quinta-feira, 12 de julho de 2007

Miguelin de Guimarães Rosa

Miguelin era um menininho muito sensível, que morava num lugar nos confins de Minas na região das Matas Gerais, cuja família vivia uma vida dura na roça e cuidando do gado. Era um lugar de mata fechada. Lá onde moravam, ninguém compreendia muito bem o que se passava no mundo, não sabiam explicar muito bem nem as evidências nem os mistérios.
Miguelin entendia menos das coisas que todos os outros. Seu irmão Dito, mais esperto que ele, o protegia de quem lhe fazia mal, do rancor do pai, do mutismo e inconformismo da mãe que não gostava daquele fim de mundo e talvez, nem do marido.
Dito era o ídolo de Miguelin, traduzia pra ele os fatos, dava-lhe lições sobre o bem e como sobreviver sem compreender. Mas um dia Dito morre, assim como o pai de Miguelin assassinado pelo próprio irmão, amante da mãe de Miguelin.
Miguelin cai doente, desorientado e desgostoso com o seu destino. Depois disso, por viver meio tonto pelos lugares, colocaram o Miguelin pra trabalhar. Porém ele não rendia nada, não fazia nada direito, vivia tropeçando nas coisas e se machucando. Se confirmava a hipótese que ele era meio lerdo da cabeça...
Um dia, ele estava no portão da fazenda e viu longe o vulto de dois homens se aproximando. Quando se chegaram perto, Miguelin notou que eram de fora, bem vestidos de terno branco. O homem perguntou-lhe o nome e ele respondeu, sou Miguelin irmão do Dito. O homem e tornou a perguntar – “esta fazenda é do Dito? ‑ Miguelin respondeu que Dito estava no céu e que a fazenda era do seu pai, que também havia morrido. O homem apeou e notou que o menino forçava a vista para encará-lo, tirou os óculos e colocou em Miguelin...
E Miguelin primeiro viu cada grãozinho de areia, as formigas, levantou a vista viu as folhas, as flores, os galhos, o céu e que o homem não era dois, mas um só. Mais longe viu a casa, chegou perto da mãe e viu o quanto ela era bonita....
Miguelin não era lerdo da cabeça, apenas não enxergava muito bem...Era na verdade um menino que compreendia com coração e o narrador da história.
O homem resolve levá-lo para a cidade a fim de lhe fazer os óculos e ver o mar. Antes de ir, Miguelin pergunta para mãe, uma pergunta fundamental da vida:
“Mãe, por que tudo acontece?”

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Disposição propriamente dita...



De novo Manuel Gausa diz que entende disposições como dinâmicas de distribuição e ou de ocupação que, apesar da aparente impressão de desordem ou arbitrariedade que transmitem, possuem, como outras formas auto geradas existentes na natureza, lógicas próprias (não pré determinadas) ajustadas a regras de formação e "concertação" elementares.

Estas configurações retemetem a processos que manifestam uma "natureza" dispersa e flutuante, mediante concentrações pontuais e dilatações... Podem ser processos ou movimentos de ocupação, apropriação, agrupamento, espaçamento, expressam dinâmicas de oportunidade táticas, variáveis, flutuantes...


Manuel Gausa em Enredados. Revista Fisura. Madrid. setembro de 2001