terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O sobrevivente

O Sobrevivente de Carlos Drummond de Andrade
"Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito para atingirmos um nível razoável de cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.
Os homens não melhoram e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.
(Desconfio que escrevi um poema.)"

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O outro lado da crise, querem lucrar com ela

Tal como disseram os estudantes italianos, que esta crise não pagariam. Os trabalhadores brasileiros começam seu movimento. A crise é sempre uma oportunidade de os patrões rebaixarem salários, dobrarem a carga de trabalho dos que ficam empregados que absorvem o trabalho dos demitidos.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Para não dizer que não falei de flores



Talvez perca se desejares minha subisistência

Talvez venda minhas roupas e meu colchão

Talvez trabalhe na pedreira... como carregador... ou varredor

Talvez procure grãos no esterco

Talvez fique nu e famintoMas não me venderei

Ó inimigo do sol

E até a última pulsação de minhas veias

Resistirei

Talvez me despojes da última polegada da minha terra

Talvez aprisiones minha juventude

Talvez me roubes a herança de meus antepassados

Móveis... utensílios e jarras

Talvez queimes meus poemas e meus livros

Talvez atires meu corpo aos cães

Talvez levantes espantos de terror sobre nossa aldeia

Mas não me vendereiÓ inimigo do sol

E até a última pulsação de minhas veias

Resistirei

Talvez apagues todas as luzes de minha noite

Talvez me prives da ternura de minha mãe

Talvez falsifiques minha história

Talvez ponhas máscaras para enganar meus amigos

Talvez levantes muralhas e muralhas ao meu redor

Talvez me crucifiques um dia diante de espetáculos indignos

Mas não me vendereiÓ inimigo do solE até a última pulsação de minhas veias

ResistireiÓ inimigo do sol

O porto transborda de beleza... e de signosBotes e alegrias

Clamores e manifestações

Os cantos patrióticos arrebentam as gargantas

E no horizonte... há velasQue desafiam o vento... a tempestade e franqueiam os obstáculos

É o regresso de Ulisses

Do mar das privações

O regresso do sol... de meu povo exilado

E para seus olhos

Ó inimigo do sol

Juro que não me venderei

E até a última pulsação de minhas veias

Resistirei Resistirei Resistirei


Samih Al-Qassin, in Poesia Palestina de Combate