professor associado da University of Texas at Austin, onde dirige atualmente o Brazil Center no Lozano Long Institute of Latin American Studies.
DUARTE, Regina H. (2012). “It Does Not Even Seem Like We Are in Brazil”: Country Clubs and Gated Communities in Belo Horizonte, Brazil, 1951–1964, Journal of Latin American Studies / Volume 44 / Issue 03 / August 2012, p. 435-466.
LARA, Fernando (2001). Vizinhos do Pateta. Arquitextos, São Paulo, 01.011, Vitruvius, abr 2001 01.011/899>.
LARA, Fernando (2011). New (Sub)Urbanism and Old Inequalities in Brazilian Gated Communities, Journal of Urban Design, Volume 16, Issue 03, p. 369-380.
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“Não há violência no Black Bloc. Há performance” — CartaCapital

“Não há violência no Black Bloc. Há performance” — CartaCapital
Manifestante anarquista, que participou das ações diretas em São Paulo, fala com CartaCapital sobre os protestos e a depredação de bancos e concessionárias
por Willian Vieira e Piero Locatelli — publicado 02/08/2013 09:07  
Quebrar bancos não é violência, é performance. Esta é opinião de uma manifestante dos black blocs, tática que vem ganhando adeptos no Brasil. Participante dos protestos em São Paulo na última semana, que resultaram na quebra de bancos e concessionárias, Roberto (nome fictício), de 26 anos, falou com a CartaCapital por e-mail sobre as ações. Ele explicou sua insatisfação com partidos, e os motivos que o leva às ruas para depredar símbolos capitalistas. Leia a entrevista abaixo:
CartaCapital: O que o motiva a fazer parte de um black bloc? São insatisfações com o sistema político, com partidos, com o capitalismo e o tipo de democracia que vivemos? Ou são outras razões mais específicas?
Roberto: O Black Bloc foi uma estratégia nascida em seio anarquista. Portanto, o que nos motiva é uma insatisfação com o sistema político e econômico em que vivemos. Para mim, as duas coisas são indissociáveis e têm problemas com raízes muito mais profundas do que partido X ou partido Y.
CC: De quantos protestos já participou, fazendo black bloc? Qual o primeiro?
Roberto: Fazendo Black Bloc, já foram três protestos. O primeiro foi o ato pela democratização da mídia, do dia 11 de julho. Mas antes já tinha participado de outras ações diretas, sem necessariamente a identificação com o Black Bloc. Por exemplo, os dois últimos atos pela redução da tarifa do transporte público, com a ação de queimar bandeiras do Brasil.
CC: Por que decidiu ir aos protestos e fazer parte do Black Bloc?
Roberto: Decidi ir porque considero a ação direta uma estratégia tão importante quanto a não-direta. Nossa sociedade vive permeada por símbolos, e saber usa-los é essencial em qualquer demanda, seja ela política ou cultural. Participar de um Black Bloc é fazer uso desses símbolos para quebrar pré-conceitos e condicionamentos. Não só do alvo atacado, mas até da própria ideia de vandalismo.
A sociedade tende a considerar a depredação como algo “errado” por natureza. Mas se nós sabemos e admitimos que os alvos atacados, em sua maioria agências bancárias até o momento, não foram realmente prejudicados – ou seja, os danos financeiros são irrisórios – qual é o real dano de uma estratégia Black Bloc? Por que deveria ser considerada errada a priori?
Não há violência no Black Bloc. Há performance.
CC: Não tem medo de ser preso ou de ser violentado pela polícia? Como lida com isso?
Roberto: Claro que tenho medo. Que ótimo que eu tenho medo. Existe o medo que paralisa e existe o medo que impulsiona. Lidamos com nosso medo nos organizando melhor, planejando nossas ações e debatendo cada estratégia.
Lidamos com nosso medo não sendo pegos.
CC: Você não se sente representado pelos movimentos sociais ou partidos? Por quê?
