terça-feira, 26 de setembro de 2006

Matéria se desinformando da parede



Nas artes experimentais contemporâneas
“Forjar e modelar pressupõe, como vimos, um material a ser moldado. O que a arte experimental moderna e pós-moderna, entretanto, fazem em grande parte não é tanto moldar a matéria, mas exibi-la. A tinta, o timbre, a tonalidade estão livres da subserviência de retratar algo, de serem constituintes do compasso, do ritmo, da melodia, em vez disso, tornam-se o próprio processo de apresentação. A matéria não é forjada, mas apresentada por aquilo que ela é. Ainda assim, tal apresentação requer alguma sutentação, cujas formas aparecem num estado neutralizado. A ‘matéria’, escreve Lyotard, ‘é precisamente considerada como algo que não está finalizado, que não é proponente de algo ou designado para algo. Não é mais tomada como um material cuja função seria preencher uma forma ou permitir-lhe realizar. A matéria nesse contexto seria essencialmente o que não está endereçado, o que não se endereça à mente (aquilo que de modo algum participa numa pragmática da destinação comunicacional e teleológica)’. A matéria como sujet é tornada tangível até o grau no qual a forma de sua apresentação cancela a si mesma. Essa reversão tem duas implicações importantes. O que era antes estrutura tradicional da obra de arte, a saber, dar forma à matéria foi herdado pela estética tal como funciona no mundo contemporâneo. A proeminência dada à matéria na arte moderna atesta o relacionamento dos dois componentes do estético, que molda e exibe a matéria através do cancelamento da forma. (...) Embora as artes experimentais tenham se tornado marginais, o estético faz um retorno triunfante porque, num mundo cada vez mais desorientado, somente ele pode comunicar ou enfrentar uma realidade de finalidade aberta”.
Fragmento de texto de WOLFGANG Iser. O ressurgimento da estética In ROSENFIELD, Denis L. Ética e Estética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 48.