Roberto: Sinto-me “representado” por diversos coletivos ligados a movimentos sociais, como o MPL (Movimento Passe Livre), o DAR (Desentorpecendo A Razão), o CMI (Centro de Mídia Independente), a Marcha das Vadias etc. Existem outros que apoio fortemente, apesar de não poder dizer que me sinto representado porque isso seria hipocrisia: não é o meu perfil que eles querem (e devem) representar. Como exemplo, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto).
Não me sinto representado por nenhum partido político. Veja que a conotação de “representação” aqui é outra. Não me sinto representado por partidos porque não sou a favor de uma democracia representativa, mas sim de uma democracia direta. A forma como os partidos políticos estão configurados atualmente serve apenas dentro da lógica da democracia representativa.
CC: Você lê/estuda sobre anarquismo? Acha importante esse debate no contexto dos black blocs?
Roberto: Sim, estudo tanto autores clássicos quanto os mais recentes. Acho esse debate importantíssimo. Veja, a estratégia Black Bloc é uma estratégia performática antes de tudo. E com alto valor simbólico. Não se trata de depredar pelo simples prazer ou alegria de quebrar ou pichar coisas. Trata-se de atacar o símbolo que existe representado naquele local ou objeto físico. A formação política ajuda a manter esse foco bem-definido. Ajuda a pensarmos quais são os alvos que valem a pena e quais são os que se tornariam puro ataque gratuito.
Além disso, debater teoria política também nos permite reconhecer quem é mais afinado com suas ideias e maneira de pensar, dando oportunidade para outras estratégias, Black Bloc ou não. Todo debate vale a pena, ele cria desdobramentos.
CC: A imprensa vem tentando fazer uma diferenciação entre manifestantes pacíficos e violentos. O que acha dessa tentativa de dividir em duas categorias os que estão nos protestos?
Roberto: Acho ridículo. Primeiro porque essa diferenciação não é fixa. Existem manifestantes, muitos aliás, que transitam entre os ditos “pacíficos” e os “violentos” dependendo das estratégias, do ato, do grupo de afinidade e da situação. Usar de ações direta não é uma invalidação de outras estratégias. Todas são válidas, e é essa multiplicidade que nos confere força.
E segundo porque a noção de “Violência” é completamente deturpada. As ações de vandalismo e depredação não podem ser consideradas violentes simplesmente porque não são ataques contra pessoas, mas sim contra coisas. A palavra “violência” carrega uma ideologia de discurso preconceituosa e irracional e é usada para desqualificar as ações diretas a priori.
CC: Os movimentos sociais e partidos de esquerda costumam tentar o diálogo por vias institucionais. A ação direta nas ruas pode trazer mais mudanças que esses processos? Por quê?
Roberto: As ações diretas não invalidam o diálogo por vias institucionais. Quando atacamos uma agência bancária, por exemplo, não somos loucos ou ingênuos de acreditar que estamos ajudando a falir um banco. Mas nós estamos sim ajudando a tornar evidente o clima de instabilidade política e a insanidade da nossa sociedade capitalista.
As táticas Black Bloc são uma demonstração do poder que já existe nas mãos da população, e esse poder é normalmente desconsiderado pela simples existência das chamadas “vias institucionais”. Quando atuamos com ação direta, queremos também chamar atenção a isso, a essa multiplicidade de caminhos para atender as reivindicações sociais e à ineficiência de se utilizar apenas um, especialmente um que é viciado pelo próprio sistema onde está inserido. Queremos demonstrar que política também se faz com as próprias mãos.
Não queremos afirmar que as ações diretas nas ruas podem trazer mais mudanças que esses processos, mas sim que as ações diretas nas ruas podem trazer mudanças A esses processos. É mais pressão, mais autonomia.
CC: Quais você acha que devem ser os alvos de ações diretas e por quê?
Roberto: Bancos e outras instituições financeiras por simbolizarem o capital; algumas sedes administrativas do poder público, por simbolizarem o Estado; alguns monumentos públicos (a idolatria aos bandeirantes é fascismo histórico e valorização do genocídio, por exemplo); relógios públicos (são suporte para a publicidade e simbolizam a escravidão pelo tempo); concessionárias, por incentivarem nosso modelo falido de transporte e vida em sociedade.
 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

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